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AMAZÔNIA
Casal de policiais federais atua na fronteira com a Colômbia para investigar suposto recrutamento de índios pelas Farc
PF apura sumiço de jovens índios na fronteira
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MELO FRANCO (AM)
Um casal de policiais federais
que atua na fronteira com a Colômbia, na tensa região denominada de Cabeça do Cachorro, no
Amazonas, investiga o desaparecimento de índios tucanos brasileiros, com idades de 11 a 19 anos.
Os índios sumiram de três aldeias fronteiriças -Melo Franco,
Santa Cruz e São Miguel.
A PF trabalha com a hipótese de
que esses índios tenham sido recrutados pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) -no Brasil ou na Colômbia- para atuar do outro lado da fronteira. Outra possibilidade é que eles tenham fugido justamente para não ser recrutados.
Segundo indígenas ouvidos pela Agência Folha, garotos dessa
faixa etária e da mesma etnia, mas
nascidos nas aldeias colombianas
de Los Angeles e Acaricuara, a
apenas 25 km do Brasil, estão sendo recrutados pelas Farc por um
salário de 600 mil pesos colombianos (cerca de R$ 600).
A investigação sobre os sumiços
no lado brasileiro começou há um
mês, quando o mineiro Geraldo
de Castro Neto, 31, e a paulista Estela Cristina Assumpção, 26, chegaram a Melo Franco para trabalhar no recém-criado posto da PF
em Melo Franco, localidade pertencente à cidade de São Gabriel
da Cachoeira (AM).
Formados em engenharia, Castro Neto e Estela se conheceram
há três anos na academia da PF,
em Brasília. Lotados no Amazonas, participaram, separadamente, de investigações sobre o tráfico
de mulheres e narcotráfico.
Foram mandados agora para
Melo Franco, onde o Brasil é dividido da Colômbia apenas por
marcos de 1,5 m feitos em concreto por uma comissão de demarcação em 1975. O posto foi aberto
pela operação Cobra (junção das
sílabas iniciais de Colômbia e Brasil) da PF para proteger os índios,
combater o narcotráfico e evitar a
entrada das Farc no Brasil.
Nas aldeias, os policiais colhem
depoimentos, fotografam os índios um a um e tentam montar
uma árvore genealógica para saber quantos jovens sumiram.
Dos registros iniciais, eles sabem que, em Melo Franco, vivem
22 tucanos, e o adulto mais jovem
tem 35 anos. Em Santa Cruz, a 10
km de Melo Franco, estão 62 índios, sendo 35 crianças na faixa de
6 meses a 10 anos de idade. O restante são adultos, sendo o mais jovem de 23 anos. Os dados de São
Miguel não foram concluídos,
mas há ausência de jovens.
Uma dificuldade na investigação é que os índios negam a existência do problema.
O capitão (como são chamados
os caciques nessa região) de Melo
Franco, Cassimiro Fernandes, 48,
diz que os jovens índios foram estudar em outras localidades, mas
não identifica os nomes deles.
"Os jovens estão estudando em
Santa Cruz, estamos sozinhos
[sem jovens]", afirmou à Agência
Folha, que esteve na região.
Em Santa Cruz, por onde a reportagem passou, não havia jovens estudantes tucanos.
"Só depois da investigação vamos acreditar que os jovens índios estão estudando ou se foram
levados pela guerrilha. Portanto,
eu torço para que seja verdade
[que os índios estão estudando] e
que a gente [PF] tenha chegado
antes das Farc", afirmou Castro
Neto, que chefia o posto de fiscalização da PF em Melo Franco.
Já Estela acredita que os índios
trabalham para as Farc, pela falta
de opções na região. "Eu acho que
existe o recrutamento e eles [os
tucanos] fazem uma tentativa de
[nos] enganar."
Mas o capitão Fernandes demonstra temor pelas Farc. "Os
guerrilheiros nunca apareceram
aqui, só em Acaricuara [na Colômbia]. Eles sempre vão lá, e ficamos com medo. Os aviões [de
guerrilheiros ou narcotraficantes]
passam muito aqui [na aldeia de
Melo Franco], e as mulheres têm
muito medo dos aviões", disse.
No último dia 28, um dia antes
de o ministro Márcio Thomaz
Bastos (Justiça) tentar ir a Melo
Franco inaugurar oficialmente o
posto, uma aeronave não identificada fez sobrevôos rasantes em cima da aldeia de tucanos.
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