São Paulo, domingo, 18 de abril de 2004

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Bispo apóia ocupação e fazendeiro o critica

DA ENVIADA ESPECIAL A UBERLÂNDIA

O bispo de Uberlândia, dom José Alberto Moura, diz que apóia a ocupação de fazendas improdutivas pelos sem-terra e que apregoa a não-violência e o respeito aos mais necessitados.
A APR (Animação Pastoral Rural) é o braço da Igreja Católica de apoio aos sem-terra e sem-teto no Triângulo Mineiro. O bispo confirma que há membros da Pastoral Operária no grupo de acampados da fazenda Tangará que estão em conflito com o MTL, mas diz que eles agiram por conta própria, e não por orientação da igreja: ""A Pastoral Rural dá assistência aos assentados, inclusive na defesa judicial, mas não se confunde com os movimentos. Ela age para minimizar os conflitos".
O bispo avalia que a situação agrária no Triângulo Mineiro é preocupante: "Temos forte peso do poder econômico e dos grandes proprietários, que defendem sua posição com unhas e dentes", afirmou.
Em 1999, o bispo denunciou duas entidades de produtores rurais -UPDR (União de Defesa da Propriedade Rural) e MNP (Movimento Nacional dos Produtores)- por atos de violência contra sem-terras e contra membros da igreja. Com isto, ele atraiu para si a ira de grandes fazendeiros.
O presidente da UPDR , Eduardo Souza, acusa a Pastoral Rural de "inflamar" os sem-terra. Segundo ele, não há diálogo entre a igreja e a entidade, que reúne cerca de 100 fazendeiros do município de Ituiutaba.
O Ministério Público de Minas Gerais pediu a extinção da UDPR, alegando que a entidade estimula milícias armadas. Eduardo Souza disse que soube informalmente do pedido, mas que não foi notificado pela Justiça. Ele nega a existência de milícias armadas na região.
O presidente do Sindicato Rural de Uberlândia, Paulo Roberto Cunha, diz que o clima de tensão já foi maior no Triângulo Mineiro e que a opinião pública está mais favorável aos fazendeiros.
Depois de dizer que ignora a igreja, ele usa a ironia para criticar a atuação de dom Alberto Moura. "Os padres deveriam ir todos para o confessionário pedir perdão a Deus pelo que estão fazendo com os produtores rurais, que fizeram as igrejas do Brasil", afirmou.
Segundo Paulo Cunha, existem 2.500 propriedades rurais no município de Uberlândia, sendo 120 acima de 500 hectares. Acima de 5 mil hectares, seriam apenas três propriedades. De acordo com Cunha, a diversidade de facções de sem-terra é boa para os proprietários rurais porque enfraqueceria o movimento.


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