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Cria de ACM, Dantas se projetou na era FHC
Na era Lula, ao ser barrado por Gushiken, banqueiro passou a contratar advogados ligados a petistas para ter acesso ao Planalto
No governo Collor, chegou a ser cogitado como possível ministro e teria participado da reunião que decidiu confisco de cruzados novos
ANA FLOR
DA REPORTAGEM LOCAL
Daniel Valente Dantas, 53,
um baiano que saiu do seu Estado como um empresário modesto, em pouco mais de 20
anos passou por todos os governos federais desde os anos 90
com a marca de arrecadar tanto
aliados quanto inimigos de vários partidos.
Dantas chegou ao Planalto
ainda no governo José Sarney
(1985-1990), pelas mãos do
conterrâneo Antonio Carlos
Magalhães, do então PFL, morto no ano passado, a quem foi
indicado pelo economista Mário Henrique Simonsen.
A proximidade com o poder e
o desempenho no mercado de
finanças à frente do banco Icatu lhe renderam espaço privilegiado de articulador da política
de privatizações do governo
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002). O que, mais tarde,
lhe garantiu a continuidade dos
seus negócios no governo Lula.
Nascido numa família da oligarquia baiana, Dantas começou cedo nos negócios. Aos 17
anos, criou uma fábrica de sacolas com amigos. Passou pelas
indústria têxtil e de turismo, foi
dono de posto de gasolina e ainda trabalhou na empreiteira
Odebrecht como engenheiro,
curso pelo qual se graduou na
Universidade Federal da Bahia.
No Rio, onde fez mestrado
em economia, conheceu Simonsen, por meio de quem se
aproximou do PFL de ACM.
Depois de fazer uma especialização no MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts),
nos EUA, voltou ao Brasil e passou pelo Bradesco, indo logo
em seguida para o banco Icatu.
Já na direção do banco, seus
contatos políticos rendiam
acesso a dados que o levaram a
vencer grandes especuladores
do mercado de ações.
Quando o governo Fernando
Collor (1990-1992) estava para
começar, Dantas foi citado como possível ministro, o que não
se confirmou. Ele teria participado, a convite de Simonsen, da
reunião em que Collor decidiu
pelo bloqueio dos cruzados novos. Antes do confisco, fez dinheiro com exportações e investiu em soja e café.
Contatos políticos
Um dos principais economistas do PFL, atual DEM, no qual
cresceu graças às boas relações
com o grupo de ACM, Dantas
fez parte, em 1994, do grupo
que analisou o Plano Real criado pelo então ministro Fernando Henrique Cardoso. Foi um
dos responsáveis pela análise e
montagem do plano econômico do governo PSDB-PFL.
Em 1996, quando o banco
Opportunity começa a operar,
Dantas já havia se aproximado
de Pérsio Arida, ex-presidente
do BNDES (1993-1995) e do
Banco Central (1995), que se
tornou seu sócio no banco. A irmã, Verônica Dantas, expert na
área jurídica, foi outra sócia.
O surgimento do Opportunity tem na origem os bons
contatos de Dantas com os tucanos: foram seus aliados no
partido que o estimularam a
entrar no processo de privatizações do sistema Telebrás.
Montou o CVC Opportunity,
com recursos do Citigroup, e
atraiu a Telecom Italia e a Previ
(fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil).
Tanto em suas sociedades
quanto nas relações que mantinha com partidos políticos,
Dantas sempre se utilizou das
divisões internas para conquistar espaço. Foi assim na sua
transferência do Bradesco, com
o empresário Almeida Braga,
para o Icatu. Dentro do PSDB,
usou o desentendimento com o
senador Tasso Jereissati (CE)
para se aproximar de Luiz Carlos Mendonça de Barros, então
ministro das Comunicações.
O grampo telefônico de Mendonça de Barros e André Lara
Resende, presidente do
BNDES na época da privatização das teles, escancarou a extensão do poder de penetração
de Dantas no governo tucano.
Em 2004, a Folha revelou
que a BrT, do Opportunity,
contratou a Kroll para investigar a Telecom Italia. A empresa
espionou funcionários do governo Lula, entre eles os ex-ministros Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo) e José Dirceu (Casa Civil) e Cássio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil.
Começaram disputas entre a
Telecom Italia e os fundos de
pensão com o Opportunity sobre a administração da BrT.
Em 2002, um acordo foi anunciado. A Telecom Italia transferiu metade de suas ações com
direito a voto na BrT ao Opportunity, para que a Tim (que ela
controla) pudesse inaugurar
sua rede de telefonia celular.
O acordo lhe dava o direito
de recomprar as ações. Em
2003, a Telecom Italia tentou
retornar ao bloco de controle
da BrT. Foi impedida pelo Opportunity. Contrariada, a Telecom Italia entrou na Justiça.
A Folha revelou ainda que o
Citigroup tinha conhecimento
da espionagem. Em 2005, a
Anatel determina a volta da Telecom Italia ao bloco de controle da BrT. Chega a um acordo com o Opportunity e entra
em conflito com os fundos, que
se aliaram ao Citigroup, pelo
controle da Brasil Telecom.
Dantas é abandonado pelo
Citigroup, que destituiu o Opportunity como gestor do fundo CVC Opportunity, que controlava BrT, Telemig Celular,
Amazônia Celular e o Metrô do
Rio. O Citi passa a controlar as
empresas telefônicas em parceria com os fundos Previ, Petros, Funcef e outros.
Na era petista, seu modus
operandi foi adaptado. Ao encontrar resistência ferrenha de
Gushiken, um dos ministros
mais próximos de Lula no primeiro mandato e claro defensor dos fundos de pensão, contratou dois advogados com
pontes no novo governo. Antonio Carlos de Almeida Castro,
amigo de Dirceu, e Roberto
Teixeira, compadre de Lula. O
banqueiro também teve o
apoio do então diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolatto, e do à época tesoureiro do
PT, Delúbio Soares.
Em 2005, a CPI dos Correios
revelou que três empresas controladas por Dantas repassaram R$ 150 milhões ao esquema do empresário Marcos Valério -ajudando a sustentar o
esquema do mensalão.
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