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APOCALÍPTICOS E INTEGRADOS
Mesmo com críticas à política econômica, intelectuais de SP reconhecem êxitos setoriais e intensificam participação no governo
Lula acomoda mal-estar na intelligentsia
FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO
Um ano e meio de governo Lula,
os intelectuais de esquerda ligados ao petismo não vislumbram
mais uma guinada na política
econômica. O mal-estar com o
paloccismo -agora, com "respiro", já que as estimativas falam
em crescimento do PIB de
3,5%- parece ter sido acomodado entre críticas surdas e o que é
possível mudar a despeito dele.
Em meio ao silêncio de descontentes e descontados os já rompidos, a intelligentsia paulista
apoiadora do governo apresenta
êxitos setoriais e sua participação
mais ou menos efetiva na gestão.
Um dos sinais disso é a transformação por qual passou o grupo
ilustrado que se reunia na campanha do PT em 2002.
Reativado, sob outros moldes,
em 2003, tiveram encontros com
ministros e até com Lula. Este ano
reuniram-se ainda com a CUT e o
MST . Contabilizaram dissidências -como o sociólogo Francisco de Oliveira, o filósofo Paulo
Arantes e o advogado Fábio Konder Comparato-, atacaram a
economia. Mais recentemente,
muitos vieram a integrar o governo ou instâncias ligadas-em
conselhos ou cargos.
O destino de alguns: a filósofa
Marilena Chaui (USP) foi para o
Conselho Nacional de Educação;
Renato Janine de Ribeiro (filósofo) chefia a Capes (aperfeiçoamento de nível superior); Fernando Haddad, cientista político, é
secretário-executivo do Ministério da Educação; Amélia Cohn
(socióloga) é assessora do Ministério do Desenvolvimento Social.
Desde o início de 2003, Maria Victória Benevides, socióloga, compõe o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, e o
economista Paul Singer chefia a
Secretaria de Economia Solidária.
"Em relação à política econômica, as palavras no grupo são crítica e perplexidade", diz Maria Victória. Acrescenta: "Incômodo entre intelectuais e governo sempre
haverá. É do compromisso do intelectual. Mas acredito no governo. Vejo feitos importantes. Nenhum outro teve atuação tão rigorosae e atuante na questão da Justiça [referindo-se às ações da PF],
por exemplo".
Para Janine Ribeiro, os intelectuais apóiam as "opções básicas"
do governo. "Não vou criticar um
governo do qual faço parte. O que
há de diferente é que sabemos
bem o que é justo -ainda que
não seja possível fazer tudo", diz.
"Em áreas como a educação, não
tem havido concessões", afirma.
Marilena Chaui diz ter ido para
o Conselho de Educação -por
onde hoje, segundo ela, "não passa nenhuma decisão importante"
e passam muitos processos para a
instalação de cursos superiores
privados- para lutar, dentro dele, por sua mudança. "É um compromisso público. Comprei a briga. Vou acionar outros conselheiros", disse em um seminário recente em São Paulo.
Ao lado dela, na mesa de debates, Francisco de Oliveira: [os conselhos no governo Lula] estão
sendo relegados à irrelevância.
Desde que não afetem nenhuma
decisão, as pessoas podem se divertir neles o dia inteiro. [...] A sociedade devia propor um conselho para o Banco Central, que é o
que importa".
"Ao contrário de Chico, eu sou
otimista. Acredito que as coisas
podem mudar, já estão mudando", disse Chaui para encerrar.
Na última sexta-feira, o mercado financeiro teve dia de ótimos
índices. A razão: a declaração do
ministro Antonio Palocci (Fazenda) sobre a importância de propor a independência do BC -outra tema de mal-estar esquerdista.
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