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JANIO DE FREITAS
A verdade que falta
A explicação que Luiz Inácio Lula da Silva vem repetindo, para contestar que a política econômica do seu governo seja
a continuidade da praticada pelo
governo anterior, não tem fundamento e, de certo modo, até serve
como confirmação do que pretende negar.
Dizer que a Carta ao Povo Brasileiro, lançada como peça da
campanha eleitoral, fazia referência a um período de transição,
é dizer uma verdade, mas exatamente a verdade que falta à política econômica do governo. Transição é o fim da permanência, é
mudança de lugar, de forma ou
de modo, é não estar mais na situação anterior sem chegar ainda
à nova.
Desde a escolha do presidente
do Banco Central até o recente e
segundo aumento de juros, tudo o
que foi feito ou dito em política
econômica reproduziu, sem mudança alguma de concepção e de
método, as práticas e os argumentos da política econômica do governo anterior. Ou seja, ainda
não houve nem sequer o início de
ação que sugira mudança, ou,
nos termos adotados para a Carta, início de transição da política
econômica ortodoxa e pró-"mercado" para alguma outra.
É evidente que Lula, os que executam a política econômica e o
PT conhecem muito bem a relação indispensável entre transição
e movimento de mudança, mesmo que só incipiente. Tanto que,
na Carta, falaram em começar
pelo período de transição e, na
TV, Lula prometia que "a mudança de política econômica é tarefa para o primeiro dia" de seu
governo. Transição e mudança
eram conceitos devidamente associados.
Tal como a Carta, a promessa
ficou impressa. Também indissociáveis, para que uma não se
preste a distorções e escapismos
contrários à outra - e à autenticidade dos fatos e das palavras.
Os grampos
As gravações de telefones na Bahia constituem um caso de alta
gravidade.
Apesar de certas preferências
por tratá-lo como assunto de conversa de comadres, na fofoquice
das intimidades, o que está em
questão neste caso, à espera da
apuração de veracidades e responsabilidades, é o uso abusivo
do poder de polícia, é a autoridade do Judiciário, são os direitos
individuais fixados pela Constituição, são crimes eleitorais, é
grossa corrupção envolvendo parlamentares, administração pública e empresas privadas.
O ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, moveu prontamente a Polícia Federal para investigar e identificar executores e
mandantes das gravações. Mas a
omissão do Congresso, diante dos
indícios já conhecidos contra integrantes seus, é antidemocrática
e, também ela, transgressora de
princípios fixados pela Constituição.
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