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POLÊMICA
D. Dadeus Grings diz que as grandes vítimas do nazismo foram os católicos, e não os judeus, que considera "ingratos"
Arcebispo minimiza Holocausto judeu
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
O arcebispo de Porto Alegre,
dom Dadeus Grings, 66, desconsiderou, em artigo, o Holocausto
-genocídio praticado pelos nazistas durante a Segunda Guerra
Mundial (1939-45), que, segundo
registros históricos, matou 6 milhões de judeus. Representante do
conservadorismo católico, Grings
diz ter havido 1 milhão de judeus
mortos no Holocausto dentro do
universo de 22 milhões de vítimas
fatais. O artigo está no site
www.portaldocatolico.com.br.
"Sem entrar na questão de número das vítimas, que tem muito
de ideológica, é preciso reconhecer, como historicamente comprovado, que o nazismo provocou em torno de 22 milhões de
mortes, sendo que os judeus participam desta cifra com cerca de 1
milhão. Portanto a grande vítima
do nazismo não foram os judeus,
mas os cristãos", diz Grings.
Questionado pela Agência Folha a respeito do fato de que pessoas eram mortas pelo simples fato de serem judias, afirmou: "O
número de 22 milhões já foi comprovado. Os 6 milhões, não. Há
historiadores que divergem. E se
forem 6 milhões, o que isso representa dentro de 22 milhões? Nós,
católicos, fomos as principais vítimas do Holocausto".
Defendendo o papa Pio 12 (que
exerceu o pontificado durante a
Segunda Guerra e é acusado de
omissão em relação ao nazismo),
o arcebispo aumenta o tom na crítica aos judeus e chega a colocar
em dúvida a "utilidade" da salvação de vidas. "Os judeus denigrem a imagem de Pio 12. Valeu a
pena ele fazer tanto esforço para
salvá-los? Os judeus são ingratos", diz. "Não sei qual o interesse
em denegrir a imagem de Pio 12,
um dos nossos grandes papas. Essa campanha só pode ser dos judeus. Não sei por que fazem isso."
No artigo em que relativiza o
Holocausto judeu, Grings afirma:
"Pio 12 dirigiu a Igreja nos difíceis
tempos da Segunda Guerra Mundial e da Guerra fria, com uma sabedoria que se tornou modelar".
Citando "um historiador judeu",
Grings afirma no artigo que o papa salvou 850 mil judeus "durante
o período da dominação nazista".
Trajetória polêmica
Grings, que assumiu o arcebispado em fevereiro de 2001, já provocou outras polêmicas.
No início do ano passado, lançou uma cartilha de orientação
aos católicos para as eleições à
Presidência e ao governo do Estado. Recomendava o não-voto em
candidato com as seguintes características, entre outras: que prega
o marxismo, que "propaga que,
em matéria de sexo, não existe
certo ou errado"; que "incentiva
invasões de propriedades legitimamente adquiridas".
Em encontro com empresários
na Federasul (Federação das Associações Empresariais do Rio
Grande do Sul), em junho, disse
que a igreja estava afastada do PT
-que "saiu dos fundos das sacristias"- e que "os padres que
simpatizam com o PT não representam a igreja".
Em cartilha agrária lançada por
ele no final de 2002, há fortes críticas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
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