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Candidatos ao mesmo discurso
Propostas semelhantes confundem até mesmo os integrantes das campanhas dos presidenciáveis
JULIA DUAILIBI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Isso parece o
"Show do Milhão.
Vou chutar." Assim
reagiu o líder do PT
na Câmara, João
Paulo Cunha, ao tentar identificar, em
uma lista de frases
dos presidenciáveis,
quais eram de Luiz
Inácio Lula da Silva.
A aflição do petista
ilustra a dificuldade
que integrantes das
campanhas e o próprio eleitor têm em
associar uma proposta a um candidato à Presidência.
Isso porque, programas de governo e conteúdos à parte, nas
aparições públicas os quatro pré-candidatos à Presidência têm propagado as mesmas idéias sobre
temas variados como segurança,
taxa de juros e crescimento.
Antes mesmo do início oficial
da campanha, o "blablablá" de
Anthony Garotinho (PSB), Ciro
Gomes (PPS), José Serra (PSDB) e
Lula, com o apoio do marketing,
tem a mesma maquiagem e busca
o mesmo efeito no eleitor. A impressão que se tem é que não há
candidatos com divergências
ideológicas: todos estão em algum
ponto entre o centro e a esquerda.
A Folha separou frases dos quatro líderes nas pesquisas de intenção de voto sobre os dez temas
mais abordados por eles em discursos, entrevistas e sites oficiais.
Sem identificar o autor, submeteu-as a nomes de destaque dos
partidos envolvidos na disputa e
pediu que fossem indicadas as
frases de seu pré-candidato.
O discurso padronizado dos
presidenciáveis confundiu a
maioria dos correligionários. A
média de acertos foi de quatro
pontos.
O deputado federal João Herrmann (PPS-SP), um dos coordenadores da campanha de Ciro, foi
um dos que mais erraram (acertou três das dez questões). No início da entrevista, disse em tom de
brincadeira que, caso errasse
muito, poderiam tirá-lo da campanha. Ele creditou a Ciro cinco
das dez frases de Garotinho.
"Sabe por que tanto Garotinho?
Porque estou tentando trazê-lo
para a campanha", brincou Herrmann, numa alusão à hipótese do
pré-candidato do PSB desistir da
corrida e aliar-se a Ciro.
Se depender do coordenador de
sua campanha, Garotinho está
bem na disputa. Márcio França,
prefeito licenciado de São Vicente
(SP), teve o melhor placar: identificou nove das dez frases do pré-candidato.
"Ufa, pelo menos não foi do Serra", disse quando relacionou a
Lula uma frase de Garotinho.
Muitos dos critérios utilizados
pelos entrevistados se repetiram.
"As do Garotinho são mais alegres, meio genéricas", disse o entusiasta da candidatura Serra no
PMDB, Geddel Vieira Lima, cujo
raciocínio foi repetido pelo vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB): "O que for
mais populista e genérico, por
exemplo, é do Garotinho". O critério não deu muito certo: Geddel
acertou quatro, e
Jucá, cinco.
"Tudo que soou
embolado, erudito, pensei que fosse do Ciro", concluiu Geddel,
apoiado pelo presidente de seu partido, Michel Temer. "Serra e Ciro
têm declarações
mais conceituais."
Houve quem desistisse de completar o questionário
ao perceber que
errava muito.
""Vou parar por
aqui porque senão
o [ministro da Fazenda Pedro] Malan vai dizer que não tenho afinidades eletivas com o meu candidato", disse Tito Ryff, assessor
econômico de Garotinho.
Para especialistas ouvidos pela
Folha, a razão dos discursos parecidos está na busca pelo eleitor do
centro, que ainda não definiu a
sua preferência. Segundo o Datafolha, 46% das pessoas afirmaram
na resposta espontânea que ainda
não sabem em quem votar.
"O meio é onde está o eleitor
que não tem opiniões firmes",
disse Orjan Olsen, ex-diretor do
Ibope e doutor em comunicação
social. "O marketing quer maximizar o voto. Tende, portanto, a
homogeneizar o discurso."
Em 1994 e 1998, o candidato oficial elegeu-se com base no Plano
Real e no discurso da estabilidade.
Em 2002, a pauta passou a ser e
crescimento e a consequente melhora dos indicadores sociais.
Para o ex-ministro do Planejamento e deputado Delfim Netto
(PPB-SP), os pré-candidatos têm
medo de perder o eleitor do centro. "As proposições são genéricas. Não dizem como fazer, por
exemplo, a reforma tributária."
Todo político diz que é o seu
pré-candidato que está sendo
"clonado" pelos demais. "É dele a
terceira? Então por que não fez isso quando estava no governo?",
contestou Alexandre Cardoso, da
equipe da campanha de Garotinho, referindo-se a Serra.
Cardoso criticou o "pseudo discurso de esquerda" de Serra, mas
se complicou ao atribuir ao tucano uma frase de Garotinho.
""Nesses assuntos, todo mundo
segue um pouco o governo", discorda o secretário-geral do PSDB,
Márcio Fortes, que acertou mais
as frases de Ciro (cinco) do que as
de Serra (três).
Colaboraram a Sucursal de Brasília e a
Reportagem Local
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