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FOLCLORE POLÍTICO/FERNANDO MORAIS
As seis mezinhas do Dr. Ulysses
Não foram apenas candidatos
a cargos executivos, como
Paulo Maluf, que se consideraram varridos pela ventania que
saiu das urnas de 6 de outubro.
No Estado do Acre, por exemplo,
recordista na renovação parlamentar, só 13% da bancada federal conseguirão voltar a Brasília.
Aqui em São Paulo as urnas também não deixaram dúvidas. Tanto na Assembléia Legislativa
quanto na bancada federal, 42%
dos eleitos são novatos.
Como todo calouro, eles deverão pagar o preço do noviciado
mas para tudo parece haver remédio. Vinte anos atrás, após
vencer minha primeira eleição,
fiz uma entrevista com o Dr. Ulysses Guimarães para a revista
"Playboy". Ao final da gravação o
velho cacique decidiu fazer uma
deferência ao aprendiz e ditou-me o que ele chamava de "as minhas seis mezinhas para um noviço em política". As quais compartilho agora com os estreantes, tal
como ele as prescreveu:
"Primeiro: não seja impaciente.
A impaciência é uma das faces da
estupidez. Entendo que quem está
na vida política não pode entrar
na história do dia para a noite. O
caminho é longo, perseverante,
difícil. A impaciência não acaba
só com carreiras futebolísticas.
Segundo: na política, em geral, e
especialmente no poder, se você
não pode fazer um amigo, não faça um inimigo. O inimigo guarda
o ódio na geladeira. O inimigo,
numa eleição, amanhece na boca
da urna dizendo que a mãe do
candidato não é honesta.
Terceiro: em política nunca se
deve proferir palavras irreparáveis, irretratáveis. E aqui eu recordo um conselho do Perón a
Isabelita, prevendo que ela assumiria a presidência da Argentina:
"Minha filha, em política fale
muito sobre coisas, pouco sobre
pessoas e nunca sobre você".
Quarto: em política você nunca
deve estar tão próximo que amanhã não possa ser adversário ou
inimigo. E nem tão distante que
amanhã fique em dificuldade por
ter que virar amigo.
Quinto: a grande arma de qualquer bom político é o trabalho. Eu
próprio costumo dizer que eu tenho estrela. Está certo que fui
muito ajudado pelos amigos e pelos acontecimentos, mas eu vivo
passando Kaol na minha estrela.
Sexto: é preciso saber a arte de
escutar. Escutar dá até infarto, dá
úlcera. O rei Faiçal, da Arábia
Saudita, dizia que Deus deu ao
homem dois ouvidos e uma só boca para ouvir o dobro e falar a
metade."
FERNANDO MORAIS, 56, jornalista e escritor, escreve aos domingos nesta seção
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