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DIRETAS-JÁ - 20 ANOS
"Democracia resiste à estagnação"
DA REPORTAGEM LOCAL
O movimento das diretas-já alicerçou a democracia brasileira em
bases tão profundas que a faz resistir até a 20 anos de estagnação
econômica, analisa o sociólogo
Francisco Weffort, 66.
Autor de "Qual Democracia?",
livro de 1992 no qual analisa as democracias surgidas na América
Latina após a falência dos regimes
autoritários, Weffort participou
da campanha das diretas como o
número 2 do PT e aceitou, no final
de 1994, ser ministro da Cultura
de Fernando Henrique Cardoso.
Weffort, hoje decano do Iepes
(Instituto de Estudos Políticos e
Sociais), falou à Folha sobre as diretas e sobre o governo Lula, que
para ele, reforça a idéia de que a
esquerda aprendeu a ganhar eleições, mas não a administrar.
(PLÍNIO FRAGA)
Folha - Qual a importância história da campanha das diretas-já?
Francisco Weffort - O movimento pela Constituinte e pelas diretas
resultou na grande bandeira da
afirmação da democracia política
de uma maneira que não acredito
que tenha havido em outra época.
Fincou a democracia em bases tão
profundas capazes de resistir a 20
anos de estagnação econômica.
Por mais que haja problemas na
sociedade, ela é democrática.
Folha - As diretas-já foram responsáveis pela inclusão dos movimentos sociais na política?
Weffort - Não pela inclusão dos
movimentos sociais, mas da sociedade civil organizada. Foi uma
espécie de desaguar para o crescimento da participação da sociedade civil na política. Foi uma
tendência embrionária do crescimento dos movimentos sociais na
política, mas eles corriam por linhas próprias, apesar de alguns líderes terem participação política.
Folha - O PT errou ao não participar do colégio eleitoral que elegeu
Tancredo Neves após a derrota da
emenda das diretas-já?
Weffort - Criticar o PT por não
ter aceitado o colégio eleitoral é
um anacronismo. Não podia aceitar, porque, se tivesse naquele
momento qualquer flexibilidade,
abertura, seria engolido. Era um
momento de ambiguidade, porque de rigidez do movimento social para garantir um mínimo de
individualidade política. A rigidez
não era obtusa. Tinha sentido. Lula mandou um telegrama de congratulações a Tancredo, que o recebeu na Granja do Torto, junto
comigo, Jacob Bittar e Djalma
Bom. Lula fez esse gesto político.
Folha - Como vê o governo Lula?
Weffort - Quanto ao aspecto democrático, só a possibilidade de
Lula se candidatar, vencer, governar e fazer alianças já mostra um
ganho extraordinário. Do ponto
de vista da cultura política, é bom
porque acaba com certo messianismo, sebastianismo da política.
Porque se descobre que não dá
para fazer milagres, o que é um
benefício para a democracia.
Na minha visão, Lula tem obtido êxito com as reformas. Apesar
de não ser a que ele quer, a que
nós queremos, mas tem obtido
êxito na reforma possível. A condução da política econômica também tem sido competente.
A meu ver, o governo tem tido
problemas de gestão. Aparecem
sinais disso, por exemplo, quando
a execução orçamentária só atinge 8% do previsto. Se o dinheiro já
é pouco e não se investe nem o
que pode....O [filósofo italiano
Norberto] Bobbio escreveu que a
esquerda aprendeu a ganhar a
eleição, mas não a governar.
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