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ELEIÇÕES 2004
Tribos dispensam porta-vozes e querem mais participação direta; cidades em MG e BA terão índios candidatos a prefeito
Nova geração indígena busca espaço político
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOÃO DAS MISSÕES
Dizendo-se cansados das administrações "brancas" e não mais
querendo que seus direitos sejam
defendidos apenas por porta-vozes, uma nova geração de índios,
aos poucos, está ingressando na
vida político-partidária. Eles querem ser os "donos" do poder local
para que seus "parentes" indígenas possam participar ativamente
na tomada de decisões.
São pré-candidatos a prefeito o
xacriabá João Nunes de Oliveira,
28, no município de São João das
Missões (MG), e o pataxó hã-hã-hãe Agnaldo Francisco dos Santos, 36, em Pau Brasil (BA).
Índios também devem ser candidatos a prefeito em São Gabriel
da Cachoeira (AM) -que concentra 20 povos indígenas, formando cerca de 90% da população local- e em Uiramutã (RR).
Em 2000, de acordo com o Cimi
(Conselho Indigenista Missionário), vinculado à Igreja Católica,
apenas um índio se elegeu prefeito no país. Foi em Baía da Traição
(PB). A Funai (Fundação Nacional do Índio) considera que dois
foram eleitos prefeitos naquele
ano, por incluir também a prefeita
de Uiramutã (leia texto abaixo).
A nova geração indígena é caracterizada por ter emergido das
salas de aula indígenas.
João Nunes formou-se professor e é diretor de escola indígena.
Comanda 13 das 29 unidades escolares na reserva dos xacriabá.
Agnaldo foi o primeiro índio de
Pau Brasil, no sul da Bahia, a estudar. Concluiu o ensino médio e o
curso técnico de enfermagem.
Em 2000, Agnaldo debutou na
política e foi eleito vereador. Descobriu então a "necessidade de os
índios ocuparem seu espaço" na
vida pública. Ao chegar à Câmara
Municipal de Pau Brasil, não teve
o direito de discursar em plenário. "Para poder exercer o meu direito de falar, tive que ir à Justiça e
obter um mandado de segurança.
Só assim pude fazer os meus discursos. Isso mostra que o preconceito ainda é grande", disse.
João Nunes teve outra experiência. Desde a emancipação, em dezembro de 1995, de São João das
Missões, município pobre na carente região norte de Minas, os
xacriabá se aliaram aos políticos
locais e garantiram os dois mandatos do atual prefeito, Ivan Correia (PDT). Nessa composição
política, os índios indicaram o vice-prefeito.
O cacique Rodrigo Oliveira, o
Rodrigão, morreu doente, aos 63
anos, há um ano.
"O que a gente percebeu durante esse tempo todo é que o nosso
povo só foi usado, sempre foi discriminado. Agora chegou o momento de lutar pelo nosso povo",
afirmou João Nunes, que, com
outros índios xacriabá, fundou e
comanda a comissão provisória
do PT na cidade mineira.
Um dado significativo difere
Pau Brasil de São João das Missões. No segundo, os xacriabá são
63% da população de 10,2 mil habitantes e ao menos 48% do eleitorado local (cálculo sobre dados
de 2003), o que dá boas chances
ao candidato indígena, se o povo
xacriabá se mantiver unido.
Isso porque Correia tentará eleger seu sucessor de novo com um
xacriabá como vice na chapa, procurando, assim, dividir os índios..
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