|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SÃO PAULO
Até adversários de Marta admitem avanços em ônibus e lotações, mas congestionamentos continuam a penalizar paulistano
Transporte público melhor não desafoga trânsito
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Até adversários de Marta Suplicy (PT) reconhecem que a vida
da maioria dos paulistanos que se
desloca de ônibus em São Paulo
melhorou devido à construção de
novos corredores exclusivos, à
implantação do bilhete único e à
renovação da frota.
Mas as vantagens em relação à
situação do transporte coletivo
deixada por Pitta ficaram aquém
das promessas, estão longe de significar ausência de problemas e
ampliaram os resultados negativos de outra área: a do trânsito.
A melhoria nos ônibus e lotações é reflexo do montante de investimentos no setor: R$ 1 bilhão
desde 2001, incluindo os oito corredores à esquerda batizados de
Passa Rápido (97 km) e que reduziram a duração das viagens.
As pistas exclusivas ao transporte coletivo são defendidas por
especialistas há mais de duas décadas. Embora receba os méritos
de ter posto em prática essas
obras em maior escala, são diversas as ressalvas ao trabalho da gestão petista: a promessa era finalizar 2004 com 400 km de vias ao
menos preferenciais para os ônibus, número que não chegará a
250 km; as obras ficaram concentradas no último ano de governo;
e, na correria, não houve preocupação com a segurança dos pedestres, elevando os riscos de
atropelamento nos corredores.
"Os corredores realmente são
uma boa. Mas não me parece que
os esforços tenham resultado em
benefícios na mesma proporção",
avalia Luiz Célio Bottura, ex-presidente da
Dersa.
A prioridade dada à circulação dos
ônibus chega
a ter maior
aprovação
dos técnicos
que a própria
implantação
do bilhete
único -cuja
visibilidade
eleitoral é
maior.
O cartão
magnético
que permite
baldeações livres por até
duas horas
-pagando
R$ 1,70-
também tem
boa aceitação,
mas é alvo de
dois tipos de
preocupação. "As contas ainda
não estão claras", afirma Claudio
Barbieri, da Escola Politécnica da
USP, referindo-se à sustentabilidade econômica do benefício.
Laurindo Junqueira, ex-secretário dos Transportes de Campinas
e Santos, teme que ele incentive as
pessoas a morar longe do trabalho, em vez de haver ações que
aproximem os centros de comércio e serviços da população.
Empresários
A assinatura de novos contratos
com os operadores do transporte
coletivo também elevou os investimentos de viações e perueiros
-que compraram 8.632 veículos
zero-quilômetro, de uma frota
de 15 mil.
O investimento privado, entretanto, foi
acompanhado
de concessões
da prefeitura às
reivindicações
desses setores.
As linhas que
lhes davam mais
prejuízo foram
eliminadas
-prejudicando
passageiros. A
frota das viações
foi reduzida em
20%. E 11 mil
motoristas e cobradores -de
50 mil- foram
demitidos.
Resultado:
ônibus mais novos e rápidos
mas também
15% mais cheios em relação a
2000. Como havia ociosidade,
ainda não houve grande impacto
no conforto. Mas preocupa.
Na lista de concessões aos operadores está ainda a alta da tarifa
7% acima da inflação e a volta dos
subsídios -que, mesmo defendido por especialistas, são também
uma bandeira empresarial.
A prefeita Marta Suplicy também costuma eleger como um de
seus trunfos "ter acabado com a
máfia do transporte" -referência a empresários que se articulavam com sindicalistas para fazer
greves, como forma de pressão.
Embora não haja paralisações
há mais de um ano, essa trégua é
apenas momentânea. Trata-se de
um mito: empresários e sindicalistas não foram trocados, são os
mesmos acusados por essas práticas em anos anteriores.
Trânsito pior
O fracasso do Fura-Fila é citado
de forma quase unânime por especialistas. O projeto já custou
mais de R$ 300 milhões e não saiu
do papel. Sua construção virou
símbolo da piora do trânsito na
gestão Marta, já que, enquanto ela
ficava parada, as vias permaneciam bloqueadas aos carros. Sinal
de falta de planejamento, crítica
também feita pela concentração
de obras num ano eleitoral.
Parte da piora na circulação pode até ser atribuída à elevação da
frota e ao descaso do Estado na
fiscalização do trânsito -com a
desativação do CPTran (Comando de Policiamento de Trânsito),
facilitando que carros velhos e irregulares estivessem nas ruas.
Parte pode ainda ser justificada
pela prioridade aos coletivos.
Mas também ficou evidente a
falta de investimentos. A CET sofreu cortes em seus gastos e, em
2003, seu Orçamento representava somente 60% da arrecadação
com multas. Não houve gastos
com semáforos inteligentes e, sem
manutenção, mais de metade das
câmeras ficaram desativadas.
"Eu sou a favor de priorizar os
ônibus. Mas não dá para ignorar
quem anda de carro", afirma Jaime Waisman, da USP. A tentativa
de Marta de compensar os prejuízos aos autos com túneis sob a Faria Lima se tornou um tiro no pé.
"Foi dinheiro jogado no lixo", diz
Horácio Augusto Figueira.
Texto Anterior: Porto Alegre: Capital gaúcha vive dia de confrontos Próximo Texto: "Prefeitura priorizou Passa Rápido'" Índice
|