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Debates da tarde
abordam nova
ordem mundial
LUÍS NASSIF
COLUNISTA DA FOLHA
Os debates da parte da tarde,
no lançamento do Instituto
Fernando Henrique Cardoso,
juntou 70 pessoas para falar sobre a nova ordem mundial. Estavam presentes economistas,
ex-membros do governo, como José Serra, e intelectuais,
como José Arthur Gianotti.
A primeira mesa de debates
foi composta por Antonio Gutierrez, Rubens Ricupero, Lionel Jospin, Celso Lafer e FHC.
O ponto central do raciocínio
foi esboçado por Ricupero,
num debate entre o multilateralismo e o unilateralismo de
George W. Bush. O Iraque
marcou o rompimento do
multilateralismo. O fracasso
dos EUA significou o golpe
quase mortal no unilateralismo
norte-americano.
O novo multilateralismo teria
que ser com desenvolvimento
sustentado e coesão social, segundo Gutierrez. As sugestões
passam pela reforma da ONU e
pela recomposição do conceito
de segurança.
A visão de Ricupero vai nessa
direção. Inicialmente, rebateu
as alegações do governo Bush
acerca da falência do multilateralismo para o combate ao terrorismo e às novas crises internacionais. A ONU atuou rapidamente, os Bancos Centrais
dos principais países agiram
para evitar que a crise se propagasse. O modelo foi atropelado
pela pressão norte-americana,
que não deu o prazo necessário
para os inspetores da ONU.
O fracasso do Iraque demonstrou não apenas a falta de
legitimidade da coalização,
mas a incompetência da operação. E trouxe de volta o reconhecimento da indispensabilidade do multilateralismo.
Foi a idéia do "eixo do mal"
que agravou o dissenso, com
Bush passando a defender a
idéia do ataque preventivo.
Hoje em dia, a expressão
maior dos males do unilateralismo, segundo Ricupero, é a
questão do Oriente Médio e o
conflito Israel-Palestina.
A questão central, diz ele, é
que a montagem de todas as
novas ordens internacionais
conhecidas se seguiu a guerras,
nas quais o inimigo era destruído, e o vencedor, responsável
pela reconstrução. A crise atual
não tem essas características. O
fim da URSS não veio com a
destruição dos perdedores
nem das instituições. Por isso o
processo de reconstrução é
muito mais imprevisível.
Nesse quadro, o que se está
ao alcance é retomar as reconstruções das instituições, de maneira a adaptá-las para enfrentar os problemas de 2003.
Ricupero propõe que se circunscreva os problemas aos
três maiores: genocídio, internacionalização do terrorismo e
risco de proliferação de armas
de destruição.
A dúvida de Jospin é se o unilateralismo é característica do
governo Bush ou da própria
América. A maneira mais fácil
de saber seria vencer o governo
Bush, diz ele. O único meio seria convencer os norte-americanos de que é de seu interesse
participar de uma ordem multilateral. A posição de Ricupero
é que o problema do unilateralismo é da própria sociedade
norte-americana.
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