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JANIO DE FREITAS
Os patronos
Quem ficou impressionado
com a conclusão do IBGE
de que "em 20 anos 600 mil pessoas foram assassinadas", no
Brasil, em geral não se deu conta de que o número brutal já está muito superado. A estatística
do IBGE não inclui os últimos
quatro anos, decorridos desde o
censo de 2000, e o número de assassinados tem crescido a cada
ano, muito acima da média de
30 mil anuais verificada entre
1980 e 2000. Mas, sobretudo, em
geral não se deu conta, em boa
parte por culpa da mídia, de
uma relevância implícita na estatística: o crescimento da criminalidade tem patronos.
Dos 598.367 assassinados nos
20 anos medidos, 370.988 (ou
62%) o foram na década de 90.
Nesses anos, portanto, a média
anual já chegava a 37.099. Não
por coincidência, a segunda metade da década foi dominada
pela política econômica de geração de desemprego, entrada da
classe média baixa na zona da
pobreza, falta de investimento
governamental para impulsionar a atividade produtiva, enfim, de destinação do país à
sempre maior lucratividade do
setor financeiro nacional e estrangeiro.
São Paulo é uma demonstração penosa do que ocorre no
Brasil. No período considerado
pelo IBGE, o número de assassinatos em São Paulo, entre homens de 15 a 24 anos, aumentou
163%: passou de 44 para 115 em
cada 100 mil paulistanos. No Estado do Rio, o aumento foi de
46%, mas porque o ponto de
partida já era alto, de 124 por
100 mil, e a economia mais frágil do estado o sujeitara mais cedo à desagregação social. Ao
passo que a forte capacidade
econômica permitiu a São Paulo resistir melhor e por muito
mais tempo à combinação de
fatores da criminalidade, até
que a derrocada inevitável chegou acelerada e impiedosa.
Não houvesse mais motivos
para considerar anti-social a
polícia econômica do governo
Lula, já seria justo fazê-lo por
um só motivo: a objeção do Ministério da Fazenda e do Tesouro Nacional à melhoria dos sistemas de combate à criminalidade urbana, inclusive à quantidade e qualidade do sistema
penitenciário. Não foi por outro
motivo que, na quarta-feira, os
secretários estaduais de Segurança reuniram-se em Brasília
para clamar contra a retenção
dos repasses de verbas federais.
O caso do Rio, exemplar em criminalidade, por isso mesmo é
exemplar da contraface dessa
criminalidade, aí por parte do
governo Lula.
Há mais de um ano, Lula se
comprometeu a dar pronta colaboração ao esforço do governo
fluminense - negado pela mídia carioca, mas verdadeiro e
comprovável na grande melhoria material e operacional do
dispositivo de polícia. Haveria,
de início, o repasse de R$ 40 milhões. A rigor, R$ 38 milhões. O
Tesouro Nacional não liberou a
verba, porém. Duas perguntas:
quer dizer que o governo federal
não libera verbas para combater o uso criminoso de armas
contrabandeadas, por falta de
ação do governo federal, porque
o governo federal atrasou o pagamento de juros? Afinal de
contas, o governo federal - este
como o anterior, que criou tal
prática - tem na direção econômica pessoas responsáveis ou
agiotas obcecados com juros?
O Tribunal de Contas da
União, acionado pelo governo
fluminense, confirmou que a
verba devia ser liberada. Foi?
Dos R$ 38 milhões conveniados,
o Estado do Rio recebeu apenas
R$ 16 milhões, menos da metade. Com a crise na Rocinha, era
claro que o descumprimento do
governo seria citado, logo, foi incluída às pressas no sistema de
contas federais a liberação de
R$ 9 milhões dos R$ 22 milhões
retidos. Outra vez, menos da
metade. E, para os padrões da
Fazenda de Antonio Palocci e
do tesoureiro Joaquim Levy, até
que foi muito: dos R$ 19 milhões
esperados desde o ano passado
para ampliação de cinco presídios e construções de outro, o Estado do Rio recebeu R$ 478 mil.
Alguns estados, como Mato
Grosso, Espírito Santo, Alagoas,
apresentam crescimento muito
alto da criminalidade. Diante
desse quadro nacional, assim se
explica a impaciência dos secretários estaduais de segurança:
os R$ 150 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública de
2003, por exemplo, ainda não
foram repassados e, quando o
forem, o serão parceladamente.
As verbas são retidas pela preferência do governo por pagar
mais e maiores juros do que
cumprir o dever constitucional
na ação contra a insegurança
pública.
A criminalidade tem, entre
outros, o patrocínio da política
econômica posta em prática por
Fernando Henrique Cardoso e
Pedro Malan em 95, e mantida,
com imoral agravamento, no
governo Lula.
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