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CONVENÇÃO PL
Convenção do PL deve confirmar José Alencar, senador mineiro e empresário, como vice na chapa de Lula
Partido ratifica hoje casamento com PT
LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao aprovar oficialmente hoje a
coligação com o PT e indicar o senador José Alencar (MG) para vice de Luiz Inácio Lula da Silva, a
convenção nacional do PL transformará em casamento um namoro de cerca de um ano.
O casamento será por interesse
eleitoral. Lula quer Alencar em
sua chapa para sinalizar que o PT
abandonou o radicalismo político
e para abrir um canal de negociações com o empresariado.
Dono do grupo Coteminas, do
ramo da indústria têxtil, o senador mineiro foi vice-presidente da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria) e presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais. Alencar também deverá
atrair contribuições de grandes
empresas para o PT.
Esses atrativos fizeram o PT
desconsiderar as características
de partido conservador próprias
do PL. Seis dos 22 deputados do
PL são membros da Igreja Universal. O deputado Luiz Antonio
Medeiros (PL-SP) criou a Força
Sindical, central que faz oposição
à CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT.
A direção nacional do PL vê na
aliança o caminho mais rápido
para chegar ao poder e consolidar
o partido. O presidente nacional
do PL, Valdemar Costa Neto (SP),
principal articulador da coligação, também deseja uma desforra
com o presidente Fernando Henrique Cardoso, que alijou o partido do seu governo.
Costa Neto, que tem o controle
da máquina partidária, jogou tudo na aliança. Mas deixou uma
porta aberta. A reunião de hoje
vai delegar poderes à Executiva
Nacional, que poderá fazer alterações no acordo até o dia 30, quando termina o prazo legal para a
realização das convenções.
A Executiva poderá, por exemplo, retirar a indicação de Alencar
para vice. Isso viabilizaria a indicação de um vice do PSB, no caso
de retirada da candidatura de Anthony Garotinho. Mas o que Costa Neto mais teme é que a direção
do PT não cumpra o acordo de
pressionar o partido para fechar
acordos que acomodem deputados do PL nos Estados.
Até sexta-feira, o presidente do
PL ainda encontrava dificuldades
para fechar acordos regionais em
13 Estados. Em outros sete está
decidido que não haverá coligação entre os dois partidos, mas isso não será problema. Cada um
terá a sua própria chapa.
Em São Paulo, o PL se coligou
com o PPB e apoiará Paulo Maluf
na eleição para o governo do Estado. No Distrito Federal, mesmo
sem fechar coligação formal, o PL
vai apoiar o governador Joaquim
Roriz (PMDB), inimigo do PT.
Namoro
O assédio do PL ao PT começou no dia 12 de junho do ano passado. Costa Neto pediu para o então líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), agendar uma reunião de Lula com a bancada do PL. "Se o Lula não topar, não divulga, porque vai ficar mal para o PL", recomendou Costa Neto.
Uma semana depois, Pinheiro
deu a resposta: "O Lula topou a
parada". Lula se reuniu com a
bancada do PL no dia 27 de junho.
Encantou a todos.
No mesmo dia, líderes do PT e
do PL participaram da "marcha
contra o apagão" em Brasília.
Vaiado pelos 50 mil manifestantes, Costa Neto teve o apoio do
presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), que ficou
ao seu lado no palanque. As negociações prosseguiram. Em setembro, o PL passou a assediar José
Alencar, que decidira deixar o
PMDB. Após três reuniões, o senador se mantinha indeciso.
Na semana que antecedeu o
prazo final de filiação partidária
(6 de outubro), Costa Neto soube
que Lula, Dirceu e o deputado José Genoino (PT-SP) teriam um
encontro com José Alencar. O
presidente do PL argumentou
que o senador não ingressaria no
PT, mas poderia ser um aliado se
fosse para o PL.
"Peçam para o Lula incentivar o
senador a entrar no PL. Ele não
vai para um partido de esquerda.
Mas, se ele for para o PL, poderá
apoiar o Lula para presidente", recomendou Costa Neto.
No dia seguinte, o presidente do
PL tomou café da manhã com José Alencar no Hotel Nacional, onde acontece a convenção do partido hoje, acompanhado dos deputados Luiz Antônio de Medeiros
(SP) e Bispo Rodrigues (RJ). "O
Lula falou muito bem de vocês.
Estou indo para Minas. Vou consultar o meu pessoal e dou uma
resposta no sábado", comentou o
senador. Costa Neto comentou
com os colegas. "Bispo, você não
bebe. Mas eu e o Medeiros vamos
tomar um champanhe no sábado." Alencar ingressou no PL.
Verticalização
As negociações entre o PT e o PL
avançaram e geraram críticas a
Lula. "Apoio e voto não se rejeitam", respondeu Pinheiro, evangélico ligado à Igreja Batista. Dirceu também bancou a aliança.
O namoro quase foi rompido
em fevereiro deste ano, quando o
TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
aprovou a verticalização das coligações, impedindo que os partidos fechassem nos Estados alianças deferentes daquelas para a
eleição presidencial.
Mas as relações entre os dois
partidos foram retomadas em
março, apesar das dificuldades
que encontravam para fechar
alianças regionais.
Em abril, o namoro virou noivado. Alencar posava cada vez mais
como vice de Lula. Costa Neto intensificou os encontros com a
bancada, mas descobriu obstáculos intransponíveis à aliança. Na
última terça-feira, os presidentes
do PL e do PT chegaram a desistir
da coligação formal, mas a intervenção de Lula e Alencar impôs
aos dois partidos um casamento
forçado. A cerimônia será hoje, às
10h30, no Hotel Nacional, em Brasília.
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