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JANIO DE FREITAS
A degradação
A disputa entre Marta Suplicy e José Serra ainda
permite, no atual estágio, apostas em um ou no outro candidato, havendo pela frente duas semanas de propaganda gratuita,
além da muito bem paga, e os
imprevistos possíveis. Mas uma
perda, agigantada pela disputa
paulistana, já está estabelecida:
a desmoralização política da
cúpula do governo e do PT vai
custar caro a ambos, com os inevitáveis reflexos pessoais.
A impressão de competência,
deixada pelo êxito na eleição
presidencial, foi substituída pela
certeza de incompetência compacta, deixada pelas mancadas
primárias em Fortaleza, Rio,
Salvador e várias cidades interioranas que o PT dominava
absoluto, de que são exemplos
eloquentes Campinas e a Ribeirão Preto do ex-prefeito Antonio Palocci. Os craques do comando palaciano e petista mostram-se peladeiros, com vitórias
marcantes só onde o PT não podia perder em razão de condições pessoais e excepcionais do
seu candidato (Marcelo Déda
em Aracaju e Fernando Pimentel em Belo Horizonte, por
exemplo).
A desmistificação política é,
porém, o menos grave dos resultados produzidos pela cúpula do
governo e do PT. Seu desenrolar
acompanha-se de uma exibição
de despudor como não se vira
assim tão concentrado. Dois
episódios ficam, para sempre,
como sínteses da série de exibições.
Um, que ao se consumar já
não era novidade, é o enlace das
grandes expressões petistas com
Paulo Maluf. Não importam as
graves acusações ora feitas a
Maluf. Uma parte qualquer do
que se passou entre o PT e Maluf, entre os petistas e Maluf, entre Lula e Maluf é suficiente para definir a imoralidade do
pacto de conveniência que agora fazem.
O segundo episódio é a ida de
Lula a jantar na casa do deputado Roberto Jefferson, para
consolidar com um toque familiar a aliança PT-PTB. Se Lula
esqueceu, a memória coletiva
guarda as cenas sórdidas nos
dias finais da sua disputa com
Collor. Lula esqueceu de tudo o
que foi feito a ele e, não menos,
aos seus esperançosos eleitores,
esqueceu o que feito até a sua filha? Onde estava então o seu
anfitrião de agora? Estava, é impossível que Lula esquecesse, ao
lado de Collor, o Roberto Jefferson que logo viria a ser chefe da
chamada "tropa de choque de
Collor". A política admite concessões, mas não desobriga da
dignidade.
Os modificados
"Dezessete dias depois de dizer
que não o faria", como demarcaram na Folha Marta Salomon
e André Soliani, Lula emitiu
medida provisória liberando o
cultivo de soja transgênica. Com
isso, deu proteção aos responsáveis pelo plantio já feito no Rio
Grande do Sul e no Mato Grosso
do Sul, em milhares de hectares
de grandes participantes do
agronegócio. E, da mesma maneira, com a MP Lula inocentou
inúmeros contrabandistas, que
trouxeram e trazem ilegalmente, da Argentina, as sementes
transgênicas.
Combativa adversária da soja
transgênica, durante anos em que
não estava no governo, a ministra
Marina Silva deu aval à MP com
um argumento original: a autorização para o plantio legalmente
proibido foi dada porque Lula
"estava premido pelas circunstâncias" do plantio ilegal. A ministra, nesse caso, deve pedir a liberação do plantio de maconha,
feito em larga escala pelo Brasil
afora, e das tentativas de plantio
de coca na Amazônia.
A soja geneticamente modificada está liberada por pessoas eticamente modificadas.
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