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JANIO DE FREITAS
Os passinhos adiante
Os otimistas, mais para o seu
bem interior que para o
bem alheio, dizem que há sempre uma esperança. Cético, mas
não pessimista, por um momento suponho que Lula deu motivo
para estarmos, todos, com os otimistas e sua legenda. Disse ele,
em uma das inesgotáveis falações da semana:
"A única coisa que não quero
perder, e sei que daqui a dois
anos e meio termina o meu
mandato, é o direito de encontrar vocês e dizer: não sou mais
presidente, mas continuo com os
meus amigos de sempre, lutando
para este país melhorar".
Por uma ou por outra, vai dar
em esperança: ou porque Lula
promete voltar, um dia, à luta
pela melhoria do país, o que
pressupõe não continuar aliado
apenas da parte mais favorecida
da sociedade; ou porque, estendido o seu olhar para daqui a
dois anos e meio, diz que então
"não [será] mais presidente".
Promete, pois, para breve, a necessária tentativa do eleitorado
de ver se encontra quem seja
mais fiel à palavra dada e mais
leal ao voto recebido. Na política
brasileira não é fácil, mas, se não
enganar demais, já será um
avanço.
Não me refiro, é claro, aos
avanços que lotaram os jornais e
telejornais da semana toda, em
crescendo de manchetes que chegaram a encontrar "recorde histórico" na comparação com números que datam apenas da década de 90. Ou na mesma linha,
como disse reputado comentarista da CBN, em relação à propagandeada volta ao crescimento econômico: "Esta batalha já
está vencida". Há melhores maneiras de fazer com que governo
e mídia sejam a mesma coisa.
De fato, passados ano e meio
de governo Lula, aparecem dados positivos, ou seja, acima de
zero, em vários aspectos econômicos. Muito longe, porém, da
significação que quer lhes atribuir o otimismo profissional.
Se ponderados segundo as circunstâncias e relativizados pela
vergonheira que foi o primeiro
ano de Lula, os dados positivos
não deixam de ser positivos, mas
se mostram todos muito abaixo
de onde o governo, por obrigação administrativa e moral, deveria tê-los posto. Não fosse sua
adesão oportunista, em todos os
sentidos, ao que seus integrantes
sempre condenaram.
É tal a desproporção entre os
atuais dados positivos e o oba-oba da mídia, que o resultado é
uma contradição até engraçada.
Se êxitos modestos e incipientes
merecem tamanha festança, é
porque os festejadores achavam
a política econômica de Lula incapaz até de resultados parcimoniosos. Festejam a sua surpresa.
O que se mostra como otimismo
contém, portanto, uma dose de
pessimismo que nem as dúvidas
do ceticismo incluem.
Até no governo Fernando Henrique o Brasil chegou a ter crescimento anual de 4%. É tão natural e persistente a força deste
país imenso, que mesmo aos tropeções, mesmo a passos desconexos e pequenos, ele vai adiante a
despeito dos Fernandos, dos Lulas, dos Malans e Paloccis. O problema é que a construção das
desventuras tem ido sempre na
frente.
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