|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Minc decide plantar dendê na Amazônia
Acordo entre Meio Ambiente e Agricultura visa recuperar área degradada com plantas exóticas destinadas à produção de biodiesel
Na prática, ambientalistas vêem redução de 80% para 50% da reserva da floresta; acordo ainda será detalhado antes de virar norma legal
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Acordo selado entre os ministros da Agricultura e do
Meio Ambiente permitirá a
plantação de dendê e outras espécies exóticas em áreas de recuperação de floresta nativa na
Amazônia. A expectativa é multiplicar o cultivo de oleaginosas
destinado à produção de biodiesel na região.
"Quem tudo quer tudo perde", disse Carlos Minc (Meio
Ambiente) ao confirmar o
acordo, atacado por ambientalistas. "Se batermos o pé numa
regra muito rígida, continua a
área degradada." Ele adianta
que metade da área já desmatada poderá ser recuperada por
meio de espécies exóticas, mas
o acordo ainda será detalhado
antes de virar norma legal.
O Ministério da Agricultura
estima que a área de cultivo do
dendê na Amazônia Legal -de
60 mil hectares hoje- poderá
crescer até cem vezes. O cálculo
foi feito com base na soma das
áreas degradadas e não contabiliza unidades de conservação
ou demais áreas protegidas.
Segundo ONGs ambientalistas, o movimento na prática
muda o Código Florestal e reduz a reserva legal no bioma de
80% para 50%, como prevê
projeto de lei de autoria do senador ruralista Flexa Ribeiro
(PSDB-BA). O projeto, apelidado de "Floresta Zero" e cujo
substitutivo tramita na Câmara, libera produtores para plantarem dendê em vez de floresta
na área de reserva legal.
A aprovação do projeto na
Câmara vinha sendo barrada
pelo Meio Ambiente. A então
ministra Marina Silva se opunha ao texto. O da Agricultura,
Reinhold Stephanes, é favorável a ele. "Esse acordo dá uma
sinalização concreta para a
bancada ruralista de que agora
tem um ministro a mais", disse
Paulo Adário, do Greenpeace.
Para as ONGs, o dendê, por
ser uma monocultura, não
cumpre o papel de recuperação
da biodiversidade. Pior, há o temor de que o "Floresta Zero"
estimule desmatamento além
do permitido, já que os produtores poderão aproveitar a área
aberta para plantar dendê.
Em nota divulgada na sexta-feira, um grupo de 12 ONGs criticou o acordo, acusando Minc
de romper um compromisso
-ele disse na sua posse que o
governo não permitiria a redução da reserva legal na Amazônia. Minc avalia que o acordo
do dendê é produto do "bom
senso": "A idéia de recuperar
áreas degradadas só com espécies nativas é mais interessante
para a biodiversidade, mas não
tem estímulo econômico". Ele
insiste em que a liberação para
o dendê e culturas destinadas
ao biodiesel terá como limite
metade da área de reposição.
Minc e Stephanes já tiveram
dois encontros nas últimas semanas, mas a agenda proposta
pela Agricultura não chegou
nem à metade. Entre os seis
acordos selados, está o zoneamento da cana-de-açúcar.
Colaborou CLAUDIO ANGELO , editor de Ciência
Texto Anterior: Nova Lei de Imprensa divide debatedores Próximo Texto: São Paulo: Promotor pede à PF que apure bens de vereador Índice
|