São Paulo, domingo, 21 de julho de 2002

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ELEIÇÕES 2002

PROGRAMA

Partido divulga nesta terça versão final de seu plano de governo

PT quer sair da "armadilha" da âncora fiscal de FHC

PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de um mês de ajustes e discussões, o PT divulga na terça-feira em Brasília a versão final de seu projeto de programa de governo, que busca saídas para as "armadilhas da âncora fiscal" da gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso, como afirma o documento, obtido pela Folha.
Na linha de seguir uma proposta de "transição sem atropelos, sem rompimento de contratos e regras estabelecidas", o texto final petista abortou termos polêmicos, como "ruptura com o modelo econômico" e "denúncia [quebra" dos acordos com o FMI [Fundo Monetário Internacional"", presentes nas diretrizes econômicas aprovadas em dezembro do ano passado, em Recife, durante o seu 12º Encontro Nacional.
Sintomático é o fato de o FMI não ser nem sequer citado diretamente no documento. A única referência é indireta: "O atual governo colocou o Brasil num impasse financeiro, que nos obriga, com frequência, a contrair empréstimos novos para pagar empréstimos velhos".
Referências indiretas são o que restam também aos Estados Unidas: "As negociações da Alca [Área de Livre Comércio das Américas] não serão conduzidas em um clima de debate ideológico".

Transição confiável
O PT é crítico ao atual modelo econômico, mas procura afirmar que vai mudá-lo sem traumas, caso seu candidato a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, vença as eleições de outubro.
"Já tivemos a armadilha cambial. Saímos dela em 1999 com muitas dores, mas sobrevivemos. Agora temos o dilema da âncora fiscal. A questão é como superá-la, sem atentar contra a estabilidade da economia."
Essa preocupação de transição confiável permeia todo o texto, aprovado pela direção nacional no dia 28 de junho, mas cuja redação final terminou na semana passada.
"O nosso governo vai preservar o superávit primário [economia de recursos para pagamento da dívida pública] o quanto for necessário, de maneira a não permitir que ocorra um aumento da dívida interna em relação ao PIB [Produto Interno Bruto], o que poderia destruir a confiança na capacidade do governo de cumprir seus compromissos. Mas vai trabalhar firmemente para reduzir a vulnerabilidade externa e com ela as taxas de juros que hoje asfixiam as contas públicas e o setor empresarial produtivo", afirma o texto.
Na avaliação petista, o governo FHC estabeleceu um "equilíbrio fiscal precário", que dificulta a retomada do desenvolvimento econômico -cuja média dos anos 90 foi de 2,5% ao ano, contra taxa histórica de 7%.
"O resultado é que a âncora fiscal que evita o crescimento acelerado da dívida pública interna, pela via dos superávits primários, exige um esforço enorme de todos os brasileiros, afetando especialmente a viabilidade dos programas sociais do setor público", analisam.

Política industrial
O PT defende uma nova política industrial que se mantenha distante tanto do "velho nacional-desenvolvimentismo", que dominou as décadas de 50, 60 e 70, quanto do liberalismo característico dos anos 90.
"No primeiro caso, o modelo estabelecido estimulou práticas clientelistas, à custa de subsídios e benefícios distribuídos às empresas, sem preocupação com a competitividade e sem a definição de cronogramas e metas", diz o documento, em crítica ao período que se estende do final da era Getúlio Vargas ao final da linha dura do regime militar.
"A experiência liberalizante provocou a corrosão do tecido industrial, com perdas de elos importantes das cadeias produtivas, enfraquecendo a capacitação interna e ampliando a vulnerabilidade externa do país", diz o documento, em referência a período iniciado no governo Fernando Collor e que se estenderia até hoje, nas duas gestões do presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Malanismo"
O documento aponta o que seria a opção errada do "malanismo" -os quase oito anos de Pedro Malan no Ministério da Fazenda.
"Alguns dos maiores erros do governo foram a supervalorização das políticas macroeconômicas voltadas para a estabilização da moeda a qualquer custo, a abertura econômica desordenada e a remuneração privilegiada do capital financeiro em detrimento de políticas voltadas para o desenvolvimento e a remuneração adequada do capital produtivo."
O partido alinhava sua fórmula para sair do malanismo. "Sem crescimento, dificilmente estaremos imunes a uma espiral viciosa, levando a mais desemprego, desarranjo fiscal, déficits externos e incapacidade de honrar os compromissos internos e internacionais", diz o texto.
"O primeiro passo para crescer é reduzir a fragilidade externa com uma firme política de incentivo às exportações e substituição competitiva de importações. (...) O nosso governo vai montar um sistema combinado de crédito, de políticas industriais e tributárias. (...) Governo, empresários e trabalhadores terão de levar adiante uma grande mobilização nacional para fazer renascer a confiança de que podemos investir, criar empregos e combater os abismos sociais existentes", propõe.



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