São Paulo, segunda-feira, 18 de agosto de 2008

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Dantas se contradisse em 4 momentos ao depor em CPI

Deputados que estavam na sessão não questionaram o banqueiro sobre contradições

Em telefonema grampeado pela PF, Dantas cita relatório da Kroll; aos congressistas, contudo, ele afirmou que desconhecia a investigação

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao depor na última quarta-feira na CPI dos Grampos, em Brasília, o banqueiro Daniel Dantas entrou em pelo menos quatro contradições com algumas de suas próprias declarações, com indícios levantados na Operação Satiagraha e com manifestações de outros investigados pela PF.
Daniel Dantas não foi questionado pelos congressistas sobre essas contradições (dois deles chegaram a abrir mão de fazer perguntas, alegando que a fala do banqueiro nada estava acrescentando à CPI).
Repetindo o que havia dito em 2005 à CPI dos Correios, Dantas primeiro disse que "nunca" teve acesso aos relatórios da agência Kroll, contratada pela Brasil Telecom, à época sob seu controle, e acusada pela PF de investigar integrantes do governo Lula. Instantes depois, contudo, o próprio Dantas se desmentiu: "Depois do problema da Kroll nós recebemos uma cópia desse relatório por uma... pela imprensa, e já tinha vazado bastante pela imprensa, e por tudo que olhei, ela não conjuga um verbo no futuro".
Uma interceptação telefônica feita pela Operação Satiagraha com ordem judicial também revelou que Dantas teve pleno acesso ao relatório. Em novembro de 2007, ele orientou sua assessora jurídica, Danielle Silbergleid Ninio, a "dar uma olhada no relatório da Kroll" pois ele queria "incruar" (incluir) "esse assunto do relatório da Kroll" num depoimento que prestava, naquele momento, à Justiça de Nova York.
Mais adiante, à CPI, Dantas disse que o trabalho da Kroll era "seguir o dinheiro". Segundo ele, tratava-se de um rastreamento financeiro, como a empresa fez em contrato firmado com o Senado quando da época da CPI do caso PC Farias.
Logo adiante, contudo, Dantas se entregou ao responder a uma pergunta lateral. Um deputado quis saber se ele soube que Cassio Casseb, então presidente do Banco do Brasil, havia se reunido em Milão (Itália) com executivos da Telecom Italia. Ao confirmar ter tomado ciência do encontro, Dantas explicou que a Kroll "estava investigando executivos da Telecom Italia" -o que desmente a idéia de que a Kroll só fazia o rastreamento do dinheiro.
O encontro em Milão foi filmado por uma equipe da Kroll, conforme concluiu a PF brasileira na Operação Chacal, desencadeada em 2005.
Em outro momento, Dantas disse que o trabalho do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) era participar de negociações com os fundos de pensão no contexto da fusão das companhias telefônicas Brasil Telecom e Oi.
Não foi o que Greenhalgh afirmou, em nota distribuída à imprensa em julho. Ele disse que seu trabalho fora "analisar processos" nas "esferas cível e criminal", como advogado do banco Opportunity.
Além das contradições, Dantas omitiu informações e distorceu fatos. Disse, por exemplo, que "o sentimento que tem" é que o espião português Tiago Verdial estava "a soldo da Telecom Italia". Inúmeros relatórios da Operação Chacal indicam que Verdial trabalhou para a Kroll no contexto do contrato assinado com a Brasil Telecom, controlada por Dantas. Em depoimentos, Verdial confirmou a ligação.
Em julho de 2004, após o escândalo da Kroll, revelado pela Folha, a Telecom Italia gravou uma conversa com Verdial em um hotel no Rio. Ele dizia estar buscando emprego na Telecom Italia, após ter saído da Kroll. Na gravação, Verdial confirmou que partiam de Dantas, por meio de um intermediário, e de Carla Cico, pessoalmente, "os números de telefones para puxar os extratos" telefônicos.
Ao fim da sessão, o presidente da CPI, Marcelo Itagiba (PMDB-RJ), culpou o sigilo de duas investigações da PF para justificar suposta "falta de inquirições apropriadas", segundo sua expressão.


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