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Multinacionais apóiam projeto de integração
DO COLUNISTA DA FOLHA
Um fator que tende a facilitar o
projeto integracionista é o que
Fernando Sarti, pesquisador da
Unicamp, chama de "convergência de interesses entre o governo e
as empresas", em especial as
grandes multinacionais.
Explica Sarti que as filiais das
empresas estrangeiras e mesmo
algumas firmas nacionais fazem
uma divisão regional do trabalho,
o que lhes dá "forte e crescente
participação na pauta de comércio exterior". Dados do Banco
Central, segundo Sarti, mostram
que 60% a 70% do comércio é intrafirmas. "Procurar agilizar e fortalecer esses fluxos de comércio e
de investimento nada mais é que
sancionar esse padrão", conclui o
pesquisador da Unicamp.
Coincide, ao menos em parte,
com avaliações obtidas pela Folha
em áreas empresariais. Sandra
Rios, por exemplo, especialista
em comércio internacional da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), conta que os setores
exportadores, em particular os industriais, têm manifestado muito
interesse pelos países andinos.
Com certeza eles apoiariam investimentos em infra-estrutura,
um dos três capítulos em que se
desdobra o projeto de integração.
Os outros são: financiamento ao
comércio, tema que divide o empresariado, e montagem de arranjos produtivos regionais, de
forma a dar escala a setores produtivos, não só com vista ao mercado regional, mas também para
exportar para além da região.
Mercado pequeno
Discorda, no entanto, Roberto
Teixeira da Costa, presidente do
escritório paulista do Cebri (Centro Brasileiro de Relações Internacionais) e um dos empresários de
maior quilometragem rodada nas
estradas das discussões globais e
regionais: "Os mercados andinos
são pequenos. Interessam apenas
a nichos de negócios". Cita o caso
da fabricante de carrocerias Marcopolo, que já ocupa, há anos, posição relevante nesse mercado e
também no centro-americano.
Igualmente cético é Alfredo Valladão, responsável pela cátedra
Mercosul da Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris:
"Não é o mercado andino que vai
mudar a face do comércio exterior brasileiro".
Obstáculo à integração tão ou
talvez mais importante do que o
pequeno tamanho do mercado
andino é a carência de infra-estrutura física. Para começar a enfrentá-la, o BNDES reuniu, no Rio, há
três semanas, representantes de
12 países, que listaram, cada um,
seus dois projetos prioritários.
No total, custarão entre US$ 4,5
bilhões e US$ 5 bilhões, financiados parcialmente (entre 40% e
70%) pelo próprio banco brasileiro e também pela CAF (Corporação Andina de Fomento, uma espécie de BNDES dos Andes).
Se der certo, começa a ser superado o obstáculo apontado por
Brad Setser, o pesquisador norte-americano que faz comparações
entre a integração européia e a
sul-americana: "Os Andes e a região amazônica são um fator de
divisão muito maior do que qualquer coisa que a Europa tenha enfrentado".
(CLÓVIS ROSSI)
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