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PERSONAGEM
Família sofre abuso, deixa SP, mas retorna
FERNANDA BASSETTE
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Promessa de um salário fixo,
cesta básica e uma vida melhor.
Foi com essa expectativa que
Celestino Alvelino da Silva, 55,
vendeu sua única casa em Arapiraca (AL) e reuniu os oito filhos, dois netos, dois genros,
uma nora e um sobrinho para
tentar uma vida melhor no interior de São Paulo.
Todos iriam trabalhar na colheita de tomates numa fazenda de Monte Mor, na região de
Campinas, com salário de R$
240, cesta básica, aluguel pago e
dois botijões de gás mensais.
Em Arapiraca, só a esposa de
Silva, Carmelita Nunes dos
Santos Silva, 48, trabalhava e
ganhava um salário mínimo.
"Não pensamos duas vezes.
Era uma boa proposta para todo mundo, e apostamos tudo
para começar uma nova vida",
disse Carmelita.
A viagem de 2.458 km, feita
de ônibus, durou três dias. "Estávamos empolgados porque
iríamos trabalhar e, enfim,
construir uma vida decente",
afirmou Maria Claudivânia
Nunes da Silva, 26, filha do casal e mãe de dois filhos, hoje
grávida de cinco meses.
Após o primeiro mês na fazenda que foi arrendada pelo
empresário Cláudio Donizete
Ross Matheus, a família percebeu que as promessas não estavam sendo cumpridas. "Nenhum de nós foi registrado,
não recebemos as cestas básicas e tínhamos de pagar R$ 120
de aluguel em residências coletivas, que tínhamos de dividir
com outros empregados", lembrou José Rodrigo dos Santos
Silva, 19, também filho do casal.
O pagamento do mês foi de
R$ 660, para ser dividido entre
as 16 pessoas -R$ 41 para cada
um. Na lavoura, o banheiro dos
trabalhadores era um buraco
de 60 cm de diâmetro, cavado
no meio da plantação. O empresário os mantinha sem água
potável, vestuários adequados
e equipamentos de segurança e
num alojamento inadequado.
Segundo o procurador do
trabalho de Campinas, Claude
Henri Appy, Matheus manteve, por mais de um ano, a família trabalhando em condições
subumanas, sem registro em
carteira de trabalho e em jornada de trabalho exaustiva.
Por conta das irregularidades, o Ministério Público Federal entrou com ação criminal
na Justiça Federal contra Matheus, por manter trabalhadores em condição análoga à escravidão.
O empresário responde ainda a processo trabalhista -o
primeiro na história da 15ª Região da Procuradoria do Trabalho, responsável por 600 cidades de SP-, por não ter
cumprido o acordo para pagar
os direitos à família, que voltou
para Arapiraca em 2003.
Matheus teve a prisão decretada em março último, mas está foragido.
Mesmo com a decepção em
São Paulo, seis meses depois da
volta para Arapiraca, a família
Silva decidiu retornar para a região de Campinas. Com exceção de José Rodrigo, que colhe
mandioca e recebe R$ 10 por
dia, todos os outros continuam
desempregados.
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