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ELEIÇÃO 2002
Nove candidatos a deputado distrital em Brasília afirmam que dirigente local cobrava de R$ 700 a R$ 3.000
Filiados ao Prona acusam venda de vagas
ANDRÉA MICHAEL
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em documento datado de 11 de
novembro de 2002, candidatos à
Câmara Legislativa do Distrito
Federal pelo Prona (Partido da
Reedificação da Ordem Nacional)
informaram ao presidente da legenda, deputado federal Enéas
Ferreira Carneiro (SP), que para
disputarem uma vaga de deputado distrital no ano passado pagaram de R$ 700 a R$ 3.000.
O dinheiro seria entregue, segundo o documento, ao presidente do Prona no Distrito Federal,
Francisco Mota Cruvinel, que,
com 5.066 votos, foi o mais bem
votado dos 23 candidatos que o
partido apresentou à Câmara Legislativa. Em coligação com PTB,
PSDC e PT do B, na chamada
Aliança Trabalhista, ele conseguiu a quarta suplência do deputado distrital Benício Tavares
(PTB), que preside a Casa. Sem ter
obtido um mandato efetivo, Cruvinel despacha no Palácio Buritis,
como assessor especial do governador Joaquim Roriz (PMDB).
Dos 23 candidatos a deputado
distrital pelo Prona, nove assinam
o documento encaminhado ao
presidente nacional da legenda.
Ouvidos pela Folha, pelo menos
dois confirmaram ter pago para
entrar na disputa eleitoral com o
carimbo do partido comandado
pelo deputado federal mais votado de São Paulo, Enéas Carneiro,
que se projetou nacionalmente ao
disputar a Presidência da República em 1989. Com apenas 60 segundos do programa eleitoral na
TV, ele cunhou a frase "meu nome é Enéas", com um discurso
em defesa da moralidade. Em
2002, Enéas foi eleito deputado federal com 1,57 milhão de votos.
A Executiva Nacional do Prona,
reunida no Rio de Janeiro, em 5
de abril deste ano, decidiu dissolver a Comissão Diretora Regional
Provisória, que comandara a legenda no Distrito Federal desde
20 de novembro de 2001. A ata da
reunião, entretanto, não menciona o motivo da decisão.
O artigo 67 do estatuto do partido confere essa prerrogativa à
Executiva Nacional, em caso da
violação dessas normas, da ética
partidária, de indisciplina e de
"desrespeito a qualquer deliberação regularmente tomada pelos
órgãos superiores do partido".
O diretório do Distrito Federal
não apresentou sua prestação de
contas regular referente a 2002.
Nem a da eleição. Carta manuscrita, assinada por Enéas e datada
de 9 de abril, encaminha a decisão
da Executiva ao Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal.
Ainda segundo o documento,
"houve apropriação indébita de
recursos destinados a candidatos
retidos pela presidência [no Distrito Federal, ocupada por Cruvinel], causando sérios prejuízos
aos seus reais titulares".
O candidato a deputado distrital
pelo Prona José Pereira Silva, o
Zezinho, servidor público de 39
anos que mora na cidade-satélite
de Samambaia, contou o que teria
feito para entrar na corrida eleitoral: pagamento de R$ 380 em dinheiro e mais um cheque sem
fundos de R$ 920; como não houve compensação, teve confiscados, nas três últimas semanas da
eleição, o pagamento do vale-combustível (R$ 495).
"Eu dei o cheque sabendo que
isso era irregular. Mas foi a única
forma de registrar minha candidatura. Até a convenção do partido [em junho de 2002], como eu
não tinha pago, não era candidato", disse Zezinho.
Também candidato a deputado
distrital, Heitor Arantes entrou na
segunda disputa eleitoral pelo
Prona. Em 1998, disse ter sido
obrigado a comprar 300 cartilhas
do partido por R$ 10 cada.
No ano passado, o dinheiro não
teve, segundo seu relato, uma
contrapartida material.
Matemático de 50 anos, morador da cidade-satélite de Santa
Maria, Arantes afirma não se lembrar exatamente de quanto pagou. Seu cheque, devolvido e agora na carteira de uma empresa de
cobrança, representaria hoje uma
dívida de R$ 3.000.
"Eu vou continuar no Prona até
não me cobrarem mais dinheiro
para concorrer", diz. Em outubro
de 1997, a Folha revelou que um
dirigente do Prona em São Paulo
ofereceu sua legenda para candidatos a deputado estadual em São
Paulo por R$ 7.000. Na época,
Enéas declarou que não via irregularidade na cobrança.
No ano passado, a vereadora
Havanir Nimtz (Prona), que presidia o Prona no Estado, foi acusada de ter cobrado R$ 5.000 em
troca de uma vaga de candidato a
deputado estadual.
A vereadora classificou a acusação de inverídica.
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