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ANÁLISE
Serra terá duro caminho para se igualar ao FHC de 94
MAURO FRANCISCO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
Muito se fala sobre a coincidência das atuais taxas de intenção de
voto dos candidatos de PT e PSDB
em relação às verificadas na mesma época em 1994.
De fato, pesquisa realizada pelo
Datafolha nos dias 2 e 3 de maio
daquele ano registrava 42% para
Lula contra 16% obtidos pelo então candidato tucano, Fernando
Henrique Cardoso, que reverteu o
cenário desfavorável e venceu a
eleição no primeiro turno.
No levantamento mais recente,
feito no último dia 14, o candidato
petista conta com 43% contra
17% de José Serra, atual candidato
do PSDB.
Uma análise mais atenta de outros números comuns às duas
pesquisas mostra que as coincidências param por aí.
Considerando a intenção de voto espontânea, ou seja, a primeira
pergunta feita a cada eleitor entrevistado e que é respondida sem o
estímulo do cartão com os nomes
dos prováveis candidatos, nota-se
que Lula obtém hoje seis pontos
percentuais a mais do que em 94,
quando atingia 21%.
Candidato definido
Já o atual candidato tucano obtém praticamente a mesma taxa:
6% de Serra contra 5% obtidos
por Fernando Henrique em 94.
Essa pergunta tem por característica revelar o percentual de eleitores que têm uma decisão mais
cristalizada do voto.
Outra diferença importante é a
de eleitores sem candidato definido, representados pela soma dos
indecisos com a dos que afirmam
que votariam em branco ou anulariam o voto, caso a eleição fosse
realizada no dia da pesquisa.
Na espontânea, essa taxa chegava a 63% em maio de 94 contra
51% agora.
Considerando-se a pergunta estimulada, a diferença é ainda
maior: 23% não tinham candidato definido em maio de 94 contra
apenas 9% agora.
Isso significa que, para crescer,
será necessário, hoje, captar votos
de outros candidatos numa proporção maior do que nessa mesma época em 94.
Além disso, é um reflexo da antecipação da campanha, característica desta eleição.
Rejeição
A comparação revela ainda que
é maior a rejeição às duas candidaturas, mas em proporções diferentes. Em 94, 20% dos eleitores
não votariam em Lula em hipótese alguma, enquanto 15% recusavam-se a votar em Fernando
Henrique.
Hoje a rejeição a Lula está 35%
mais alta, chegando a 27%. Já a rejeição atual conferida a Serra -
23%-, apesar de também ser
menor que a de Lula, é 53% mais
alta do que a obtida por Fernando
Henrique em 94.
O espaço que o PSDB tem para
crescer hoje é, portanto, menor
do que o observado no mesmo
período em 94.
Isso se torna ainda mais claro ao
se comparar as avaliações do governo federal, apuradas nas mesmas pesquisas.
Em maio de 94, 16% consideravam o governo Itamar Franco ótimo ou bom, menos da metade da
taxa de aprovação obtida hoje por
Fernando Henrique (35%).
Portanto, o PSDB alcançava a
mesma taxa de intenção de voto
obtida hoje por Serra mesmo com
o governo tendo menos da metade da aprovação que tem atualmente.
Itamar só ultrapassaria o patamar dos 30% de aprovação em
agosto, um mês após o lançamento do Plano Real, ao mesmo tempo em que Fernando Henrique
transpunha a casa dos 40% das intenções de voto.
Esses números revelam que,
apesar da coincidência nas taxas
de intenção de voto, o atual processo eleitoral tem características
diversas e Serra terá um caminho
mais árduo para repetir a performance de Fernando Henrique
Cardoso em 94.
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