São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2004

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PT NO DIVÃ

Ministro da Casa Civil afirma em reunião do partido que não pode falar por Lula

PT precisa sugerir mudanças ao governo Lula, diz Dirceu

SÍLVIA CORRÊA
RAFAEL CARIELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, disse ontem que, passado meio mandato da gestão petista, é "necessário" que o PT sugira a adoção de "uma série de mudanças" ao governo Lula.
A declaração foi dada no meio da tarde, quando Dirceu voltou à reunião do Diretório Nacional do partido, em São Paulo, após o almoço. Convocada para debater os resultados das eleições e o futuro do partido, a reunião transformou-se num debate sobre a política econômica e as alianças do governo federal.
O cerne das mudanças apoiadas por Dirceu e expressas em documento da direção nacional do partido seria o reforço dos investimentos em infra-estrutura.
Membro do núcleo duro do partido, o ministro acabou sendo o porta-voz do que foi ontem também uma das principais reivindicações das tendências mais à esquerda da legenda durante o primeiro dia de reunião do comando nacional da sigla. Leia trechos da entrevista:
 

Pergunta - O sr. ouviu, de manhã, um ministro dizendo que é necessário "enquadrar" a equipe econômica. O que acha disso?
José Dirceu -
Você que está dizendo. Olha, o diretório do PT, que é o partido que elegeu o presidente, o partido majoritário da coalizão, está discutindo o Brasil, não ministérios. A preocupação do PT é com o desenvolvimento do país, é como o governo pode acelerar esse desenvolvimento para além do crescimento econômico e como pode aumentar a eficiência da gestão das políticas sociais. O que o diretório está colocando é que é preciso aumentar os recursos para a infra-estrutura. Porque o Estado tem um papel. Além das PPPs, das concessões e do financiamento do BNDES e da Caixa, precisa ter recursos no Orçamento da União, mais recursos.

Pergunta - Isso exige redução do superávit primário?
Dirceu -
Essa discussão em detalhes o diretório não fez e não fará.

Pergunta - Não se falou em mudança da política econômica? De redução de juros?
Dirceu -
Existem muitos membros do diretório que criticam a política de juros e a relação do superávit. Mas o país sabe que nós temos uma dívida interna, que foi alongada, foi dolarizada e, em parte, pré-fixada. Então, temos de reconhecer esse avanço.

Pergunta - O sr. acha, então, que há chance de se fazer um documento único de sugestão a partir desse encontro, sem cisão interna?
Dirceu -
Isso eu não sei, não tenho idéia, porque eu infelizmente não tenho mais tempo para acompanhar essas questões internas do partido.

Pergunta - As tendências mais à esquerda dizem que as alianças levam o governo a um certo conservadorismo. Falou-se até de governo de centro-direita.
Dirceu -
O governo é de centro-esquerda. O que não pode é um partido como o PP apoiar o governo desde o primeiro ano e não participar do governo. É necessário formar um governo de coalizão. O que tem de se olhar é se o programa do governo está mudando de rumo. Eu não acredito. Fica claro que o PMDB quer uma mudança na sua participação no governo. O PP também quer participar. Eu não acredito que isso vá levar o governo para essa ou aquela posição. Agora, que o PT precisa, nesse contexto, fazer um balanço dos dois anos e apresentar para o presidente uma série de propostas de mudanças no governo é mais do que legítimo, e eu considero necessário.

Pergunta - Que mudanças?
Dirceu -
Essas mudanças o Diretório Nacional vai discutir. Não sou hoje dirigente do PT e tenho responsabilidades no governo.

Pergunta - O sr. disse há pouco que concorda com boa parte do raciocínio de Celso Furtado. Concorda que Carlos Lessa deveria permanecer no BNDES, como ele dizia?
Dirceu -
Não, não concordo. O presidente Lula tomou a decisão no momento correto e acertado.

Pergunta - O sr. admitiu que o partido vai sugerir mudanças e reconheceu críticas à política de juros. O governo quer mudar?
Dirceu -
Quem fala sobre o governo, nesse sentido, é só o presidente Lula. Eu estou aqui como membro do Diretório Nacional.


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