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ESPERANÇA X MEDO
Mudança brusca de modelo provocaria impeachment, diz filósofa
Alta dos juros é aceitável, diz Chauí
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora do departamento
de filosofia da USP Marilena
Chauí, ligada ao PT, afirmou que
considerava aceitável a última elevação da taxa básica de juros determinada pelo Banco Central
porque não quer "que haja impeachment" do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
"Qualquer tentativa de sair do
modelo neoliberal da noite para o
dia provocaria o impeachment",
disse ela na última quinta-feira,
após participar de debate sobre a
"mercantilização da educação",
em auditório da USP.
Durante o debate, do qual também participou o professor licenciado de física da USP Otaviano
Helene -atual presidente do
Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais),
órgão vinculado ao Ministério da
Educação-, Chauí defendeu a
saída gradual do atual modelo de
política econômica.
"Estamos com esse modelo
[econômico] implantado exatamente há dez anos. Não é possível
que em 35 dias se espere de um
governo que ele desmonte um
modelo implantado durante dez
anos. Precisa ter cuidado."
Chauí defendeu a decisão do BC
sob o governo Lula de aumentar a
taxa básica de juros de 25,5% para
26,5% para conter a inflação e disse não haver alternativa à atual
política econômica a curto prazo.
"Por enquanto, não tem jeito,
porque o modelo colocou o Brasil
numa dependência internacional
jamais vista. Não precisa ter uma
tempestade lá fora para acontecer
alguma coisa, soprou uma brisa lá
fora você tem consequência
aqui", afirmou.
"Não tem jeito. Fomos lançados
nessa total subordinação. E eu
não quero que haja impeachment. Quero que o Lula governe.
Portanto é preciso que haja um
período no qual se possa perceber
que ele é capaz de realizar o projeto social."
Autonomia do BC
A professora de filosofia, no entanto, disse concordar com as críticas do sociólogo Francisco de
Oliveira à possível autonomia do
Banco Central, uma das reformas
prioritárias para o governo federal. Oliveira afirmou em entrevista à Folha, após aula magna na
USP, que a autonomia do BC significaria esvaziar o sentido de
mudança contido na eleição do
presidente Lula.
Para Chauí, "a ênfase de Chico
de Oliveira contra a autonomia"
do BC se justifica pelo fato de que
"a luta democrática e republicana
está demarcada agora pela luta
pelo fundo público [recursos do
Estado]".
Intelectuais do PT
Mas disse que os intelectuais do
PT enfrentam "um problema gravíssimo": "Chico [de Oliveira]
tem dito isso, [o sociólogo] Emir
Sader tem dito isso. [Que] a nossa
função é gritar, ser contra, criticar, fazer tudo isso que temos que
fazer porque é necessário para um
governo democrático. Mas ninguém sabe como se sai do modelo
neoliberal".
Segundo a secretária de Cultura
na gestão de Luiza Erundina (então no PT) à frente da Prefeitura
de São Paulo, "seremos os primeiros no planeta a sair do modelo".
"Vai ser complicado porque a
gente não sabe como sai. Nós vamos inventar o jeito que sai. O que
significa que vamos errar. Vamos
errar muito para sair, mas é isso
que vai fazer a nossa grandeza: se
daqui a quatro anos o modelo estiver efetivamente terminado",
disse ela.
Chauí disse que o presidente
não vai simplesmente "tentar"
sair do atual modelo econômico.
"Não é a tentativa: é a obrigação
de sair do modelo. Foi para isso
que ele foi eleito. Vai ser dificílimo."
(RAFAEL CARIELLO)
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