|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CAMPO MINADO
MST lidera ranking com 63% das 278 invasões ocorridas no país entre janeiro de 2003 a março deste ano
51 grupos dividem ações por terra no país
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Balanços oficiais de conflitos
fundiários indicam a existência de
51 grupos de trabalhadores rurais
atuantes no país. Tal descentralização em siglas, porém, não se reflete nas ações. Das 278 invasões
de terra ocorridas entre janeiro de
2003 e março de 2004, 176 (63%
dos casos) tiveram o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra) como responsável.
O movimento, criado há 20
anos e que atualmente lidera uma
onda de invasões no país, o chamado "abril vermelho", não tem
ninguém que o ameace no ranking de ações no campo. "O Brasil
é muito grande e existe espaço para outros movimentos. Um único
não atenderia à demanda", disse
Ademar Bogo, 46, um dos principais ideólogo do MST ao lado de
João Pedro Stedile, 50.
Atrás do MST, com 35 invasões,
aparece a OLC (Organização de
Luta no Campo), com atuações
restritas apenas a Pernambuco.
Organizado em janeiro de 2003,
o grupo surgiu de uma dissidência da seção pernambucana da
Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), entidade sindical que centraliza suas
atenções em programas de crédito fundiário e negociações em torno da agricultura familiar.
O coordenador e fundador da
OLC, João Santos da Silva, 43, diz
que sua "luta se espelha" na de seu
pai, antigo sindicalista, e no argentino e líder da Revolução Cubana Ernesto Che Guevara.
A OLC, segundo ele, consegue
atrair os trabalhadores rurais sem
terra por causa de sua "credibilidade". "Não depredamos propriedades nem ateamos fogo nas
benfeitorias. Essa é a diferença."
Atrás da OLC no ranking das invasões está a Contag, com suas federações. Sob o governo Lula, organizou 26 invasões, de acordo
com balanços da Ouvidoria Agrária Nacional, órgão do Ministério
do Desenvolvimento Agrário.
Os 51 grupos vinculados à disputa fundiária no país estão divididos entre movimentos, sindicatos e ramificações da Igreja Católica. Até os braços agrários da
CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Força Sindical aparecem na lista do governo federal.
Para o mestre em geografia Carlos Alberto Feliciano (USP), as
"diversidades" explicam as "dissidências" e "contradições" no
campo. "Existem posseiros, pequenos agricultores, trabalhadores rurais assalariados, atingidos
por barragens e os movimentos
sem-terra." Para a ouvidora agrária nacional substituta, Maria de
Oliveira, 52, quando o assunto é
radicalismo nas invasões, "nem
sempre o tamanho da organização faz a diferença". "Alguns
[grupos] se organizam em poucos
Estados, mas estão em nossa lista
de principais preocupações."
As maiores dores de cabeça para a ouvidoria, segundo ela, aparecem quando ocorre uma dissidência nos movimentos. "Quem
fica já está organizado e com suas
características conhecidas. Mas os
dissidentes vêm para radicalizar."
A ouvidora, que percorre o país
apagando incêndios entre fazendeiros e sem-terra, cita casos peculiares de pequenos movimentos: "Um dos mais radicais é o
MCC [Movimento de Camponeses de Corumbiara, organizado
em Minas Gerais e Rondônia].
Até 1998 eles negociavam com o
governo encapuzados. Mais recentemente criaram outro movimento dentro deles, que é a LCP
[Liga dos Camponeses Pobres]. A
tática deles é um radicalizar e o
outro negociar".
Na mesma linha, segundo Maria de Oliveira, há a LOC (Liga
Operária Camponesa), também
organizada em Minas e Rondônia. "Eles não querem nem saber
da conjuntura política do país.
Não querem saber de Lula, de
ninguém. As conversas têm de ser
específicas sobre a situação local."
No oposto, um movimento que
a ouvidora elogia, está o MLST
(Movimento de Libertação dos
Sem Terra). "A luta deles está baseada em projetos pela sustentabilidade e a viabilidade dos assentamentos. Estão voltados para a
produção, o que tem trazido excelentes resultados no Nordeste."
Texto Anterior: "Primeiro ano foi um sucesso", diz diretor Próximo Texto: Sem-terra x sem-terra: Grupos disputam área e trocam acusações Índice
|