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Dantas se contradisse em 4 momentos ao depor em CPI
Deputados que estavam na sessão não questionaram o banqueiro sobre contradições
Em telefonema grampeado pela PF, Dantas cita relatório da Kroll; aos congressistas, contudo, ele afirmou que desconhecia a investigação
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao depor na última quarta-feira na CPI dos Grampos, em
Brasília, o banqueiro Daniel
Dantas entrou em pelo menos
quatro contradições com algumas de suas próprias declarações, com indícios levantados
na Operação Satiagraha e com
manifestações de outros investigados pela PF.
Daniel Dantas não foi questionado pelos congressistas sobre essas contradições (dois deles chegaram a abrir mão de fazer perguntas, alegando que a
fala do banqueiro nada estava
acrescentando à CPI).
Repetindo o que havia dito
em 2005 à CPI dos Correios,
Dantas primeiro disse que
"nunca" teve acesso aos relatórios da agência Kroll, contratada pela Brasil Telecom, à época
sob seu controle, e acusada pela
PF de investigar integrantes do
governo Lula. Instantes depois,
contudo, o próprio Dantas se
desmentiu: "Depois do problema da Kroll nós recebemos
uma cópia desse relatório por
uma... pela imprensa, e já tinha
vazado bastante pela imprensa,
e por tudo que olhei, ela não
conjuga um verbo no futuro".
Uma interceptação telefônica feita pela Operação Satiagraha com ordem judicial também
revelou que Dantas teve pleno
acesso ao relatório. Em novembro de 2007, ele orientou sua
assessora jurídica, Danielle Silbergleid Ninio, a "dar uma
olhada no relatório da Kroll"
pois ele queria "incruar" (incluir) "esse assunto do relatório da Kroll" num depoimento
que prestava, naquele momento, à Justiça de Nova York.
Mais adiante, à CPI, Dantas
disse que o trabalho da Kroll
era "seguir o dinheiro". Segundo ele, tratava-se de um rastreamento financeiro, como a
empresa fez em contrato firmado com o Senado quando da
época da CPI do caso PC Farias.
Logo adiante, contudo, Dantas se entregou ao responder a
uma pergunta lateral. Um deputado quis saber se ele soube
que Cassio Casseb, então presidente do Banco do Brasil, havia
se reunido em Milão (Itália)
com executivos da Telecom
Italia. Ao confirmar ter tomado
ciência do encontro, Dantas explicou que a Kroll "estava investigando executivos da Telecom Italia" -o que desmente a
idéia de que a Kroll só fazia o
rastreamento do dinheiro.
O encontro em Milão foi filmado por uma equipe da Kroll,
conforme concluiu a PF brasileira na Operação Chacal, desencadeada em 2005.
Em outro momento, Dantas
disse que o trabalho do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) era participar
de negociações com os fundos
de pensão no contexto da fusão
das companhias telefônicas
Brasil Telecom e Oi.
Não foi o que Greenhalgh
afirmou, em nota distribuída à
imprensa em julho. Ele disse
que seu trabalho fora "analisar
processos" nas "esferas cível e
criminal", como advogado do
banco Opportunity.
Além das contradições, Dantas omitiu informações e distorceu fatos. Disse, por exemplo, que "o sentimento que
tem" é que o espião português
Tiago Verdial estava "a soldo da
Telecom Italia". Inúmeros relatórios da Operação Chacal indicam que Verdial trabalhou
para a Kroll no contexto do
contrato assinado com a Brasil
Telecom, controlada por Dantas. Em depoimentos, Verdial
confirmou a ligação.
Em julho de 2004, após o escândalo da Kroll, revelado pela
Folha, a Telecom Italia gravou
uma conversa com Verdial em
um hotel no Rio. Ele dizia estar
buscando emprego na Telecom
Italia, após ter saído da Kroll.
Na gravação, Verdial confirmou que partiam de Dantas,
por meio de um intermediário,
e de Carla Cico, pessoalmente,
"os números de telefones para
puxar os extratos" telefônicos.
Ao fim da sessão, o presidente da CPI, Marcelo Itagiba
(PMDB-RJ), culpou o sigilo de
duas investigações da PF para
justificar suposta "falta de inquirições apropriadas", segundo sua expressão.
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