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SEGUNDO TURNO
Alunos prometem manifestação na terça-feira, em São Paulo, contra o suposto uso eleitoral dos novos cursos
De vitrine, Fatecs podem virar "vidraça"
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
Vedete da campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo
de São Paulo, a ampliação da rede
de Fatecs (Faculdades de Tecnologia), que neste ano aumentou o
número de vagas no ensino público de terceiro grau, é alvo de críticas de alunos, professores e funcionários da instituição.
A toque de caixa, Alckmin, candidato à reeleição, inaugurou nos
últimos meses quatro unidades
da Fatec, que, juntas, criaram 320
novas vagas. As faculdades, no
entanto, têm problemas de infra-estrutura e falta de pessoal.
Para as entidades que representam alunos, professores e funcionários, da forma como foi conduzida, a ampliação está levando ao
sucateamento das instituições,
mantidas pelo Centro Estadual de
Educação Tecnológica Paula Souza e vinculadas à Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Com a criação de quatro unidades neste ano e com promessa de
pelo menos mais duas para 2003,
o Orçamento-03 prevê um aumento de 300% nos investimentos das Fatecs em relação a 2002.
A previsão de despesas com
pessoal, porém, apresenta apenas
4,8% de aumento, o que indica
que não estão programadas novas
contratações para o ano que vem.
"A preocupação do governo parece ser apenas com a construção
dos prédios", disse Flávio Roberto
Neris de Oliveira, estudante da
Fatec Tiradentes e membro do
centro acadêmico.
Uma manifestação organizada
pelos alunos -com apoio de funcionários e docentes- das Fatecs
contra o uso da faculdade na campanha do governador está programada para o vão livre do
Masp, na capital, na manhã da
próxima terça-feira.
A Folha visitou quatro Fatecs na
última semana, três delas na
Grande São Paulo e uma em Jundiaí. Em todas existem problemas
de infra-estrutura, especialmente
nos laboratórios.
Das quatro unidades visitadas,
duas foram inauguradas neste
ano, a de Mauá, na Grande São
Paulo, e a de Jundiaí, no interior.
Além delas, o governo entregou
recentemente as unidades de
Praia Grande e Botucatu. Ao todo,
a rede conta com 14 Fatecs.
"É claro que estamos felizes
porque entramos na faculdade,
mas confesso que a situação está
um pouco precária", disse Luiz
Souza, 35, estudante do curso de
informática da unidade de Mauá.
Os 20 computadores do laboratório de Mauá não têm acesso à
internet. Segundo os alunos, apenas metade das máquinas está
sendo usada nas aulas.
"Isso porque nós só entramos
no laboratório uma vez até agora", disse Souza, que, junto de outros 39 alunos compõe a primeira
turma do curso.
A última unidade inaugurada,
no mês passado, foi a de Jundiaí,
onde apenas duas salas de aula estão disponíveis e a maior parte do
prédio ainda está em obras.
"A criação das novas Fatecs é visivelmente eleitoreira, pois o funcionamento das unidades esbarra
na baixa remuneração do corpo
docente", disse Elaine Skorzenski
Gonçalves dos Santos, presidente
do sindicato dos professores da
instituição. De acordo com a entidade, a hora-aula de um professor
auxiliar é R$ 6,14. O último reajuste concedido pelo governo, de 5%,
ocorreu em maio.
"Estão faltando professores
porque ninguém aceita ganhar
tão pouco", disse Elaine. Alunos
ouvidos pela Folha disseram que
algumas aulas chegaram a ser suspensas por falta de docentes.
De acordo com o sindicato, o
corpo docente da Fatec tem cerca
de 450 profissionais. O governo
do Estado, por meio do secretário
de Comunicação, Luiz Salgado
Ribeiro, afirma que não há fins
eleitorais na ampliação.
Nos programas do horário eleitoral de TV da última semana,
Alckmin prometeu a criação de
pelo menos duas novas unidades
em 2003, uma no ABC, outra na
zona sul da capital.
Coincidência ou não, em duas
das três cidades que compõem o
ABC, Santo André e São Bernardo, José Genoino (PT) venceu
Alckmin no primeiro turno.
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