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BAHIAGATE
Presidente avalia que pefelista será cassado se
insistir em enfrentar acusações de ser mandante de grampo ilegal
Lula articula queda rápida de ACM para evitar crise no Senado
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva avalia que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA)
deve renunciar ao mandato e vai,
discretamente, articular essa saída para evitar que o Bahiagate
contamine sua base congressual.
A Folha apurou que Lula acha
que, se ACM insistir em enfrentar
as acusações do Bahiagate até o
fim, será cassado, mas deixará
uma série de problemas para o
Congresso e o governo.
O presidente deseja que ACM
renuncie logo para evitar nova
crise no Senado, o que poderia dificultar a tramitação das reformas
e dos projetos que lhe interessam.
Em 2001, a disputa entre ACM e
Jader Barbalho (PMDB-PA), que
se elegeu presidente do Senado,
levou os dois à renúncia e causou
séria crise política.
Nos bastidores, Lula e um emissário, o ministro-chefe da Casa
Civil, José Dirceu, deverão ter
conversas com o presidente do
Senado, José Sarney (PMDB-AC),
para incentivar a renúncia de
ACM. Publicamente, o governo
continuará com o discurso de que
investigação política é assunto do
Congresso e de que está fazendo a
sua parte com a investigação da
PF (Polícia Federal).
Segundo a Folha apurou, na
noite de anteontem, sexta-feira,
logo após o término do primeiro
de reunião do presidente com os
27 governadores, Lula soube que
as revistas "IstoÉ" e "Época" trariam reportagens muito negativas
para ACM, ligando-o ao megagrampo ilegal na Bahia.
A "IstoÉ" revela na edição desta
semana que ACM teria dito a um
repórter da revista que mandara
grampear o deputado federal
Geddel Vieira Lima (PMDB-BA),
seu adversário político.
A "Época" trouxe reportagem
sobre um depoimento da ex-namorada de ACM Adriana Barreto
a procuradores dando conta de
que o pefelista lhe mostrara trechos da escuta clandestina.
Informações da PF dadas a Lula
também reforçaram a avaliação
de que ACM está perdido. "É o
fim da linha para ele [ACM]", disse Lula, segundo um auxiliar.
Nos bastidores, Sarney tem sido
até agora o maior defensor de
ACM e, por isso, é o canal para a
articulação da renúncia. O agravamento da situação de ACM, porém, deverá levar Sarney a lavar as
mãos, exatamente o que o governo fez semana passada, como revelou a Folha.
Na reabertura dos trabalhos do
Congresso, no dia 17, José Dirceu
foi ao Senado para uma conversa
de 15 minutos com Sarney. Ironicamente, eles queriam evitar o telefone por temer grampo.
Dirceu disse a Sarney que o governo não defenderia ACM e que
não poderia bancar um acordo
para elegê-lo presidente de uma
das mais poderosas comissões do
Senado. Horas depois, ACM
abandonou a candidatura à presidência da comissão.
Antes disso, Lula já orientara
auxiliares a se descolar de ACM,
avaliando que a situação ganhara
"dinâmica própria" e que, nem
que quisesse, poderia salvá-lo.
A articulação Lula-Sarney deverá ser rápida, a fim de tentar dissipar o clima para a instalação de
uma CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito). Para o governo,
uma CPI atrapalharia a tramitação das reformas.
A renúncia de ACM também
evitaria desgastante investigação
no Conselho de Ética do Senado.
O PT, semana passada, barrou
uma investigação propriamente
dita do conselho e patrocinou a
criação de uma comissão para
acompanhar o inquérito da PF.
Resta saber se ACM, que tem dito publicamente que não renunciará, aceitará essa saída. A cúpula
do PFL acredita que é a única.
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