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ECOS DO REGIME
Ministro José Viegas e comandante Francisco Albuquerque devem trocar atuais funções por cargos no exterior
Nota agrava crise entre Defesa e Exército
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A principal seqüela da nota em
que o Exército enalteceu a ditadura militar e defendeu as estruturas
de repressão é o agravamento da
crise entre o Ministério da Defesa
e o Comando do Exército, que se
arrasta há meses. Tanto o ministro José Viegas quanto o comandante Francisco Albuquerque devem ser trocados no fim do ano.
Conforme a Folha apurou, Viegas pode ser nomeado para uma
embaixada na Europa e Albuquerque teria uma compensação
também no exterior. O episódio,
porém, afastou a hipótese de remanejamento de Aldo Rebelo do
Ministério da Coordenação Política para a Defesa.
A divulgação de fotos dos arquivos da ditadura mostraram ao governo que "a ferida ainda é recente" e que Rebelo poderia até ser
bom ministro nos momentos de
calma e rotina, mas ficaria em situação delicada durante uma
eventual crise como a de agora.
Ele é deputado do PC do B (Partido Comunista do Brasil) e estaria
comandando o inimigo de poucas décadas atrás.
As duas embaixadas lembradas
para Viegas (diplomata de carreira) são as de Roma e de Paris, ocupadas pelo ex-presidente Itamar
Franco e Sergio Amaral, porta-voz do governo Fernando Henrique Cardoso.
As vagas que estariam em estudo para Albuquerque são a de
conselheiro militar da missão
brasileira na ONU (Organização
das Nações Unidas) ou de chefe
do Gabinete de Segurança Institucional, vinculado ao presidente.
Há, porém, complicadores.
O atual conselheiro na ONU é o
brigadeiro Reginaldo dos Santos,
nomeado em 2003 por dois anos
-até agosto de 2005. Respeitado
o rodízio entre as Forças, seu
substituto será do Exército, mas é
improvável que Albuquerque fique até lá no comando.
Lances da crise
A polêmica nota do Exército foi
publicada no domingo passado e
Viegas, com Lula e Dirceu, operou para haver retratação pública.
O recuo veio dois dias depois, em
nova nota, desta vez assinada por
Albuquerque, que fala no "poder
da democracia brasileira". Na semana passada, o Alto Comando
do Exército reuniu-se e respaldou
a posição de Albuquerque.
A primeira nota e a retratação
pública mantêm e agravam o clima de tensão. Em abril, por exemplo, Viegas enviou mensagem aos
três comandos -Exército, Marinha e Aeronáutica- desautorizando "manifestações isoladas"
contra os baixos soldos.
Mais adiante, a Defesa vislumbrou a participação do Exército
em reportagens sobre o ministro
e sobre a contratação da empresa
de consultoria de um amigo para
analisar a reengenharia das três
Forças. A reação da Aeronáutica e
da Marinha também foi considerada mais "solidária".
Outra queda-de-braço ocorreu
quando os assessores parlamentares do Exército passaram a agir
em sentido oposto à orientação
da Defesa e do próprio Planalto
em relação ao projeto de desarmamento. O governo era a favor,
e a Força atuava contra.
Viegas chamou Albuquerque a
seu gabinete e pediu explicações.
A resposta foi que aquilo não se
repetiria. Curiosamente, o comandante aumentou a patente do
assessor: trocou um coronel pelo
general Rubem Peixoto Alexandre. Na Defesa, a mudança foi recebida como sinal de confronto.
Os dois lados têm aliados fortes
no governo. Lula faz elogios públicos à lealdade do ministro, a
quem conheceu no final dos anos
80, quando Viegas ainda era um
jovem diplomata, servia em Cuba
e se declarava simpatizante do PT.
Além disso, Viegas é interlocutor praticamente diário do ministro José Dirceu (Casa Civil)
-com quem acerta o pacote das
empresas aéreas, os principais
acordos e contratos militares e todos os seus passos políticos na
condução da Defesa.
Já Albuquerque tem apoio firme tanto do ministro Luiz Gushiken (Comunicação) quanto do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).
Partidários dos dois lados garantem que quem cai é o outro: os
de Viegas desconfiam da versão
de que Albuquerque não foi consultado sobre a nota sobre a ditadura, e os de Albuquerque dizem
que o episódio só agravou um
"quadro difícil" para Viegas.
O problema começou com o
surgimento de fotos de arquivo
que foram atribuídas ao jornalista
Vladimir Herzog (morto no Doi-Codi em 1975). A crise foi causada
por nota do Exército, que deixou
dúvida sobre bolsões de resistência militar. Viegas foi acordado no
domingo pelo telefonema de um
assessor que considerou a nota
"explosiva". O ministro chegou a
escrever um texto desautorizando
a nota. Viegas chamou Albuquerque à sua casa e entregou-lhe pessoalmente um ofício questionando a nota e sua divulgação.
Na segunda-feira à tarde, Albuquerque foi pessoalmente ao ministro com uma resposta, incluindo o rascunho de uma nota à imprensa renegando a anterior. Viegas leu, considerou "insuficiente"
e comunicou a Lula e ao general.
O presidente, então, marcou uma
reunião na Base Aérea, na terça-feira, em que ditou trechos da retratação que esperava do general.
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