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Fidelidade aliada é de no máximo 70%
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os números finais das votações
da medida provisória do salário
mínimo na Câmara e no Senado
mostram que o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva tem o apoio
real de, no máximo, cerca de 70%
dos congressistas filiados a partidos que se declaram governistas.
Na Câmara, Lula recebe o suporte de dez partidos. Além do
PT, PC do B, PL, PMDB, PP, PPS,
PSB, PSL, PTB e PV. Juntas, essas
dez agremiações têm 375 deputados. Desses, na votação do salário
mínimo, só 261 se apresentaram
para ajudar o Palácio do Planalto.
Esses 261 representam só 69,6%
dos 375 que, em tese, deveriam
sempre votar a favor das propostas enviadas por Lula à Câmara.
No final, o salário mínimo de R$
260 acabou tendo uma pequena
ajuda da oposição, com cinco votos, o que fez o placar a favor do
presidente na Câmara contar com
266 partidários. Esse número
também escancara a fragilidade
do governo na Casa: representa só
51,9% do total de 513 deputados.
No Senado, a situação é um
pouco pior do que a da Câmara.
No papel, os seis partidos que
apóiam Lula na Casa (PT, PL,
PMDB, PPS, PSB e PTB) até têm
uma maioria razoável: 46 dos 81
senadores. Na última quinta-feira, entretanto, apenas 30 congressistas dessas siglas sustentaram a
MP do salário mínimo -ou seja,
só 65,2% do total governista ou
parcos 37% do total do Senado. O
texto não passou, e a oposição
conseguiu aumentar o valor do
mínimo de R$ 260 para R$ 275.
Houve um voto a favor do governo entre os senadores que veio
da oposição -do PSDB. O placar
final a favor do Planalto anotava
31 congressistas, ainda insuficiente contra os 44 votos anti-Lula.
Não é novidade no Brasil que a
base governista seja porosa e volátil. É uma tradição desde a redemocratização do país, nos anos
80, quando as correntes partidárias se dividiram em várias siglas
-existem 27 legendas hoje. Quase nenhuma agremiação cobra fidelidade de seus parlamentares.
Mesmo no PT, que tem em seus
estatutos a obrigação da fidelidade, o apoio não foi total no caso
do salário mínimo. Na Câmara,
dos 81 petistas, só 73 deputados
(82%) deram o ar da graça para
votar a favor do presidente. No
Senado, de uma bancada com 13
cadeiras, apenas 10 petistas
(76,9%) se dispuseram a sofrer o
desgaste de votar pelos R$ 260.
Não era muito diferente na gestão anterior, do tucano Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002).
Em 28 de janeiro de 1997, ocorreu
a votação mais relevante do então
governo: a emenda da reeleição
para a Presidência da República.
Naquela ocasião, o PMDB tinha
99 deputados e apenas 67 (75,3%)
votaram a favor da emenda. O
percentual é bem maior do que os
50% de apoio que os peemedebistas deram a Lula na Câmara e os
63,6% no Senado, durante a votação da MP do salário mínimo.
Já o PSDB comandava uma
bancada de 87 cadeiras na Câmara em 1997. Os tucanos foram
bem fiéis ao então presidente na
votação da reeleição: 84 (96,6%)
votaram a favor de FHC -um
percentual bem maior do que o
PT ofertou a Lula na votação do
salário mínimo na Casa (82%).
Os mais infiéis
Há algumas nuances dentro da
infidelidade padrão no Congresso. Algumas siglas parecem ser
mais ingratas que as outras. Um
caso é o do pequeno PC do B.
Hoje, é o partido proporcionalmente mais bem representado na
Esplanada dos Ministérios. Com
apenas nove deputados, a legenda
tem dois ministros: Aldo Rebelo
(Coordenação Política) e Agnelo
Queiroz (Esporte). Dá 4,5 deputados para cada ministro. Ganha até
do PT, com 19 dos 35 integrantes
da equipe de Lula. Para uma bancada de 89 petistas, a média é de
4,7 deputados para cada ministro.
Mesmo assim, o PC do B deu ao
presidente só seis (66,7%) dos
seus nove votos na Câmara durante a votação do salário mínimo. No Senado, os comunistas
não têm ninguém. Entre os senadores a contribuição foi o esforço
-infrutífero- de Rebelo para
cabalar votos a favor do Planalto.
Um partido tido como vital para
o governo pelo tamanho de sua
bancada é o PMDB. Hoje, tem
dois ministros: Amir Lando (Previdência) e Eunício Oliveira (Comunicações). No dia em que a Câmara votou a MP do salário mínimo, só 39 dos 78 deputados da sigla deram apoio explícito ao Planalto. Ou seja, exatamente 50%.
No Senado, o desempenho do
PMDB foi um pouco melhor: 14
(63,6%) dos 22 peemedebistas
apoiaram o governo. Insuficiente
para evitar a derrota de Lula.
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