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REFÉM DA BASE
Emenda, já rejeitada uma vez, não teve respaldo público do presidente
Lula paga preço de crise e deve apoiar reeleição no Congresso
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva deverá apoiar a emenda
constitucional que permitiria a
reeleição dos presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e
da Câmara, João Paulo Cunha
(PT-SP), para seus respectivos
postos por mais dois anos a partir
de fevereiro do ano que vem.
A Folha apurou que Lula avalia
que esse é o preço político que deve pagar para estabilizar sua base
no Congresso após a acachapante
derrota da última quinta-feira no
Senado da MP (medida provisória) que reajustou o salário mínimo de R$ 240 para R$ 260.
O Senado derrotou Lula ao elevar o mínimo para R$ 275. Agora,
a MP retorna à Câmara, onde terá
votação definitiva, provavelmente na terça ou quarta-feira. O valor
de R$ 260 deverá ser reconfirmado. Na Câmara, o valor de R$ 275
já foi votado e derrotado uma vez
por 266 a 167 votos.
Aprovado o mínimo de R$ 260
na Câmara, João Paulo, político
que chegou ao cargo pelas mãos
de José Dirceu, terá sua grande
chance de conseguir reapresentar
a emenda constitucional que permitiria a reeleição dele e de Sarney. Essa emenda da reeleição já
foi rejeitada uma vez na Câmara
-faltaram só cinco votos.
Para a cúpula do governo, o mapa da votação anterior facilita a
busca dos votos que faltaram. É
preciso apoio de dois terços das
duas Casas em dois turnos de votação. Sarney, que jogou contra o
mínimo de R$ 260 no Senado para dar troco ao governo pela falta
de apoio à emenda da reeleição,
entrará na operação em favor do
mínimo desejado por Lula, para
evitar que o presidente tenha de
vetar os R$ 275.
Dirceu, Aldo e Renan
Os destinos de três figuras importantes de seu governo, José
Dirceu (Casa Civil), Aldo Rebelo
(Coordenação Política) e o líder
do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), serão a preocupação
de Lula num segundo momento.
Lula já pediu que Dirceu e Aldo
diminuam seu nível de atrito,
principalmente da parte do chefe
da Casa Civil. O PT pressiona para
que Lula devolva a articulação política a Dirceu. Lula gosta de Aldo
e acha que a chance de salvá-lo é
melhorar a relação dele com Dirceu. Do contrário, terá um ministro com influência no PT minando o próprio governo.
Nessa última hipótese, um auxiliar de Lula diz que a tendência seria ceder à pressão do PT numa
reforma ministerial pós-eleições
municipais. Aldo poderia vir a
substituir José Viegas (Defesa).
Outra alternativa, preferida por
Lula, é que Dirceu vá presidir a
Câmara, ainda que se aprove a
reeleição. João Paulo seria acomodado no governo. Dificilmente
na Casa Civil, pelo peso político
da pasta, e provavelmente numa
outra posição, como substituir
Aldo. O desejo do PT em retomar
a articulação se explica pelo controle da liberação de emendas
parlamentares e cargos.
A compensação a Renan teria
de ser bem calibrada. Ele cobra do
governo compromisso pelo qual
apoiaria a eleição de Sarney a presidente do Senado com a garantia
de que o sucederia em 2005.
Com influência sobre parte da
bancada do PMDB -14 dos 22
senadores votaram a favor do mínimo de R$ 260, como ele pedira-, Renan poderia criar problemas ao governo, facilitando abertura de CPIs. A ação dele foi fundamental para enterrar a Comissão Parlamentar de Inquérito do
caso Waldomiro Diniz.
Waldomiro, ex-assessor da Casa Civil, aparece em vídeo de 2002
negociando propina com um empresário de jogos. Sua forte ligação com o chefe da Casa Civil gerou a maior crise política deste
governo e está na raiz da disputa
entre Aldo e Dirceu.
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