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TÚNEL DO TEMPO
Ex-assessor quis bingo como "jogo do bem"
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois anos e meio antes de se tornar o pivô da primeira grande crise do governo Lula por ter sido filmado pedindo doação de campanha e propina a um empresário
do bingo, Waldomiro Diniz, ex-assessor da Casa Civil, esteve em
audiência pública na Câmara defendendo a regulamentação dos
bingos de forma que eles se tornassem "o jogo do bem".
Na ocasião, 5 de junho de 2001,
Waldomiro foi ao Legislativo federal como presidente da Loterj
(Loteria do Estado do Rio de Janeiro) e disse que a destinação de
recursos provenientes do jogo para a construção de creches e para
as atividades esportivas validava a
atividade. "[Estamos] Procedendo de forma transparente, a mais
eficiente possível, usando os bingos, as entidades, para o que chamamos de o jogo do bem, procurando arrecadar bem", disse, dando como exemplo a situação do
Rio, que tinha, na ocasião, 25 casas de bingo em funcionamento.
A audiência, realizada na Comissão de Educação, Cultura e
Desporto, discutia seis projetos
relacionados à regulamentação
do jogo. Além de Waldomiro, outro dos convidados era o presidente da Abrabin (Associação
Brasileira de Bingos), Olavo Salles, que defendeu uma alteração
na legislação para aliviar a tributação das casas de jogos.
"O senhor Olavo Salles da Silveira, da Abrabin, falou muito
bem sobre a questão tributária",
disse, na época, o ex-assessor.
Depoimento ao ministério público sustenta que Salles intermediava o suposto lobby pró-bingo
que Waldomiro teria feito no
Congresso desde janeiro do ano
passado.
O então presidente da Loterj baseou sua fala na experiência que
acumulava. "Hoje, todos os recursos da loteria de bingos do Estado são destinados à política social. Posso citar alguns números.
Apenas em 2001, iremos transferir para a ação social algo em torno de R$ 13 milhões, a serem aplicados em creches", disse.
"Se tivermos bom senso, em
conjunto com a Caixa Econômica
Federal e o governo, através do
trabalho do deputado Gilmar Machado [PT-RJ], avançaremos
muito", acrescentou.
Machado era o relator dos seis
projetos e, cinco meses mais tarde, citou Waldomiro em seu relatório, amplamente favorável ao
funcionamento das casas de jogos: "Doutor Waldomiro demonstrou o funcionamento dos
bingos do Rio de Janeiro e como
vêm contribuindo de forma decisiva para as obras sociais, com total transparência", escreveu.
Machado afirmou em seu relatório que "a extinção do bingo
traria enorme prejuízos não só
para o desporto como para os
quase cem mil trabalhadores dos
estabelecimentos que exploram
essa atividade". A proposta acabou não andando no Congresso.
Na sexta-feira, horas depois de
Lula anunciar a medida provisória proibindo os bingos, Machado
se resignava a colocar um ponto
final na história. "O presidente
não quer saber disso não."
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