|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
REFÉM DA BASE
Voto no Senado foi ato contra ação do Planalto
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A derrota do governo na votação do mínimo não pode ser atribuída apenas à disputa entre os
ministros José Dirceu (Casa Civil)
e Aldo Rebelo (Coordenação Política) ou à deslealdade do PMDB,
maior partido aliado. O placar refletiu a profunda inabilidade do
PT e do governo Lula em lidar
com a base e com a oposição.
Vários senadores não votaram
apenas a favor de um salário mínimo maior, mas principalmente
contra o tratamento recebido do
Planalto e do PT, especialmente
nas bases eleitorais. Lula não tem
conseguido manter apoios estratégicos, como o do presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AP),
e de Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), ligados a Dirceu.
O primeiro ressente-se da falta
de apoio na votação da emenda
da reeleição na Casa, e ACM se
queixa de mais verbas para a Bahia. Os senadores ligados a ambos
ajudaram a derrotar o governo,
num aviso ao Planalto de que o líder do PMDB, Renan Calheiros
(AL), não constrói maioria sozinho. Renan quer suceder Sarney.
O Senado tem peculiaridades
que exigem dos governos relacionamento diferente do mantido
com a Câmara. Muitos são ex-governadores e ex-ministros. Há
um ex-presidente da República e
um ex-vice. Cada um se considera
uma instituição, com independência em relação a orientações
partidárias. Todos querem verbas
para os Estados, mas querem
principalmente manifestações de
prestígio: ser recebidos em audiências e, no caso de aliados, ser
consultados antes de decisões e de
envio de propostas ao Congresso.
Ramez Tebet (PMDB-MS) há
muito manifesta indignação com
ataques do governador do seu Estado, Zeca do PT, ao PMDB e à
sua filha Simone, candidata em
Três Lagoas. Votou pelos R$ 275.
Senadores da base reclamam da
atitude "autoritária" do PT e do
Planalto, que exigem voto e apoio
incondicional, sem negociação.
Flávio Arns (PT-PR) votou pelos R$ 275. Teve grande decepção
no início de 2003, quando Lula vetou projeto -aprovado por unanimidade- que incluía as instituições sem fins lucrativos para
crianças portadoras de necessidades especiais, como as Apaes, entre os beneficiários do Fundef. O
governo prometeu compensações, mas não o fez.
Eduardo Siqueira Campos
(TO), segundo-vice-presidente
do Senado, foi convidado para ir à
China. Só recebeu convite na véspera, orientado a providenciar a
passagem de volta, já que Lula seguiria ao México. Diante do episódio, senadores lembravam que,
na gestão FHC, convites chegavam com antecedência, providências eram tomadas.
Senadores lembram também
que FHC telefonava a senadores,
convidava-os para conversas no
Alvorada. Agora, até governistas
têm dificuldades. O senador Fernando Bezerra (PTB-RN), líder
do governo no Congresso, teve
sua primeira audiência particular
com Lula nas vésperas da votação
do mínimo. Alertou para as dificuldades e aconselhou adiamento. Não foi ouvido.
Texto Anterior: Janio de Freitas: Caráter mínimo Próximo Texto: Refém da base: Lula tem de definir aliados no Senado, afirma João Paulo Índice
|