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FIM DO SILÊNCIO
Ciro pede mudanças na política econômica
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) saiu ontem mais
uma vez do recente "silêncio" a
que tem se imposto nos últimos
meses e cobrou a adoção de uma
nova política econômica para o
país, além de avaliar que as reformas constitucionais, embora sejam coerentes e caminhem no rumo certo, não chegam a 50% do
que seria o ideal.
"O que eu quero dizer é que o
acerto tático destes passos [austeridade econômica], que é flagrante, não nos deve tirar a percepção
clara de que isso não significa um
acerto estratégico", afirmou Ciro
durante discurso no encontro nacional do seu partido, o PPS, iniciado ontem em Brasília.
Segundo o ministro, o governo
não tinha outra opção econômica
devido a um grande risco de quebra do país durante os primeiros
passos do governo de Luiz Inácio
Lula da Silva.
"O manejo macroeconômico
tático era, digamos assim, o necessário, o possível, o indispensável, dado a situação de caos, de
descalabro e de anarquia em que
se encontrava as finanças brasileiras quando tomou posse o companheiro Lula", afirmou.
Ao fazer a análise, porém, Ciro
emendou declarações que caracterizam um dos pontos de sua
personalidade, a de não deixar de
tocar em pontos polêmicos. "O
que haveria de pior para acontecer no Brasil era, ao vermos os
acertos táticos inequívocos do governo, da gestão do ministro [Antonio] Palocci [Fazenda], que tem
sido de uma grande felicidade na
administração desta bomba que
estava próxima a explodir, é a sensação de que estamos acertamos e
que, portanto, o caminho é este.
Não é."
Desde que assumiu o ministério, Ciro -candidato derrotado à
Presidência- evita dar declarações sobre outras áreas do governo, mas é um dos principais interlocutores do presidente nos assuntos econômicos e de planejamento.
Ele afirmou também que "o que
fizemos foi desarmar a bomba,
ganhar um tempo, salvar o país
do caos que se sequenciaria à ruptura do crédito, isto é muita coisa,
mas não nos deve tirar em nenhum minuto a disciplina de refletirmos sobre um outro modelo
econômico".
O ministro disse que um cenário ideal desse novo modelo econômico deve levar em conta um
crescimento anual do PIB (Produto Interno Bruto) em torno de
5%. Na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias), o governo prevê
um máximo de 4,5% para os próximos anos.
Reformas
Em relação às reformas, Ciro
afirmou que elas estão no caminho certo, mas que não puderam
ser completas devido a uma série
de fatores, incluindo a necessidade de composição política com
uma ampla gama de interesses e à
dificuldade econômica encontrada por Lula em janeiro.
De uma escala até cinco em profundidade, Ciro disse que a reforma da Previdência chega a dois e a
tributária, a um. "Não sendo
aquilo que deveria ser uma reforma definitiva da Previdência, ela
não é contraditória. Em direção a
uma escala de cinco em profundidade, essa reforma vai a dois, mas
o importante é que esses dois não
são incoerentes com o caminho
correto", afirmou.
Já em relação à reforma tributária, o ministro disse que a distância do ideal é mais "dramática", já
que pontos como um sistema tributário mais progressivo, eliminação da informalidade, criação
de base de contribuintes e eliminação da carga tributária sobre a
produção teriam ficado de fora da
proposta.
Segundo Ciro Gomes, "uma reforma tributária verdadeira e profunda teria que consertar a anarquia e o caos no ICMS [o que
aconteceu, na visão do ministro].
Naquela figura de uma reforma
de profundidade cinco, essa, coerentemente com o rumo, é de
profundidade um."
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