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Naji Nahas recebeu mala de dinheiro, diz acusado na Itália
Recursos seriam "para resolver questões" da Telecom Italia; investidor não foi localizado
Italiano está entre os 34 denunciados pelo Ministério Público de Milão por ter investigado pessoas em prol dos interesses da empresa
LEONARDO SOUZA
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ex-chefe mundial da equipe
de inteligência da TI (Telecom
Italia) Giuliano Tavaroli disse,
em depoimento ao Ministério
Público de Milão ao qual a Folha teve acesso, que o investidor Naji Nahas recebeu uma
valise com milhões de dólares
para resolver questões da empresa no Brasil.
Apesar de não usar o termo
corrupção, segundo Tavaroli, o
dinheiro era para pagar propina no Brasil. "O fato é que para
essa prestação o hábil Nahas
-além da valise "viajante'- recebe 25 milhões sem um reles
suporte documental da atividade desenvolvida", disse.
Ele está entre os 34 denunciados anteontem pelo Ministério Público de Milão por bisbilhotar ilegalmente pessoas
na Itália e no exterior em defesa dos interesses da empresa,
inclusive no Brasil. Os documentos obtidos pela Folha embasaram a acusação feita pelo
Ministério Público.
Em entrevista em janeiro sobre o tema, Nahas sustentou
que nunca pagou propina e que
o dinheiro que ganhou foi legal.
Ontem, ele não foi localizado.
Nahas foi escalado pelo ex-controlador da TI Marco Tronchetti Provera para fechar um
acordo com o banqueiro Daniel
Dantas que selasse a saída do
Opportunity do comando da
BrT (Brasil Telecom). "Para
negociar com bandido, é preciso um bandido", disse Tavaroli,
resumindo explicação de Provera para contratar Nahas.
Ministro
Tavaroli conta ter ouvido de
outro dirigente da TI, Marco
Bonera, que o dinheiro entregue a Nahas seria usado para
pagar congressistas de comissão parlamentar no Brasil. Não
cita nomes. Ele insinua também que o ministro da Fazenda
brasileiro poderia ser um dos
beneficiários do dinheiro.
Ao todo, Nahas recebeu
25,473 milhões da TI, de 2002
a 2006, segundo o Ministério
Público de Milão. Como Tavaroli não menciona nome nem
governo, não é possível saber a
que ministro ele se referia.
"A consultoria de Nahas não
está documentada em nenhum
"report", pelo que eu saiba e posso dizer, porém, que Naji Nahas
era conhecido por suas ligações
com órgãos institucionais como o ministro das Finanças
[Fazenda] brasileiro. Bonera
me disse que a remuneração
milionária paga a Naji Nahas
serviu, em parte, para assoldadar uma comissão parlamentar", disse Tavaroli.
Segundo a revista italiana
"Panorama", de acordo com os
depoimentos prestados ao Ministério Público de Milão, a TI
teria pago US$ 300 mil à Comissão de Ciência e Tecnologia
da Câmara. Segundo a revista, o
dinheiro seria pagamento para
garantir a aprovação de freqüências para a Telecom Italia.
Tavaroli contou a procuradores italianos sua versão para a
guerra de espionagem montada
pela TI para enfrentar Dantas
no Brasil e a agência de investigação Kroll, contratada pela
BrT na gestão do Opportunity.
Segundo Tavaroli, em 2002 a
TI descobriu que era espionada
por agentes da Kroll contratados a mando de Dantas. A TI,
então, estruturou uma rede internacional de contra-inteligência. De acordo com Tavaroli, hackers russos contratados
pela TI invadiram a rede de
computadores da Kroll.
Tavaroli contou um episódio
em que um membro da equipe
de investigação da TI descobriu
no quarto de hotel no Brasil em
que o agente da Kroll Bill Goodall estava hospedado uma maleta modelo BTS contendo
equipamento para interceptação de aparelhos celulares.
Dantas e a Kroll foram alvos da
Operação Chacal, da Polícia Federal, por espionar autoridades
brasileiras.
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