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ELEIÇÕES 2002
PROGRAMA
Partido divulga nesta terça versão final de seu plano de governo
PT quer sair da "armadilha" da âncora fiscal de FHC
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de um mês de ajustes e
discussões, o PT divulga na terça-feira em Brasília a versão final de
seu projeto de programa de governo, que busca saídas para as
"armadilhas da âncora fiscal" da
gestão do presidente Fernando
Henrique Cardoso, como afirma
o documento, obtido pela Folha.
Na linha de seguir uma proposta de "transição sem atropelos,
sem rompimento de contratos e
regras estabelecidas", o texto final
petista abortou termos polêmicos, como "ruptura com o modelo econômico" e "denúncia [quebra" dos acordos com o FMI
[Fundo Monetário Internacional"", presentes nas diretrizes
econômicas aprovadas em dezembro do ano passado, em Recife, durante o seu 12º Encontro Nacional.
Sintomático é o fato de o FMI
não ser nem sequer citado diretamente no documento. A única referência é indireta: "O atual governo colocou o Brasil num impasse financeiro, que nos obriga,
com frequência, a contrair empréstimos novos para pagar empréstimos velhos".
Referências indiretas são o que
restam também aos Estados Unidas: "As negociações da Alca
[Área de Livre Comércio das
Américas] não serão conduzidas
em um clima de debate ideológico".
Transição confiável
O PT é crítico ao atual modelo
econômico, mas procura afirmar
que vai mudá-lo sem traumas, caso seu candidato a presidente,
Luiz Inácio Lula da Silva, vença as
eleições de outubro.
"Já tivemos a armadilha cambial. Saímos dela em 1999 com
muitas dores, mas sobrevivemos.
Agora temos o dilema da âncora
fiscal. A questão é como superá-la, sem atentar contra a estabilidade da economia."
Essa preocupação de transição
confiável permeia todo o texto,
aprovado pela direção nacional
no dia 28 de junho, mas cuja redação final terminou na semana
passada.
"O nosso governo vai preservar o superávit primário [economia
de recursos para pagamento da dívida pública] o quanto for necessário, de maneira a não permitir que ocorra um aumento da dívida interna em relação ao PIB
[Produto Interno Bruto], o que poderia destruir a confiança na
capacidade do governo de cumprir seus compromissos. Mas vai
trabalhar firmemente para reduzir a vulnerabilidade externa e
com ela as taxas de juros que hoje
asfixiam as contas públicas e o setor empresarial produtivo", afirma o texto.
Na avaliação petista, o governo
FHC estabeleceu um "equilíbrio
fiscal precário", que dificulta a retomada do desenvolvimento econômico -cuja média dos anos 90
foi de 2,5% ao ano, contra taxa
histórica de 7%.
"O resultado é que a âncora fiscal que evita o crescimento acelerado da dívida pública interna,
pela via dos superávits primários,
exige um esforço enorme de todos os brasileiros, afetando especialmente a viabilidade dos programas sociais do setor público",
analisam.
Política industrial
O PT defende uma nova política
industrial que se mantenha distante tanto do "velho nacional-desenvolvimentismo", que dominou as décadas de 50, 60 e 70,
quanto do liberalismo característico dos anos 90.
"No primeiro caso, o modelo
estabelecido estimulou práticas
clientelistas, à custa de subsídios e
benefícios distribuídos às empresas, sem preocupação com a competitividade e sem a definição de
cronogramas e metas", diz o documento, em crítica ao período
que se estende do final da era Getúlio Vargas ao final da linha dura
do regime militar.
"A experiência liberalizante
provocou a corrosão do tecido industrial, com perdas de elos importantes das cadeias produtivas,
enfraquecendo a capacitação interna e ampliando a vulnerabilidade externa do país", diz o documento, em referência a período
iniciado no governo Fernando
Collor e que se estenderia até hoje,
nas duas gestões do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
"Malanismo"
O documento aponta o que seria a opção errada do "malanismo" -os quase oito anos de Pedro Malan no Ministério da Fazenda.
"Alguns dos maiores erros do
governo foram a supervalorização das políticas macroeconômicas voltadas para a estabilização
da moeda a qualquer custo, a
abertura econômica desordenada
e a remuneração privilegiada do
capital financeiro em detrimento
de políticas voltadas para o desenvolvimento e a remuneração adequada do capital produtivo."
O partido alinhava sua fórmula
para sair do malanismo. "Sem
crescimento, dificilmente estaremos imunes a uma espiral viciosa,
levando a mais desemprego, desarranjo fiscal, déficits externos e
incapacidade de honrar os compromissos internos e internacionais", diz o texto.
"O primeiro passo para crescer
é reduzir a fragilidade externa
com uma firme política de incentivo às exportações e substituição
competitiva de importações. (...)
O nosso governo vai montar um
sistema combinado de crédito, de
políticas industriais e tributárias.
(...) Governo, empresários e trabalhadores terão de levar adiante
uma grande mobilização nacional
para fazer renascer a confiança de
que podemos investir, criar empregos e combater os abismos sociais existentes", propõe.
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