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ELIO GASPARI
Uma boa briga, de peixes que pescam gente
A Camargo Corrêa e a Odebrecht ameaçam brigar na Justiça pelas usinas de Santo Antônio e Jirau
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UMA BOA notícia: as grandes empreiteiras Camargo Corrêa e
Odebrecht ameaçam levar para
a Justiça a discussão que envolve as
obras das hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira. É um negócio de R$ 18 bilhões e as duas empresas
lideraram os consórcios que construirão as usinas. A Odebrecht venceu em
Santo Antônio e a Camargo Corrêa, em
Jirau.
Como sempre, os concorrentes acusam-se de descumprimento dos editais. Habitualmente, esses assuntos são
resolvidos por amigos que têm amigos
nos escritórios certos. O repórter Agnaldo Brito mostrou que o primeiro tiro veio da Odebrecht, ameaçando levar
Jirau para os tribunais. A Camargo
Corrêa respondeu ameaçando Santo
Antônio.
Estranho. Um acusa o outro de ter
feito algo errado e o outro responde sacando uma malfeitoria do adversário,
em outro projeto. Nesse caso, podem
ser dois os malfeitos. Há ainda a possibilidade de que a Camargo Corrêa tenha acertado ao mudar o traçado de Jirau. O mesmo pode ter acontecido com
as mudanças da Odebrecht. A Justiça é
um ótimo lugar para decidir pendências desse tipo.
O litígio público é o melhor dos detergentes. Será uma pena se a burocracia
elétrica entrar com panos quentes
(aquele tipo de pano que esquenta quando vira grampo e arruína o servidor público). No pior cenário, o recurso aos tribunais é uma salva de tiros de pólvora
seca, simples ameaça velada para colocar na mesa a carta da procrastinação
dos projetos.
Um litígio judicial poderá adiar a obra,
mas, quando o Ibama defendia o meio
ambiente, todas as empreiteiras reclamavam do atraso na concessão das licenças. Agora, na defesa dos seus interesses, esqueceram a preocupação com
os prazos. Nosso Guia chegou a ridicularizar as restrições criadas pelos ambientalistas "por causa do bagre".
Agora os peixes são maiores e de uma
espécie rara, a que pesca gente.
O PLANALTO ESTÁ FELIZ COM 1,4 MILHÃO
A Polícia Federal localizou
uma conversa telefônica de
Gilberto Carvalho com Lula.
Deu-se o seguinte diálogo:
- Chefe, entre janeiro e junho conseguimos 1,4 milhão,
24,27% acima do mesmo período do ano passado.
- Você acha que podemos
chegar a 2 milhões até o fim do
ano?
- Barbada.
- Eu achava que não conseguiríamos.
Essa conversa é falsa, inventada pelo signatário, diante de
um teatro no qual os grampos
tornaram-se uma modalidade
preferencial de expressão.
Mesmo assim, os números são
verdadeiros. No primeiro semestre, a economia brasileira
produziu 1,4 milhão de novos
empregos com carteira assinada. Tudo indica que o ano
terminará batendo a marca
dos 2 milhões.
Esse expressivo resultado
mostra que a vida do trabalhador melhorou com a expansão
dos empregos protegidos pelas leis trabalhistas. Ficou para trás o tempo em que o governo mostrava uma ponta de
orgulho com a deterioração
do mercado de trabalho.
Em 1998, durante o tucanato, quando havia 2 milhões de
desempregados em São Paulo,
o economista Edward Amadeo assumiu o Ministério do
Trabalho informando que
procuraria "aumentar a empregabilidade do trabalhador
brasileiro". Traduzindo: o desempregado não conseguia
serviço porque tinha baixa
empregabilidade. Culpa da vítima.
Um ano antes, Jorge Jatobá,
assessor especial do Ministério do Trabalho, disse o seguinte: "Eu acho que o grande
mecanismo de ajuste do mercado de trabalho brasileiro
não foi o desemprego, foi mais
a informalização".
Felizmente, a degradação
do trabalho deixou de ser parte de um ajuste virtuoso.
NOVA HIROSHIMA
O comissário Tarso Genro e os
çábios do Planalto conseguiram o
impossível. Levaram para dentro
do governo a crise do banqueiro
da privataria tucana.
Algo parecido como mandar o
bombardeiro Enola Gay sobrevoar Hiroshima para depois jogar
a bomba Daniel Dantas em Nova
York.
URUCUBACA
O ministro Gilmar Mendes deve colocar um raminho de arruda
no processo de Daniel Dantas. No
último dia 10, quando todo o país
esperava sua decisão sobre o pedido de habeas corpus do banqueiro, a página de lançamento de
despacho do Supremo Tribunal
Federal informou que o HC/
95009 havia sido "indeferido".
Outro lançamento, posterior,
registrou o contrário: "deferido".
Junto, esclareceram que ocorrera
um "lançamento [isso mesmo] indevido de indeferimento". O STF
informa que a confusão decorreu
de um erro de digitação do código
interno do tribunal.
ALMANAQUE
Um curioso bateu num livro
onde havia uma tabela relacionando os salários dos trabalhadores da construção civil de Londres
em 1800 com o preço da cesta básica de alimentação da época.
Comparando esses números com
os de uma aldeia rural do Malawi
contemporâneo, resulta que os
ingleses estavam um pouco melhor. O cidadão adaptou a tabelinha para preços e salários brasileiros de hoje. Resultou que o trabalhador que recebe dois salários
mínimos (R$ 960) está num patamar três vezes superior ao da escumalha londrina de 1800.
Antes que Nosso Guia atribua
essa diferença às suas iluminações, vale lembrar que desde 1800
o padrão de vida das sociedades
desenvolvidas melhorou entre 10
e 20 vezes.
MÁ FAMA
A indústria de brinquedos
Estrela, fabricante do velho e
bom "Jogo da Vida", da marca
americana Hasbro, deve presentear os filhos de seus diretores com a versão da família
Simpson que mantém no mercado. Segundo a empresa, o
brinquedo é recomendado para
crianças com mais de oito anos.
Se o jogador cai no quadrinho
onde pode comprar a "Casa do
Prefeito Kuimby", aprende que
"o quarto principal possui uma
passagem secreta para auxiliar
na fuga de amantes".
Até aí, mandaram mal, mas
pegaram leve. Noutro quadrinho, a criança recebe a seguinte
informação:
"Como um freqüentador da
casa de má fama Maison Derriére, você tem a honra de jogar
de novo".
A Estrela diz que com esse jogo sua clientela pode "vivenciar
todas as experiências da família
mais divertida da TV". Não deixa de ter razão, mas aos oito
anos é cedo.
LIVROS SUMIDOS
O Teatro Municipal do Rio de
Janeiro começou as comemorações do seu centenário com
um espinho no pé. O repórter
Joaquim Ferreira dos Santos
mostrou que em 2002 a patuléia pagou a confecção e impressão de 39 brochuras com
biografias de artistas que fizeram a glória da instituição, como o maestro Alberto Nepomuceno e a cantora Gabriela
Bezanzoni. Transformaram-se
em fantasmas da ópera, que
aparecem aqui e ali, mas ninguém sabe onde estão.
A cobrança já completou cinco anos. Em maio passado, um
caçador de livros soube que "infelizmente ainda não está liberada para a venda a coleção pela
Fundação Teatro Municipal".
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