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Marketing expõe ponto fraco de candidatos
MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA
As artes da manipulação
política vão ficando tão
precisas e "científicas" que mesmo os dons de criatividade pessoal dos marqueteiros -para nada dizer da autenticidade dos
candidatos- já pertencem a
uma época ultrapassada e cheia
de romantismo.
Os programas do horário eleitoral paulistano parecem obedecer
com rigidez de autômato ao que é
ditado pelas pesquisas qualitativas. O resultado é paradoxal: sem
querer, e com pouquíssima sutileza, os marqueteiros nada mais fazem do que revelar os pontos fracos de cada candidato. É só ver a
propaganda para saber as falhas
que eles querem reparar.
Paulo Maluf é acusado de desviar dinheiro para o exterior? A
propaganda mostra um mapa-múndi, com uma chuva de dólares sendo remetida para o Brasil.
Isso para dizer que a Eucatex, firma do ex-prefeito, traz divisas para cá. O eleitor de Paulo Maluf é
tido como bronco, desinformado,
destituído de senso crítico? A propaganda diz que "quem pensa"
vota nele -e vemos uma série de
tipos populares apontando o dedo para a própria cachola. Só o
coração (tema dos anúncios malufistas na época de Duda Mendonça) não basta. Alguns gostariam do retorno do regime militar; outros, do retorno dos recursos que tanta gente envia para os
paraísos fiscais. A campanha malufista explora o tema da "volta":
do leve-leite, do Cingapura, do
PAS, do próprio Paulo.
Marta Suplicy é considerada
uma dondoca arrogante e deslumbrada? Mostram-na como
uma avó carinhosa e pacata; ou
uma senhora despretensiosa e pé-de-boi: uma alma de Erundina
sob o invólucro da Daslu. Setores
do eleitorado não engolem seu
novo casamento? O próprio
Eduardo Suplicy aparece elogiando Marta, e se o casamento não se
manteve é porque a prefeita é incapaz de conviver com a falsidade. Mas é claro que há obras a
mostrar. E, se beleza é o quesito,
nada melhor do que nos levar a
um distante CEU onde senhoras
da periferia também alcançam o
direito, nos fins de semana, de dar
um trato no cabelo e freqüentar
manicures: "oficinas para deixar
todo mundo mais bonito". O ponto fraco da administração, depreende-se facilmente, é a saúde,
área em que a prefeita diz que fará uma revolução comparável à
que fez no transporte e na educação. Por falar em educação a propaganda informa que a prefeita
"está acabando" com as vergonhosas escolas de lata. Pitta deixou 61; em quatro anos, foram desativadas dez. Não pensei que demorasse tanto tempo assim.
José Serra é frio, feio, técnico,
antipopular? Lá está ele mostrando que não tem medo de criancinha, vacinando carinhosamente
os inocentes, ouvindo com modéstia as efusões dos mais velhos.
Saúde é tudo, mas também aqui a
beleza é fundamental. O close de
seu rosto corta a parte de cima da
calva, evitando o superdimensionamento da circunferência craniana, o que talvez conotasse excessiva intelectualidade para os
padrões de sucesso eleitoral em vigor. Também por isso a sua propaganda é a que mais abusa de
clichês e obviedades. "Visão de futuro", "planejamento", "orgulho
desta cidade", "preparo", "competência"... Entre construir túneis
em bairros de rico e cuidar das
crianças, o candidato optará pelas crianças. Entre plantar coqueiros e cuidar da saúde, decide-se (surpresa) pela saúde. O oposicionismo de Serra à atual prefeita
parece por enquanto bastante
frouxo; é que, depois das suas supostas maldades no caso Roseana, temos agora "o candidato do
bem".
Mas o grande ato falho destes
primeiros dias coube a Michel Temer. Apoiando Erundina, diz que
o PMDB está fazendo uma
"aliança com a ética". Já não era
sem tempo.
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