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JANIO DE FREITAS
Uma visão de momento
O assunto é José Serra. Só pode ser Serra. As conversas, há
mais de uma semana, parecem
todas começar ou acabar em Serra.
A questão sempre presente, sem
por isso excluir várias outras, é a
da permanência ou substituição
da candidatura, seja por decisão
do candidato ou do PSDB. Entre
os peessedebistas, é certo que o
número dos contrários ou descrentes na candidatura de Serra
cresce a cada pesquisa. E a impressão mais recente é de que deu
um salto, desde o último Datafolha na quarta-feira, correspondente à subida de Luiz Inácio Lula da Silva de 32% para 43% e à
queda de Serra de 22% para 17%.
Mas não há resposta para a pergunta óbvia: quem poderia ser o
substituto?
A timidez, quase sussurro, com
que se arriscam os nomes de Aécio Neves e Tasso Jereissati já reflete a falta de condições de ambos para a empreitada. O primeiro desfruta de simpatia pessoal
entre políticos de Brasília, tem
eleitorado em Minas e em certos
meios socialites cariocas, mas daí
em diante precisaria partir do zero. O governo de Minas, no entanto, está quase em suas mãos.
Jereissati tem recomendações de
fazer política mais com a cabeça,
o que faz com competência, do
que com esforços físicos na intensidade própria de uma campanha presidencial. E, afora esses
dois, acabou-se o grande PSDB, a
maior concentração de arrogância vazia já constituída por aqui.
O problema de nomes presidenciáveis merece muito mais atenção do que a sugerida pelas dificuldades, até aqui, de Serra. O
que acontece nos três partidos que
controlam o Congresso e quase rivalizam com o FMI, na influência
sobre o governo, faz uma forte denúncia da falência da política e
da mediocridade dos políticos. O
PSDB só teve e só tem um candidato possível. O PFL, abatida Roseana Sarney, não encontrou em
seus vastos quadros um nome,
um sequer, para arriscar-se na
disputa. O PMDB, vetados Itamar Franco e Pedro Simon porque honestos demais para ampla
maioria do comando partidário,
não consegue chegar a um nome
nem ao menos para vice, na chapa PSDB-PMDB.
O vice, por sinal, é evidência
quase cômica da insuficiência imperante no círculo político que deveria fortalecer a candidatura de
Serra. Primeiro, foi a longa e corrosiva insistência pública no pernambucano Jarbas Vasconcelos,
que em momento algum mostrara entusiasmo pela idéia. Desde
então, há mais de um mês arma-se o noticiário em torno de um
certo Henrique Alves, que a cúpula peemedebista quer empurrar,
Fernando Henrique Cardoso
aconselha a ser adotado logo por
Serra e vários jornalistas escrevemos que é um nome sujeito a
mais um escândalo desgastante
para o candidato.
O noticiário de ontem já apresentava Henrique Alves na situação prevista. Até no mesmo patamar de Ricardo Sérgio de Oliveira: US$ 15 milhões. Se fosse necessário escolher o vice a esta altura,
vá lá o risco, mas o tempo sobra e
nem conveniência há. A assessoria política de Serra era pior do
que nula, recebeu reforços nos últimos dias e, pelo previsível, Serra
continuará solitário nas ações
propriamente políticas, tão importantes para qualquer candidato.
Outro reforço foi a inclusão do
marqueteiro Nizan Guanaes, que
já fazia assessoramento por trás
da cortina. Nizan estreou duas teses para a definição da campanha: atacar Lula pesadamente e
identificar Serra com o governo
Fernando Henrique. Exceto por
uns poucos momentos agressivos
de Ciro Gomes e de Anthony Garotinho, a disputa se desenvolvia
com padrão ético muito melhor
que todas as anteriores. Serra, segundo o qual "baixaria não faz o
meu [dele] gênero", já se voltou
para Lula. Se ganhar alguma coisa, nem por isso terá salvo o próprio telhado de vidro.
O Datafolha de quarta-feira
trouxe um dado eloquente: dois
em cada três eleitores, ou dois terços do eleitorado, querem votar
em candidato contrário a Fernando Henrique e, portanto, ao
governo. Logo, quanto mais Serra
seja identificado com Fernando
Henrique e com o governo, mais
pedregoso lhe fica o percurso. Até
que se instaure um novo quadro
de disputa, se houver, seu maior
adversário não são os outros candidatos, é o governo que lhe impõe um teto no eleitorado: o insuficiente e precário terço do eleitorado que pretende votar em candidato pró-Fernando Henrique.
O ex-arrecadador de campanhas serristas Ricardo Sérgio &
cia. têm dificultado a candidatura de José Serra. Mas não será
exagerado dizer que apenas colaboram, com ingredientes mais
ácidos, para um desarranjo mais
amplo, que começava da falta de
estrategistas e entra na fase de má
estratégia.
Enquanto isso, Ciro Gomes passa a atrair atenções, influentes no
meio empresarial, que se concentravam em Serra. Não fosse o senador Roberto Freire, Ciro Gomes, que está tecnicamente empatado com Serra e Garotinho no
segundo lugar, já estaria isolado
nessa posição há muito tempo.
Há sinais de que começa a receber
estímulos nessa direção, decorrentes da necessidade dos anti-Lula de que haja segundo turno.
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