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LIGAÇÕES PERIGOSAS
José Carlos Martinez e Augusto Farias, irmão do ex-tesoureiro de Collor, confirmam dívida; ambos apóiam ex-presidente
Coordenador de Ciro deve à família de PC
MÁRIO MAGALHÃES
DA SUCURSAL DO RIO
As relações financeiras do coordenador-geral da campanha de
Ciro Gomes (PPS) à Presidência,
deputado José Carlos Martinez
(PTB-PR), com a família de Paulo
César Farias não são um fato do
passado: ainda hoje Martinez paga parcelas de uma dívida de milhões de reais a parentes de PC, o
ex-tesoureiro de Fernando Collor
assassinado em 1996.
As duas pontas do negócio o
confirmaram à Folha: o próprio
Martinez e o seu colega na Câmara Augusto Farias (PPB-AL), irmão de PC. Ambos apóiam Collor
(PRTB) na campanha para governador de Alagoas. O vice é do
PTB, que na eleição presidencial
integra a coligação pró-Ciro.
Os parlamentares afirmam que
o suporte da direção nacional do
PTB, partido presidido por Martinez, à manutenção da aliança a favor de Collor nada tem a ver com
negócios particulares entre eles.
Há divergências no relato sobre
outros aspectos.
Martinez e Augusto foram procurados para comentar uma declaração do alagoano à Folha em
99. Foi uma entrevista sobre os
homicídios de PC e sua namorada, Suzana Marcolino, pelos quais
o irmão do ex-tesoureiro seria indiciado como suspeito de co-autoria semanas depois (o caso hoje
está parado na Justiça). Augusto
Farias falava sobre o casal de filhos de PC, dos quais era o tutor.
""A família Martinez, cheia de
velhacos, está com R$ 3 milhões
dos meninos [os sobrinhos". Estamos executando judicialmente o
José Carlos Martinez, o irmão dele, Flávio, e o pai, Oscar. Venderam a CNT [rede de TV", da qual
Paulo César era sócio, e não pagaram aos meus sobrinhos."
À época, Martinez confirmou
dívida e valor (equivalia a US$ 1,6
milhão), mas disse que se tratava
de empréstimo de PC, que não seria um sócio oculto da emissora.
Reafirmou a versão na sexta-feira.
Augusto disse não saber mais do
que se tratava.
Ambos contam que houve parcelamento para o pagamento da
dívida. Conforme Augusto, ""foi
pago muito pouco". Segundo
Martinez, ""foi pago um monte".
Não foram revelados valores do
saldo, recalculado com juros, nem
a exata quantia entregue por PC a
Martinez no começo dos anos 90.
Em contradição com o que Augusto disse sobre venda da TV há
três anos, Martinez afirma que
sua família ainda controla a CNT.
Ele diz ser sócio minoritário.
O irmão de PC conta que o parcelamento e a atualização da dívida tiveram como fiadores ""o pai
[de Martinez", a mãe, o Flávio [irmão", a esposa do Flávio e a esposa do Martinez".
Os deputados não narraram outros negócios entre PC e Martinez.
A revista ""Veja" da semana passada informou que a Receita Federal, num levantamento sobre o
petebista, não encontrou registro
de nenhum empréstimo entre ele
e o ex-tesoureiro.
Martinez disse à CPI que investigou o esquema PC que comprara a emissora de TV com a ajuda
de um empréstimo, que teria sido
pago, de PC Farias. Martinez presidiu o PRN -o então partido de
Collor- no Paraná durante o governo do seu amigo.
O esquema PC foi um associação dirigida por Paulo César Farias para auferir ganhos ilícitos no
governo Collor. A CPI criada para
investigar o grupo serviu de base
para o afastamento do presidente.
O apoio de Martinez e do seu
PTB à primeira eleição disputada
por Fernando Collor desde que
seus direitos políticos foram restabelecidos levou inimigos de Ciro Gomes a reafirmarem ver nele
semelhanças com Collor. O PPS
-partido de Ciro- alagoano se
uniu à coligação pró-Collor, mas
a direção nacional quer sua saída.
Augusto Farias diz que sua presença na aliança é uma ""coincidência". A opção seria pragmática: ""É a chapa que dá mais chances de eu me reeleger".
O coordenador-geral da campanha de Ciro sublinha que o acerto
para pagar a dívida ocorreu em
1999 -Augusto não soube dizer
quando foi. A Folha não teve
acesso a documentos.
""Nem sonhávamos que iríamos
estar juntos agora", afirma Martinez. ""Eu e o Augusto somos muito amigos. Tivemos uma divergência naquela época [sobre a dívida", mas acertamos as contas."
Ele diz que não influenciou o
comportamento do PTB de Alagoas. E que a união a Collor foi a
maneira de fortalecer a bancada
de 14 deputados estaduais petebistas na busca pela reeleição.
Inicialmente, o PTB contava
com Collor como candidato a senador na coligação. Depois, o ex-presidente decidiu enfrentar o governador Ronaldo Lessa (PSB).
""A questão é que em Alagoas só
há duas correntes", diz Martinez.
""Mais da metade dos prefeitos é
do PTB. Como é que se fala para
essa turma: "Vocês vão ficar sem
candidato a governador?"'
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