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REFÉM DA BASE
Presidente da Câmara diz que deputados devem derrubar mínimo de R$ 275 aprovado pelos senadores
Lula tem de definir aliados no Senado, afirma João Paulo
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP), acha que o governo federal precisa "definir quem são seus
aliados prioritários" no Senado,
assim como os tem definidos entre os deputados.
A falta de clareza nessa definição, segundo acredita o deputado,
levou o governo a perder a votação no Senado do salário mínimo
de R$ 260, na última quinta. A Casa aprovou o valor em R$ 275.
João Paulo acredita que a articulação política do governo errou,
sobretudo no tratamento que foi
dispensado ao grupo ligado ao
presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Ele defende tratamento diferenciado a senadores como Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA), Roseana Sarney (PFL-MA) e Eduardo Siqueira Campos (PSDB-TO).
Esse grupo, formado por cerca
de 13 senadores, foi decisivo na
derrota do governo, é interlocutor
privilegiado de José Dirceu (Casa
Civil) e torce o nariz para Aldo
Rebelo (Coordenação Política)
desde que ele se opôs à emenda
que permitia a reeleição de Sarney
e João Paulo, que ainda tramita,
apesar de uma de suas versões ter
sido derrubada na Câmara.
No Senado, a reeleição de Sarney é contestada pelo líder do
PMDB, Renan Calheiros (AL),
que controla a maioria da bancada, mas não dispõe de igual trânsito no PFL e no PSDB.
É ao grupo liderado por Calheiros que o presidente da Câmara se
refere quando critica senadores
que teriam se aproveitado das dificuldades pelas quais passava o
governo, na votação, "para criar
mais complicadores".
Para o deputado, a Câmara vai
derrubar o salário de R$ 275 aprovado no Senado e restaurar o projeto original de R$ 260.
Abaixo, os principais trechos da
entrevista concedida por João
Paulo na tarde de sexta-feira passada à Folha.
Folha - O Senado impôs uma derrota política ao governo ao aprovar
o salário mínimo de R$ 275. Dá para reverter na Câmara?
João Paulo Cunha - Na política
não há derrota definitiva. Nem o
governo nem o mundo acabaram,
não há derrotados e não há vitoriosos com o resultado do Senado. É preciso baixar a bola e continuar caminhando. A Câmara dos
Deputados vai fazer o seu papel.
Folha - Por que a Câmara deve reverter a decisão do Senado?
João Paulo - Quando a Câmara
apreciou os R$ 260, tinha a possibilidade de ser R$ 275. O conjunto
dos deputados optou por R$ 260.
Tomou uma decisão política dos
R$ 260 a partir dos dados e das informações que a Câmara tinha. A
minha impressão é que a maioria
dos deputados vai restabelecer a
decisão da Câmara, que é uma decisão soberana, de maioria, com
base na quantidade e em dados
suficientes para sustentar a posição dos nossos deputados.
Folha - A que o sr. atribui a derrota no Senado, uma vez que, na Câmara, o projeto passou até com
certa facilidade.
João Paulo - A derrota é uma
confluência de situações e de problemas. No Senado, teve o problema de articulação política, tem
problema de ressentimento de vários parlamentares pelo tratamento dado a eles, tem o problema real de lideranças às quais o
governo não tem dado atenção e
que merecem atenção, e o conteúdo do debate, que precisa de um
trabalho muito bem feito que não
sei se foi realizado.
Folha - Que problemas de articulação política? A divisão do governo e o clima de intrigas no Planalto
contribuíram para esse resultado?
João Paulo - Claro que todo clima de muita fofoca e de muita intriga acaba atrapalhando o conjunto das ações, porque as pessoas perdem muito tempo com isso. Nesse caso, especificamente,
acho que não.
Folha - Então qual foi o problema
de articulação política?
João Paulo - Você não pode deixar, por exemplo, de ter uma conversa um pouco mais demorada e
reconhecer o papel que tem o senador Antonio Carlos Magalhães.
Você não pode deixar de reconhecer o papel e a importância que
tem a senadora Roseana Sarney.
Precisa conversar com eles demoradamente e especificamente com
eles. É preciso reconhecer que, no
Tocantins, o senador Siqueira
Campos (PSDB) cumpre um papel importante. Então, é preciso
dialogar com eles.
Esses diálogos não podem
acontecer somente na véspera da
votação, no dia da votação.
Folha - Foi o que ocorreu agora?
João Paulo - Um pouco o que
ocorreu agora. É preciso conversar permanentemente com essas
pessoas. Além de também ter surpresa nesse tipo de votação.
Para mim, uma grande surpresa
foi a votação de aliados que o governo considerava certos e que,
na hora em que o governo passava por dificuldades, em vez de
ajudarem o governo, aproveitaram as dificuldades para criar ainda mais complicadores.
Folha - A quem o sr. se refere?
João Paulo - É uma coisa pública,
as pessoas perceberam.
Folha - Como exigir lealdade dos
aliados, quando o próprio PT deu
três votos em 13 contra o governo?
João Paulo - Com partidos
amarrados a um mesmo projeto
não tem um que valha mais que o
outro. A importância do PT é a
mesma do PSB, do PPS e do
PMDB, porque todos eles estão
amarrados a uma política de sustentação do governo Lula. É até
admissível que, num projeto e
num assunto dessa magnitude,
você tenha algumas perdas nos
partidos, mas eu acho que você
precisa começar a trabalhar antes,
não é? Mesmo tendo esses três casos no PT, eu acho que no conjunto poderia ter trabalhado melhor.
Folha - A derrota da emenda da
reeleição na Câmara contribuiu para a derrota do mínimo?
João Paulo - Não. A facilidade
[de o governo aprovar projetos]
na Câmara dos Deputados antes
da reeleição continuou depois da
emenda da reeleição, não mudou
nada. As dificuldades que existiam no Senado antes da reeleição
continuaram depois da emenda
da reeleição. O que eu acho é que
o governo precisa definir quem
são seus aliados prioritários no
Senado, assim como os tem definidos na Câmara.
Folha - Qual a sua sugestão?
João Paulo - As pessoas do governo evidentemente saberão escolher os seus aliados. Eu sei escolher os meus aliados.
Folha - O PMDB é um partido confiável?
João Paulo - Na Câmara, nós tivemos 39 votos do PMDB a favor
do governo, 32 contra e sete abstenções. No Senado foi 16 a 6. É
preciso destacar que tem muita
gente boa no PMDB e que pode
ajudar muito o governo. No Senado e na Câmara.
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