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RUMO ÀS ELEIÇÕES
35% dos eleitores do candidato petista pretendem votar no pepebista para governador de São Paulo
Eleitor paulista cria chapa Lula-Maluf
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Paulo Maluf (PPB) sempre trafegaram em campos ideológicos diametralmente opostos, mas
nesta eleição os dois participam
de uma "chapa" insólita detectada pelo Datafolha em São Paulo.
Nada menos que 35% dos eleitores que têm a intenção de votar
em Lula para presidente da República dizem que vão escolher Maluf para governador.
Segundo pesquisa do Datafolha
realizada em 14 de maio com
1.552 entrevistados, Maluf é o preferido dos eleitores de Lula. O governador Geraldo Alckmin
(PSDB) vem em segundo lugar,
com 24% das intenções de voto
dos partidários de Lula, e o pré-candidato do PT, José Genoino,
só aparece em terceiro, com 13%.
Essa preferência do eleitor de
Lula por Maluf pode aumentar se
a estratégia do pepebista der resultado. Anteontem, o ex-prefeito
anunciou aliança com o PL, partido que deve ratificar hoje coligação com o PT de Lula.
A Folha conversou com quatro
eleitores da "chapa" Lula-Maluf.
Eis seus argumentos.
O casal Nilma, 46, e Nilton Prado, 54 -ela dona-de-casa, ele,
matemático aposentado- identificam em Maluf o "tocador de
obras" e o "administrador competente" de que "São Paulo precisa". Nilma diz que Lula "merece
uma chance para provar que é
competente e que não é corrupto". Seu marido vê no petista alguém que "vai enfrentar o FMI e
George Bush, que quer transformar a América Latina em quintal
dos EUA através da Alca".
Sobre as divergências ideológicas entre eles, ele diz: "Se os próprios políticos brasileiros não têm
consciência ideológica, como exigir que nós eleitores tenhamos?".
O advogado André Amaral, 58,
também votará nos dois. "O Maluf é meio autoritário e prepotente, mas é um administrador competente, inclusive para cuidar da
questão da segurança. Quanto ao
Lula, acho que ele pode mudar esse quadro que está aí. Afinal, o
país foi vendido por um preço mixo para os bancos por culpa do
Fernando Henrique". Assim como o casal Prado, Amaral votou
em FHC na última eleição.
A balconista Jovelina de Souza,
26, votou em Lula em 98, escolha
que vai repetir neste ano. Para governador, porém, diz que votará
em Maluf e não no pré-candidato
do PT. "Eu votei na Marta e olha
só como está a cidade. Se o desemprego diminuir um pouco
com o Maluf, já é vantagem."
Essa visão do mundo político
não deve causar estranheza, afirma o cientista político Fábio
Wanderley Reis. "A consciência
política não é perfeita. É um equívoco e uma pretensão querer detectar na massa do eleitorado a visão ideológica do mundo político
das pessoas mais sofisticadas."
"O Maluf tem penetração na
classe média, e Lula nesse quadro
é uma coisa nova, que ocorre talvez por conta de suas posições
contra a corrupção", afirma o
professor da Universidade Federal de Minas Gerais.
Para a socióloga Maria Victoria
Benevides, da USP, essa contradição ideológica é típica de "uma
classe média amedrontada e que
tem pânico de se proletarizar, de
perder status. Para essas pessoas,
Maluf é o que faz, apesar do desequilíbrio social que causa. E Lula é
o novidadeiro, o voto de protesto
de quem foi penalizado por
FHC." Quanto aos eleitores menos instruídos, a socióloga afirma
que provavelmente escolhem Lula porque "querem que as coisas
mudem" e Maluf, por causa do "pavor à criminalidade".
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