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O REI DO NINHO
Requisitado, ex-presidente orienta aliados e faz previsões sobre 2004
FHC articula frente anti-PT e já ocupa o centro da oposição
JULIA DUAILIBI
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do "recesso" de pouco
mais de três meses, Fernando
Henrique Cardoso começa a trocar a roupa de ex-presidente pela
de líder da oposição ao governo
petista. A volta de FHC à cena política se dá em duas frentes.
Uma visível, movida por entrevistas e balanços irônicos e incisivos dos seis meses da gestão de
Luiz Inácio Lula da Silva. Outra,
ainda desconhecida, por meio de
uma cada vez mais intensa articulação de bastidores, cujo ponto de
fuga é a eleição municipal de 2004.
Almoços com parlamentares,
conversas com líderes da oposição e telefonemas em que convida
antigos aliados para ingressarem
no PSDB ocupam mais o dia-a-dia de FHC do que o trabalho no
instituto que leva seu nome e ao
qual prometeu se dedicar após
deixar o Planalto.
Há quinze dias, por exemplo, o
ex-presidente recebeu em seu
apartamento, em São Paulo, líderes do PFL e do PP. Traçou com os
parlamentares estratégias de oposição ao governo no Congresso,
inclusive a formação de uma liderança da oposição. Fez um balanço do governo Lula e discutiu o
papel do PT e do PSDB nas eleições municipais de 2004.
O pleito do ano que vem é um
assunto que tem estado constantemente na pauta do ex-presidente. Há duas semanas, encontrou-se com o sindicalista Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho, que
pretende disputar a sucessão da
Prefeitura de São Paulo. O objetivo é isolar a candidatura da prefeita Marta Suplicy (PT).
Além dos contatos com parlamentares, FHC saiu a campo para
tratar de assuntos partidários. Para evitar o emagrecimento do
PSDB, em razão da investida do
governo federal nos deputados do
partido, convidou pessoalmente
antigos aliados. Entre eles, o ex-ministro da Agricultura, Francisco Turra, do PP.
Aos poucos, a agenda de FHC
começa a dar lugar para atividades partidárias oficiais. No final
de agosto, a primeira delas: um
encontro com prefeitos do PSDB
que visa fortalecer a estrutura partidária e uniformizar o discurso
de oposição ao governo federal.
Tropa de choque
Quando o assunto é a volta de
FHC para a política, os tucanos
tergiversam. "É importante que
haja uma referência para o partido neste momento, que é o Fernando Henrique. Mas ela ainda
não se materializa nas articulações políticas", afirmou o deputado Alberto Goldman (SP).
Na mesma linha está Arnaldo
Madeira, ex-líder do governo
FHC na Câmara, que almoçou na
sexta com o tucano. "Fernando
Henrique não quer entrar na política operacional, na militância do
partido. Ele cumpriu o seu papel.
Agora tem uma liderança natural
por ser um ex-presidente."
"É mais uma figura tutelar do
que um agente político. É o homem do conselho, da orientação", completa o deputado Aloyzio Nunes Ferreira (SP).
Além desses deputados, FHC
mantém contato constante com
outros nomes que fizeram parte
de sua tropa de choque no Congresso, como Geddel Vieira Lima
(PMDB-BA), com quem esteve há
duas semanas em São Paulo.
Na semana passada, o PSDB divulgou uma dura avaliação do governo petista, na qual chamou o
governo Lula de "confuso" e "incompetente". As mesmas críticas
levantadas por FHC no encontro
com os parlamentares, há quinze
dias, constam do documento.
Preocupações como o papel das
agências reguladoras e a condução da reforma agrária pelo governo petista, por exemplo.
Terceiro turno
No encontro com os políticos,
avaliou que será mais fácil vencer
nas capitais, onde há sempre um
desgaste maior do governo. Além
da sucessão paulistana, pediu
atenção dos aliados para Porto
Alegre, Salvador e Rio de Janeiro.
Disse que PSDB, PFL e os dissidentes do PP e do PMDB precisam votar juntos nas reformas e
manter em sintonia um discurso
de oposição ao governo petista.
"Nosso plano é preparar os instrumentos para a batalha que virá.
E o ex-presidente, que é uma
grande liderança, tem auxiliado
os partidos da oposição. Estamos
escolhendo o tom da oposição e
queremos criar fatos políticos para serem usados na mídia contra o
PT", disse o deputado Ricardo
Barros (PP-PB). Como "fato político", afirmou que pretendem dar
destaque ao que chamou de as
contradições do governo petista.
"O nosso posicionamento agora
é muito importante. Nem tem como o ex-presidente não ser uma
liderança", disse o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).
Para FHC, a Prefeitura de São
Paulo será o terceiro turno da eleição presidencial e colocará em xeque uma eventual volta do partido ao poder. Disse a interlocutores que o nome ideal seria o do ex-ministro José Serra, que descarta
a disputa. "Espero que ele me ouça", comentou com os aliados.
FHC tem entrado no tema sucessão até para apagar eventuais
conflitos internos. Conversou
com os aspirantes tucanos à disputa: os deputados Walter Feldman e Zulaiê Cobra e o presidente
do PSDB, José Aníbal. Fez a política da boa vizinhança e disse que a
decisão final será do governador
Geraldo Alckmin.
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