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PF apura "troca de favor" em licitação no AP
Segundo a polícia, mineradora de Eike teria contratado empresa ligada à família de governador para ser favorecida em licitação
Grampo da PF revela auditor intercedendo em favor de empresa de genro do irmão de Waldez para facilitar concorrência por ferrovia
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACAPÁ
Inquérito da Polícia Federal
afirma que a contratação de
uma empresa ligada à família
do governador do Amapá, Waldez Góes (PDT-AP), serviu como uma "troca de favores" entre a mineradora MMX, do empresário Eike Batista, e o governo do Estado. A PF investiga
suposto direcionamento da licitação para a concessão da Estrada de Ferro do Amapá em favor da mineradora de Eike.
Segundo a PF, as interceptações telefônicas tornam "cristalina" essa "troca" entre "empresas investigadas" e "pessoas
vinculadas" à administração.
De acordo com as investigações, que culminaram na Operação Toque de Midas na semana passada, transcrições mostram Braz Josaphat, auditor-fiscal apontado como lobista da
empresa de Eike, solicitando
"claramente favores à empresa
Conterra em troca da sua atuação perante o processo de licitação da estrada de ferro".
A Conterra é uma empresa
de aluguel de maquinário e, de
acordo com a assessoria do governo, pertence a um genro de
Jesus Góes, irmão de Waldez.
Em conversa em janeiro de
2006 com José Frederico, que a
PF aponta como "homem de
confiança" de Eike e funcionário da mineradora MPBA (que
tinha participação da MMX),
Josaphat pediu "para ele retomar os contratos" e fazer um
"ajuste" sobre a Conterra.
"Aí a gente vai com o "firmão"
do governador para dentro da
mineradora do projeto ferro",
afirmou Josaphat. "Inclusive
dentro daquele princípio daquilo que o Flávio [Godinho, vice-presidente da MMX] falou
naquele dia [...] para a gente retomar essas máquinas. [...]
Mesmo que reduza do outro,
coloca as cinco da Conterra."
Nesse mesmo dia, Josaphat
disse a Frederico que "existe
realmente uma angústia até do
próprio governador" para que a
empresa consiga os contratos
privados, já que ela "não pode
ganhar licitação porque é do irmão dele". "Em função do poder, eles acabam tendo prejuízo", afirmou Josaphat.
Dois dias depois, o auditor
disse que estava sofrendo uma
"pressão" para agilizar o negócio. "O irmão e o Tupi foram para cima dele [governador] lá na
casa dele, aí ele pegou o Joca
[assessor do governador] e me
mandou me repassar."
Frederico disse que iria conversar pessoalmente com
"eles" e que depois daria um
"retorno". O inquérito não explicita quem são Tupi e "eles".
Em outro diálogo, cerca de
uma semana depois, Josaphat
volta a cobrar do funcionário da
MPBA a entrada de máquinas
da Conterra na obra. "Tem alguma posição em relação àquele negócio lá da Serra do Navio
[onde há minas do MPBA e da
MMX]? Aquilo tem sido meu
calcanhar de Aquiles."
Também existe a suspeita de
que a Amacon Aluguel de Máquinas e Construtora, empresa
que prestou serviços nas minas
da MMX e da MPBA, seja de
Reginaldo Góes, outro "parente" de Waldez, segundo a PF.
Segundo o governo, ele é neto
de um tio do governador.
Colaboraram BRENO COSTA e PABLO SOLANO , da Agência Folha
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