|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PF cita Heráclito, mas não o inclui na lista de investigados
Relatório aponta, porém, troca de favores entre senador e lobista ligado a Dantas
Se a Justiça entender que
democrata é, sim, alvo da
apuração, o inquérito sairá
da 6ª Vara Criminal de SP
para o STF, devido ao foro
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Citado em pelo menos cinco
situações diferentes no inquérito da Operação Satiagraha, o
senador Heráclito Fortes
(DEM-PI) é apresentado como
integrante da rede de influência do Opportunity no poder. O
relatório da PF aponta ainda a
troca de favores entre o congressista e um lobista ligado a
Daniel Dantas, mas, apesar disso, afirma que nem ele nem outras autoridades citadas são
formalmente investigadas.
Se a Justiça decidir o contrário, isso poderá alterar os rumos da investigação. Nesse caso, o inquérito será enviado da
6ª Vara Criminal de São Paulo
ao STF (Supremo Tribunal Federal), onde cada novo passo
dependerá de autorização do
ministro escolhido como relator. Qualquer advogado dos envolvidos pode reivindicar a
transferência do inquérito.
Na semana passada, o presidente do STF, Gilmar Mendes,
ao permitir a Heráclito acesso
aos autos, considerou o senador como investigado.
Entre as cinco citações, segundo os documentos obtidos
pela Folha, está um organograma que o aponta como integrante do grupo "agentes públicos e políticos associados".
O congressista também aparece em escutas telefônicas falando com o publicitário Guilherme Sodré, o Guiga, que, segundo a PF, é lobista de Dantas
em Brasília. No relato da conversa, Guiga diz a Heráclito que
"todas as pendências foram resolvidas" e agradece a "grande
ajuda" do senador.
O diálogo ocorreu em 27 de
março deste ano, menos de
uma hora depois de Guiga conversar com o próprio Dantas ao
telefone. Segundo a PF, Dantas
diz ao publicitário "que acabou..., que fecharam o acordo".
Nesse mesmo dia, o Opportunity acertou sua saída da
Brasil Telecom, abrindo caminho para a venda da empresa
para a Oi. A criação da Supertele foi acompanhada com grande expectativa pelo governo, já
que os fundos de pensão são
sócios da Brasil Telecom.
Heráclito negou ontem ter
participado da negociação. Ele
disse à Folha que Guiga é seu
amigo e que a "ajuda" dada ao
publicitário foi para que ele
conseguisse o visto americano
para sua filha.
No dia seguinte (28), o democrata foi citado em conversa
de Guiga com o ex-deputado
Luiz Eduardo Greenhalgh
(PT). Guiga disse ao interlocutor que Heráclito foi ao plenário do Senado para "fazer a defesa da ministra" (da Casa Civil, Dilma Rousseff), no episódio do dossiê contra tucanos.
Naquele dia, Heráclito fez
um discurso contendo elogios a
Dilma. Mas sua fala também
teve críticas à atuação da Casa
Civil no episódio.
No dia 7 de abril, Heráclito
deixou recado na caixa postal
do celular de Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Dantas e
responsável pelos principais
negócios dele. O senador diz
estar ao lado do ministro da
Defesa, Nelson Jobim, e afirma
que Jobim está preocupado
com a segurança dele.
Ontem, Heráclito disse que
se referia ao divórcio entre Rodenburg e a mulher.
O senador é citado ainda em
uma conversa de Guiga com
Arthur Joaquim de Carvalho,
outro ex-cunhado de Dantas.
Arthur cobra de Guiga explicações sobre o comportamento
atípico de Heráclito, que teria
acusado a senadora petista Ideli Salvatti (SC) de estar a serviço de Dantas. "É posição de
partido, rapaz, ele não tem como ficar contra", explica Guiga.
Apesar das suspeitas, a PF
diz que Heráclito e outras autoridades "não são objetos" da
investigação.
(ALAN GRIPP, ADRIANO CEOLIN, RANIER BRAGON E RUBENS VALENTE)
Texto Anterior: PF retrata obsessão de banqueiro por segurança Próximo Texto: Outro lado: Heráclito diz que ajudou "Guiga" a obter visto Índice
|