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HISTÓRIA
Estudo usa documentos da cúria de Assunção para mostrar que conflito resultou em pelo menos 300 matrimônios
Brasileiros e paraguaias casaram após guerra
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
A Guerra do Paraguai, iniciada
em 1864, resultou em ao menos
300 casamentos de militares brasileiros com paraguaias no ano de
seu término, 1870, de acordo com
certidões encontradas na cúria do
bispado de Assunção.
A conclusão está no estudo
"Sob o olhar da imprensa e dos
viajantes - mulheres paraguaias
na Guerra do Paraguai", dissertação de mestrado do historiador
brasileiro Fernando Lóris Ortolan
na Unisinos (Universidade do
Vale do Rio dos Sinos), uma instituição de ensino gaúcha.
O estudo foi apresentado no dia
8 em Porto Alegre, em evento sobre o aniversário de 140 anos do
início da guerra promovido pelo
MJDH (Movimento de Justiça e
Direitos Humanos) e pela UFMS
(Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul).
Outra conclusão do estudo é
que mulheres brasileiras seguiram seus maridos militares e participaram do conflito. Segundo o
coronel inglês George Thompson,
"as sargentas garantiam a ordem
nos acampamentos".
"Os oficiais toleraram que as
mulheres seguissem seus maridos. Sabiam que anos no campo
de batalha exigiriam muito dos
soldados", diz o historiador.
Um dos tantos documentos
reunidos pelo historiador mostra
o pedido formal de casamento feito pelo capitão Honório José Teixeira, do Rio, e pela paraguaia
María Felipe Iralgo. "Achando-se
amasiados e ela já grávida, desejando-se unir a esse matrimônio e
estando próxima a retirada do suplicante para o Brasil, pede a Vossa Reverendíssima o pedido desta
formalidade", dizem ao bispo.
Outro pedido formal ao bispado de Assunção foi feito pelo cabo
José Joaquim da Silva: "Com o favor de Deus, querem casar-se o
cabo do Esquadrão da 1º Bateria
de Infantaria José Joaquim da Silva, filho de José Duarte da Silva e
Maria Cristóvão da Silva, natural
de Pernambuco e atualmente em
Humaitá, com Maria Dorothea,
filha de Izidro Franco e Carlota
Benitez Izidro, natural de Pilar,
República do Paraguai, sendo
seus pais mortos".
Experiência esquecida
Relação do quartel em Humaitá,
de 6 outubro de 1870, mostra mulheres que foram ao Brasil com
militares brasileiros: "[...] a tropa,
tendo como destino a Província
do Rio Grande do Sul [...], com
quatro oficiais e 159 praças, bem
como 14 praças presos e 48 mulheres, sendo 28 paraguaias [...]".
Outra curiosidade apurada no
estudo: houve, também, mulheres
brasileiras, normalmente capturadas em Mato Grosso (hoje Mato
Grosso do Sul), que acabaram por
se instalar e casar no Paraguai.
Para elaborar seu estudo sobre
as mulheres, o historiador recorreu especialmente à cúria de Assunção, além de jornais da época
e outros documentos achados em
arquivos paraguaios e brasileiros.
Foi na cúria que encontrou as 300
certidões, todas microfilmadas.
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