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DATAFOLHA
Entre eleitores de Ciro, 47% defendem acerto com o Fundo; percentual só é maior no eleitorado de Serra: 48%
40% apóiam o acordo do Brasil com FMI
ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO
Se os candidatos de oposição
criticam o acordo do Brasil com o
FMI (Fundo Monetário Internacional) para agradar os eleitores,
podem estar cometendo um erro:
40% dos entrevistados pelo Datafolha em pesquisa realizada na
quinta e na sexta são a favor do
acordo. Dos demais, 35% declararam-se contra, 17% não souberam responder, e 7% se disseram
indiferentes.
O "recado" do eleitorado vale
sobretudo para Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista
(PPS-PDT-PTB), um dos mais reticentes no apoio ao acordo: 47%
entre os seus potenciais eleitores
defendem o acerto com o Fundo.
Esse percentual só é maior, e em
apenas um ponto percentual, entre os que manifestam a intenção
de votar no candidato do próprio
governo, José Serra (PSDB). Destes, 48% são favoráveis às negociações.
No caso dos eleitores potenciais
do petista Luiz Inácio Lula da Silva, há um empate: 39% são a favor, 39% são contra, enquanto 6%
são indiferentes, e 15% não sabem. Entre quem disse que pretende votar em Anthony Garotinho (PSB), 35% são a favor do
acordo, e 36%, contra.
A informação é relevante e
oportuna, sobretudo porque os
candidatos terão encontros isolados amanhã com o presidente
Fernando Henrique Cardoso, no
Palácio do Planalto, justamente
para discutir o apoio ao acordo
com o FMI e aos compromissos
assumidos em contrapartida pelo
Brasil. A maior parte deles deverá
ser cumprida pelo próximo governo.
Por esse acordo, o país vai receber um total de US$ 30 bilhões do
Fundo. Serão US$ 6 bilhões neste
ano, ainda no governo FHC, e os
restantes US$ 24 bilhões em 2003,
primeiro ano do futuro governo.
FHC quer o compromisso de
seus eventuais sucessores de que
vão manter os termos do acordo,
que incluem um superávit primário (receitas menos despesas, descontados os juros) de 3,75% do
PIB (Produto Interno Bruto) no
ano que vem.
Prejuízos e benefícios
Apesar de 40% dos entrevistados pelo Datafolha serem favoráveis ao acordo, 44% do total
acham que ele trará mais prejuízos do que benefícios, 36% acham
o contrário, 19% não sabem, e 2%
deram "outras respostas".
Entre os eleitores dos candidatos de oposição, a maioria acha
que o acerto trará mais prejuízos:
48% no caso do petista Lula, 46%
no de Garotinho, e 44% no de Ciro Gomes.
É difícil identificar a origem da
contradição, mas uma das suposições é a de que a maioria considera que o acordo tinha de ser feito,
mesmo sabendo que poderá acarretar mais prejuízos do que benefícios ao país. Algo como "o mal
necessário".
Só entre os eleitores de Serra a
maioria (47%) considera que haverá mais benefícios do que prejuízos, o que é coerente com o discurso do candidato governista
-ele foi o primeiro e é até agora o
mais incisivo a defender a negociação do Brasil com o FMI. Dos
seus eleitores, apenas 33% acham
que haverá mais prejuízos.
Como resultado, a percepção da
maioria dos eleitores é de que Serra será o maior beneficiado politicamente pelo acordo do FMI. Foi
o que responderam 31% dos entrevistados, enquanto 9% acham
que será Lula, outros 9%, Ciro, e
apenas 4%, Garotinho.
Entre os que consideram Serra o
maior beneficiário, destacam-se
sobretudo os próprios eleitores
do PSDB: 50% deles acham que é
esse o caso, enquanto 7% disseram, curiosamente, que seria o
petista Lula.
No PT, 40% acham que Serra é o
beneficiado, enquanto 13%
acham que seria o próprio Lula
-o que é igualmente curioso,
porque o partido é de esquerda e
tem mantido ao longo dos anos
um discurso de crítica, pelo menos, ao FMI e às suas receitas de
ajuste fiscal.
No PDT, partido de cunho nacionalista que apóia Ciro, 46%
apontaram Serra como o principal beneficiado. Já no PFL, partido liberal que está dividido entre
Serra e Ciro, 37%, também citaram o tucano. No PMDB, foi o caso de 29%.
Na pergunta inversa ("E qual
destes candidatos à Presidência
foi o maior prejudicado politicamente?"), o resultado também foi
inverso: 24% apontaram Lula;
7%, Garotinho; 6%, Ciro Gomes;
4%, José Serra.
São Paulo
Dos três principais Estados, o
que mais apóia o acordo é São
Paulo, onde 44% dos entrevistados -mais do que a média nacional de 40%- declararam-se a favor, e 36%, contra. Em Minas, foram 38% a favor, e 33%, contra.
No Rio, 30% são a favor, e 39%,
contra.
Quanto maior a escolaridade,
maior o índice de apoio ao acerto
com o FMI: 50% entre os que têm
nível superior, 42% entre quem
tem segundo grau e 38% entre
quem tem até o primeiro grau.
A pesquisa começa com uma
revelação curiosa: um número
grande de entrevistados, 48%, tomou conhecimento do acordo, e
29% se declararam "mais ou menos informados". Do total dos
que sabiam do acordo, 85% têm
curso superior, 57% têm segundo
grau, e 37%, primeiro grau.
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