São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAMPO MINADO

MST lidera ranking com 63% das 278 invasões ocorridas no país entre janeiro de 2003 a março deste ano

51 grupos dividem ações por terra no país

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Balanços oficiais de conflitos fundiários indicam a existência de 51 grupos de trabalhadores rurais atuantes no país. Tal descentralização em siglas, porém, não se reflete nas ações. Das 278 invasões de terra ocorridas entre janeiro de 2003 e março de 2004, 176 (63% dos casos) tiveram o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) como responsável.
O movimento, criado há 20 anos e que atualmente lidera uma onda de invasões no país, o chamado "abril vermelho", não tem ninguém que o ameace no ranking de ações no campo. "O Brasil é muito grande e existe espaço para outros movimentos. Um único não atenderia à demanda", disse Ademar Bogo, 46, um dos principais ideólogo do MST ao lado de João Pedro Stedile, 50.
Atrás do MST, com 35 invasões, aparece a OLC (Organização de Luta no Campo), com atuações restritas apenas a Pernambuco.
Organizado em janeiro de 2003, o grupo surgiu de uma dissidência da seção pernambucana da Contag (Confederação dos Trabalhadores na Agricultura), entidade sindical que centraliza suas atenções em programas de crédito fundiário e negociações em torno da agricultura familiar.
O coordenador e fundador da OLC, João Santos da Silva, 43, diz que sua "luta se espelha" na de seu pai, antigo sindicalista, e no argentino e líder da Revolução Cubana Ernesto Che Guevara.
A OLC, segundo ele, consegue atrair os trabalhadores rurais sem terra por causa de sua "credibilidade". "Não depredamos propriedades nem ateamos fogo nas benfeitorias. Essa é a diferença."
Atrás da OLC no ranking das invasões está a Contag, com suas federações. Sob o governo Lula, organizou 26 invasões, de acordo com balanços da Ouvidoria Agrária Nacional, órgão do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Os 51 grupos vinculados à disputa fundiária no país estão divididos entre movimentos, sindicatos e ramificações da Igreja Católica. Até os braços agrários da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e da Força Sindical aparecem na lista do governo federal.
Para o mestre em geografia Carlos Alberto Feliciano (USP), as "diversidades" explicam as "dissidências" e "contradições" no campo. "Existem posseiros, pequenos agricultores, trabalhadores rurais assalariados, atingidos por barragens e os movimentos sem-terra." Para a ouvidora agrária nacional substituta, Maria de Oliveira, 52, quando o assunto é radicalismo nas invasões, "nem sempre o tamanho da organização faz a diferença". "Alguns [grupos] se organizam em poucos Estados, mas estão em nossa lista de principais preocupações."
As maiores dores de cabeça para a ouvidoria, segundo ela, aparecem quando ocorre uma dissidência nos movimentos. "Quem fica já está organizado e com suas características conhecidas. Mas os dissidentes vêm para radicalizar."
A ouvidora, que percorre o país apagando incêndios entre fazendeiros e sem-terra, cita casos peculiares de pequenos movimentos: "Um dos mais radicais é o MCC [Movimento de Camponeses de Corumbiara, organizado em Minas Gerais e Rondônia]. Até 1998 eles negociavam com o governo encapuzados. Mais recentemente criaram outro movimento dentro deles, que é a LCP [Liga dos Camponeses Pobres]. A tática deles é um radicalizar e o outro negociar".
Na mesma linha, segundo Maria de Oliveira, há a LOC (Liga Operária Camponesa), também organizada em Minas e Rondônia. "Eles não querem nem saber da conjuntura política do país. Não querem saber de Lula, de ninguém. As conversas têm de ser específicas sobre a situação local."
No oposto, um movimento que a ouvidora elogia, está o MLST (Movimento de Libertação dos Sem Terra). "A luta deles está baseada em projetos pela sustentabilidade e a viabilidade dos assentamentos. Estão voltados para a produção, o que tem trazido excelentes resultados no Nordeste."


Texto Anterior: "Primeiro ano foi um sucesso", diz diretor
Próximo Texto: Sem-terra x sem-terra: Grupos disputam área e trocam acusações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.