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Escândalos e racha em SP assombram os 20 anos do PSDB
Aniversário é marcado por pelo menos três casos de corrupção em gestões pelo país e guerra na maior base eleitoral da legenda
Tucanos apontam como uma das causas do "inferno astral" a disputa antecipada entre Serra e Aécio pela candidatura à Presidência
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL
Sete meses depois de realizar
um congresso destinado a revitalizar o partido para a sucessão presidencial de 2010, o
PSDB completará 20 anos na
próxima quarta às voltas com
três escândalos de corrupção
em administrações pelo país e
com uma guerra declarada em
sua principal base eleitoral, São
Paulo -que poderá ganhar
contornos ainda mais explosivos hoje, seja qual for o resultado da convenção na capital.
É diante desse cenário, que
só fez se agravar desde o congresso de 23 de novembro, que
o partido reunirá todos os caciques que se alfinetam nos bastidores, na quarta-feira, em
uma sessão solene do Congresso. Se naquela época o dilema
tucano resumia-se à disputa
antecipada entre os governadores José Serra (SP) e Aécio Neves (MG) pela candidatura à
Presidência, hoje se alastra em
crises regionais.
A maior delas está localizada
justamente na maior cidade do
país, onde Geraldo Alckmin,
que há dois anos era o candidato da sigla ao Palácio do Planalto, não conseguiu construir um
consenso para concorrer à prefeitura. A ala majoritária dos
vereadores tucanos preferiu indicar o vice de Gilberto Kassab
(DEM), herdeiro do cargo deixado por Serra. A disputa entre
kassabistas e alckmistas deixou
os bastidores e ganhou contornos de guerra campal, com xingamentos, recursos judiciais e
até ameaças de cadeiradas.
Pelo país, o partido tem pelo
menos três escândalos em investigação: 1) a crise do Detran
gaúcho, que derrubou o núcleo
do governo Yeda Crusius; 2) o
caso da multinacional Alstom,
suspeita de ter pago propina a
tucanos em São Paulo em troca
de contratos no Estado; e 3) os
desdobramentos da Operação
Santa Tereza da Polícia Federal, que apontou o prefeito tucano de Praia Grande, Alberto
Mourão, como um dos beneficiários de desvios do BNDES.
A essa lista recente, somam-se processos contra os governadores Cássio Cunha Lima (PB),
que enfrenta ação na Justiça
Eleitoral por uso da máquina
na reeleição, e Teotonio Vilela
Filho (AL), denunciado pelo
Ministério Público por envolvimento no esquema desbaratado pela Operação Navalha da
PF, que apontou fraudes em licitações. Ele nega participação.
Além dos problemas no campo ético -terreno em que Alckmin criticou Lula em 2006-, o
PSDB enfrenta a falta de quadros políticos expressivos e de
projeto de poder próprio nos
principais Estados. O partido
só disputará as eleições como
favorito em três capitais: Curitiba (PR), Cuiabá (MT) e Teresina (PI). Em São Paulo, Alckmin disputa a liderança nas
pesquisas com Marta Suplicy
(PT), mas é questionado internamente. Em Salvador, tem um
candidato competitivo, Antonio Imbassahy, mas que enfrenta a falta de aliados de peso
e de estrutura de campanha.
O PSDB não terá candidatos
em Belo Horizonte, a despeito
da alta popularidade de Aécio
Neves, reeleito no primeiro
turno com 77% dos votos, nem
no Rio de Janeiro, onde é raquítico eleitoralmente. Também
não haverá tucanos na cabeça
de chapa em Recife (PE), terra
do presidente nacional da sigla,
Sérgio Guerra, nem em Fortaleza (CE), base de outro cacique, o senador Tasso Jereissati.
"Crises naturais"
A despeito de todas as dificuldades concretas, Guerra
tenta minimizar o inferno astral tucano. "São crises naturais
da vida de qualquer partido,
que serão debeladas. O PSDB
tem bons governadores e construiu parte da história do país."
Mais realista é o líder do partido na Câmara, José Aníbal
(SP), um dos mais ferrenhos
partidários de Alckmin na cizânia paulistana. "Estamos exacerbados em atitudes pessoais.
Faltam idéias ao partido, que
começa a reduzir sua capacidade de intervir nas questões nacionais. É uma crise séria, que
precisa ser bem trabalhada."
Ao analisar o cenário, os tucanos são unânimes em apontar a disputa antecipada entre
Serra e Aécio como causa tanto
da guerra em São Paulo quanto
da falta de um candidato competitivo em BH, segundo maior
colégio eleitoral do país. "Espero que o partido saiba chegar à
concórdia em São Paulo. Um
erro grave que eu cometa no
Amazonas não afeta o PSDB,
mas não dá para dizer o mesmo
de São Paulo", alerta o líder no
Senado, Arthur Virgílio.
""Temos que nos depurar,
pensar para a frente, não ter
vergonha do nosso legado e,
principalmente, não ficar reféns da disputa paulistana", diz
o deputado Gustavo Fruet
(PR), um dos símbolos da nova
geração da legenda.
Os tucanos temem que, se
sair muito machucado da disputa interna, Alckmin deixe o
partido. Ou, se for eleito apesar
do boicote de setores do PSDB
no Estado, pode se engajar prematuramente na campanha de
Aécio, antecipando 2010.
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