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Vianna rebate catastrofismo da crítica da USP
DA REDAÇÃO
Animar "o lado nacional-desenvolvimentista" do governo
é o papel da crítica à esquerda
segundo o cientista político
Luiz Werneck Vianna, do Iuperj, no Rio. Para ele, o lado financista já ganhou a disputa,
mas vale a pena alimentar os
divergentes para um próximo
round: "Quem sabe eles não se
sobressaem nas eleições?"
Vianna vê com "irritação" as
análises de Paulo Arantes e
Francisco de Oliveira, da USP,
a quem atribui um "diagnóstico furado".
Folha - O que há na crítica à esquerda? Incômodo?
Luiz Werneck Vianna - Entre
os militantes petistas propriamente há desanimados. Já houve desistências, mas há por aí
análises catastróficas, não da situação brasileira, mas mundial.
Só vêem coisa negativa. Uma
anti-cultura material, uma coisa filosofante que domina na
USP, que anda organizando as
cabeças. É um diagnóstico furado. Não vejo o mundo assim.
Folha - E como vê?
Vianna - Acho que vai, que vai
indo... A democracia avança.
Aqui e alhures. Estava lendo
exatamente filósofos paulistas,
numa irritação danada. É de
um humanismo abstrato, vê a
economia como inimiga...
Folha - Qual o papel que uma
crítica à esquerda pode ter?
Vianna - Animar. Esse governo é dois. Tem o lado dominante, que é do Palocci. Tem
outro que se inclina mais na tese do nacional-desenvolvimentismo (representante mais visível é o Carlos Lessa [BNDES]).
Folha - Ainda há disputa entre
esses lados ou o 1º já ganhou?
Vianna - É um jogo ganho para o Palocci, mas que não leva à
eliminação do outro. O governo vai avançando com as duas
patas. O importante para quem
é de esquerda é observar que é
um governo que não reprime o
movimento popular, que é sensível na audiência -pelo menos. Não vejo na perspectiva
claro-escuro como veêm. Temos de animar esse 2º lado.
Quem sabe eles não se sobressaem nas eleições?
Folha - O sr. foi a um encontro
acadêmico na UFMG neste mês
do qual foram dois ministros.
Qual o limite da interlocução?
Vianna - Não deixa de ser
uma tentativa do governo de
participar. Foram intervenções
políticas [ a dos ministros Luiz
Dulci e Patrus Ananias]. Foram
bem aceitos, não houve mal-estar. Interpretaram bem essas
duas faces do governo. Uma
dominante e a outra que fica
assuntando para ver se vai para
algum lugar, mas não vai para
lugar nenhum. Está lá o Palocci
e está lá o Lula garantindo o Palocci. Mas do jeito que falam,
não se contrapõem ao Palocci
(por incrível que pareça).
Usam o argumento da contingência aí o confronto não se estabelece. Eles vão assim até o final dos tempos, e acho que vão
conseguir alguns resultados. O
país pode crescer 4,5%, o que
não é pouco. Mas, é uma percepção naturalístico-vegetativa
da economia, bem regada e
cuidada pelo Palocci. Crescimento que interfere pouco,
não cria emprego.
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