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JANIO DE FREITAS
A mudança do reformista
Quinhentos dias de governo
merecem mesmo um grande
discurso em rede nacional de TV.
E um grande discurso não dispensa o momento culminante de uma
afirmação grandiosa do presidente para o seu povo. Lula não faltou
com o discurso nem com a frase,
antes de embarcar para a China:
"Fui eleito para fazer mudanças.
Essa é minha missão e dela não
abro mão".
Está confirmada, portanto, a
mudança de Lula para a Granja
do Torto, enquanto o Palácio da
Alvorada estiver em reforma.
Eleição
Um lado atacou com a corrupção no Ministério da Saúde "dos
governos anteriores", o outro respondeu em 24 horas com o envolvimento de um deputado petista
no assassinato do prefeito Celso
Daniel, de Santo André. Pronto,
estão estabelecidos o tom e a grandeza temática da disputa eleitoral
que Marta Suplicy e José Serra
projetarão de São Paulo para o
restante do país.
É uma disputa que impressiona
já a partir dos seus termos mais
pessoais.
Com mais de três anos no comando da prefeitura, estar apoiada para a reeleição por apenas
17% dos eleitores, nem dois em cada dez concidadãos, é um atestado tão contundente de fracasso
que só a ausência total de autocrítica, ou seja do que for, faz insistir
em reeleição. Em tais condições,
está claro que a possibilidade de
reeleição de Marta Suplicy depende de dois fatores alheios ao seu
pouco aprovado desempenho na
prefeitura.
Um deles é o grau de eficácia
que a propaganda de sua campanha alcance. O outro é a participação do governo Lula, mais do
que em eventos promocionais, nas
transações para adquirir apoios à
sua candidata. Com um pouco
mais de disposição da mídia, isso
já estaria em nível de escândalo:
até cargos importantes no Ministério da Saúde, este mesmo que
treme sob um caso de corrupção
talvez bilionária, foram ofertados
a malufistas como aperitivo para
o apoio do PP a Marta Suplicy.
A lucidez da candidatura de José Serra a prefeito é pelo menos
discutível. Em mais dois anos, estaria em situação privilegiada para escolher entre duas possibilidades expressivas: a candidatura ao
governo paulista, como representante do bem cotado governo
Alckmin, ou a candidatura de
oposição à Presidência. Neste caso, com perspectivas que o governo Lula vai tornando cada vez
mais promissoras, e nada sugere
que o cenário passe por alteração
radical até 2006.
Serra fez a escolha menor. Se
vencer, dificilmente teria condições políticas para abandonar a
prefeitura com apenas um ano de
mandato e concorrer à Presidência. Se perder, terá esvaziado muito, talvez sem remédio, a posição
excepcional de provável pólo dos
eleitores de Lula que se sentem ludibriados, aos quais se somariam
os naturalmente seus. Uma senhora massa de votos.
Vitória
Vasto noticiário informou que o
Rio perdeu a disputa pela Olimpíada de 2012. Não, o Rio ganhou,
o Rio simbolizado pelos seus cofres
públicos. Quem perdeu foram os
que esperavam as comissões provenientes dos bilhões em obras gigantescas, para construção de estádios e infra-estrutura, e a TV
Globo, que faturaria fortunas com
a transmissão nacional e internacional dos jogos.
É um engodo negocista a história de que Copas e Olimpíadas
compensam, até com lucro, o investimento que exigem nos países
sem prévias condições para realizá-las. A foto de uma favela carioca basta para provar onde o Rio
deveria investir, e só o faz na mínima medida para não dizer que
não o faz.
Com a exclusão do Rio, a TV recebeu uma retribuição pelo sensacionalismo com que engrandece e
projeta os males cariocas. O pessoal do superfaturamento e respectivas comissões logo produzirá
novas idéias.
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