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ANÁLISE
Estilos conflitantes do PFL vêm à tona com crise
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A crise entre os senadores Jorge
Bornhausen (SC) e Antonio Carlos Magalhães (BA), na semana
passada, foi oportuna para o PT,
porque ajudou a diluir as trapalhadas do governo, mas não teve
nada de nova. Ao contrário, foi
apenas mais uma e resultado da
própria origem e dos estilos conflitantes do PFL.
Bornhausen e um grupo de parlamentares dissidentes do então
PDS articularam e fundaram o
PFL em 24 de janeiro de 1985.
ACM fez um vôo solo de rompimento com o regime militar, não
teve nada a ver com a criação do
partido e só aderiu a ele um ano
depois, em 4 de janeiro de 1986.
Aliás, por falta de opções.
Mas, se o grupo de Bornhausen
sempre teve o comando formal e
programático do partido, ACM
manteve um poder mais concreto: o controle da Bahia e sólidos
votos no Congresso. Bornhausen
é homem de articulação política, e
ACM, de palanques e votos.
Enquanto o primeiro sempre
tentou ter uma atuação mais estratégica no Congresso, ACM preferiu e prefere uma ação tática.
Bornhausen, por exemplo, liderou a votação maciça da quebra
dos monopólios estatais e nas reformas privatizantes do governo
Fernando Henrique Cardoso e
agora sustenta a oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Interesses baianos
ACM age e arregimenta votos
de acordo com interesses mais diretos da Bahia. Ora pode ser a favor do governo Lula, ora contra. E
tem canal direto com o chefe da
Casa Civil, José Dirceu.
O elo de ACM tanto com Bornhausen quanto com Fernando
Henrique Cardoso era o deputado Luís Eduardo Magalhães, seu
filho morto em 1998. Depois disso, o velho senador, agora aos 76
anos, rompeu com o governo
FHC em 2001, acabou com o mito
da "unidade" do PFL e envolveu-se em escândalos.
Por personalidade, estilo e força
individual, ele sempre atuou sozinho. Ou melhor, dando as ordens
ao seu exército baiano, que começou a registrar defecções depois
da morte Luís Eduardo e principalmente depois da renúncia ao
mandato sob denúncia de violação dos votos secretos no Senado
e, agora, de suspeita de grampos
na Bahia.
Imagem do partido
Como presidente do PFL, Bornhausen usa o desgaste de ACM
como dado real e como pretexto
para excluí-lo dos programas e
comerciais partidários veiculados
na TV. Poderia "comprometer a
imagem do partido". É o pano de
fundo para a atual crise.
Se ACM age na base do "manda
quem pode, obedece quem tem
juízo", Bornhausen é homem de
colegiado e tem maioria na Executiva do PFL. Seus principais
aliados são o vice-presidente do
partido e agora presidente interino, José Jorge (PE), e o líder no Senado, José Agripino Maia (RN),
mas ele ganha apoios na Bahia, inclusive do pivô da atual crise com
ACM: o líder na Câmara, José
Carlos Aleluia.
Se nunca pôde disputar espaço
na Bahia com Luís Eduardo, Aleluia não aceita não poder disputar
também com o neto de ACM, Antonio Carlos Magalhães Neto, jovem deputado federal em primeiro mandato. A resistência surgiu
no site do partido nacional, que
publicou entrevista de Aleluia a
um jornal concorrente do de
ACM, com o título: "ACM Neto
ainda tem que aprender".
ACM acusou Bornhausen de
"estar roubando o partido" para
favorecer facções, e Bornhausen
reagiu pedindo a expulsão dele,
que sempre foi útil por ter votos e
também um problema, por vincular o PFL ao mandonismo, ao
caciquismo, ao fisiologismo.
Um precisava de sigla, o outro,
de votos. Agora, Bornhausen revela que ACM ameaçou lhe dar
uma bofetada. Depois de quase 20
anos de uma convivência forçada
e de conveniência, esse casamento foi quase liquidado na semana
que passou. Mas a retratação de
ACM por meio de carta evitou
que chegasse às vias de fato.
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